segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Tsunami legislativo na Educação

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Hoje iniciei, na Escola que me cabe dirigir, reuniões com os Pais para os informar das alterações recentemente introduzidas no Estatuto dos Alunos.
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Isto é assim: existia uma lei, chamada Estatuto do Aluno do Ensino Não Superior, que estava a regular a vida das Escolas desde há meia dúzia de anos. Agora, em Janeiro de 2008, foi publicada uma lei que altera as regras desse Estatuto.
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Por exemplo, os Alunos já não reprovam, se ultrapassarem um limite de faltas injustificadas pré-definido. Agora, desde Janeiro, segundo a lei, os Alunos que atinjam um determinado número de faltas, justificadas ou injustificadas, fazem uma prova de recuperação (um exame ou um teste); se ficarem aprovados, continuam o percurso escolar; se não ficarem aprovados, podem 1 - fazer outra prova; 2 - chumbar e ficar na Escola até ao fim do ano lectivo, se forem Alunos do Básico; 3 - chumbar e ir para casa, sendo que esta última solução só se aplica aos Alunos do Secundário. Os do Básico ficam retidos, mas continuam na Escola, como atrás se disse.
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O interessante é que entra neste processo o Aluno que esteve doente um mês, internado ou de cama, com as suas faltas justificadas, e o Aluno que falta para vadiar, jogar a bola, fumar uns charros ou assaltar pessoas. A lei não os distingue, é (verdadeiramente) cega.
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Foi difícil explicar isso aos Pais que hoje foram à Escola - são, normalmente, os Pais dos Alunos que estudam e pouco ou nada faltam. A não ser por doença, quase sempre grave. Não entenderam que resultado positivo vai sair desta lei, para os seus filhos. Desconfiam, isso sim, que poderão acontecer resultados muito negativos.
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Também não percebem porque fica na Escola um Aluno crescido que falta sistemática e injustificadamente, continuando até ao fim do ano lectivo. Desconfiam, agora com um elevado grau de certeza, que o direito a aprender dos seus filhos vai ser difícil, se não impossível, de concretizar, com aqueles "meninos" a destruir o ambiente de trabalho.
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Ao mesmo tempo que estava a tentar explicar o que é, em muitos casos, inexplicável, nomeadamente o que fazemos a meio do ano lectivo com esta alteração (a ginástica que temos que fazer para operacionalizar isto) recebi a seguinte informação: A Sra. Ministra, nessa altura reunida com os representantes das Escolas (o Conselho das Escolas), terá dito que esta lei, publicada em Janeiro de 2008 para vigorar de imediato (é o que está no seu texto), irá ser suspensa, para ser aplicada só no próximo ano lectivo.
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Se confrontarmos as notícias, que no verão passado nos diziam que a lei (esta das alterações) estava pronta, com a sua publicação a meio do ano, com as acções de implementação que agora temos que desenvolver (por exemplo, convocar os Pais, de urgência, para os esclarecer) e com esta (ainda e só uma possibilidade) da suspensão da sua eficácia, um mês depois de entrar em vigor, até Setembro de 2008, apetece dizer: a seguir a um tsunami legislativo, temos sempre a esperança de ver surgir a bonança do reconhecimento da idiotice, da estupidez e da cretinice dos actos daqueles que fazem e desfazem sem saber o que andam a fazer (uso três termos com alcance similar para que não restem dúvidas sobre o que penso dos seus actos, sublinho, dos seus actos, não dos seus autores, pessoas responsáveis e bem formadas, que não pretendem assumir posturas censuráveis, isso acontece por acidente, quando muito).
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Vamos concluir, antes que descambe: a validade da lei pode ser suspensa, até Setembro. Esse é um acto que "emenda" um outro com aquelas características, embora nos coloque, aos que andam no terreno, numa posição caricata (andamos a alertar os Pais para ... nada, por agora, obrigado). Mas não resolve todos os outros actos com as mesmas "virtudes" que a lei apresenta. Se a lei se mantiver, apenas as difere (a idiotice, a estupidez e a cretinice) para Setembro. Continuam a ser resultados idiotas, estúpidos e cretinos produzidos por quem julga ser possível resolver problemas de falta de assiduidade tratando os cumpridores e os prevaricadores da mesma forma, criando condições para prejudicar objectivamente os que querem aprender e desresponsabilizando os que tudo fazem para destruir a Escola. E não estou a falar (só) dos miúdos!
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Ah, antes que me esqueça. Também pode acontecer que a lei continue a vigorar, sem suspensão nenhuma. Já agora, até será preferível. Quanto mais cedo se tenta aplicar uma ideia idiota, mais rápido se pode acabar com ela.
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5 comentários:

mesjag disse...

Fantástico não é?
Olha, para que não sejas só tu a ficar triste, convido-te a ler o que aqui escrevi no passado mês de Outubro (http://cartasaoportador.blogspot.com/2007/10/machadada-final.html).

pandacruel disse...

O problema disto tudo é que querem fazer-nos acreditar, a todo o custo, que a inteligência se acantona finalmente por sugrágio universal e atinge - em Portugal e em toda a parte em que o raio de acção de quem governa dá sinal - um pico positivo, quase absoluto, em 2006 e em 2007, ou seja, que estamos no «fim da história». E talvez tenham razão: depois isto, é o dilúvio.

Outro assunto: nada de pressas, executivo da minha terra de alojamento e home sweet home, ainad que não pareça (uma cidade sem praça e jardim, e com a margem ribeirinha bem porca e deitada à sorte baixa, é sempre desagradável para quem se distancie amoravelmente dela.
O escesso de zelo em «Fevereiro quente, traz o diabo no ventre» não é bom conselheiro (claro, a intenção é óptima). Em suma: salva-se uma bela postagem do nosso amigo e estalajadeiro SMZ (não vá o diabo tecê-las).

pandacruel disse...

Em devido tempo, resalvo um
ainda,
excesso em vez de escesso
e um
arre porra,
que não largam o osso nem o pobre do cidadão que cumpre ainda que pouco renda, derivado ao caruncho e aos animais de estimação que o distraem do essencial.

Anónimo disse...

Vejam o esmerado carinho deste fulano que convoca os pais para lhes falar do novo estatuto do aluno. Não para os esclarecer mas para lhes destilar veneno, mentira... e os outros é que são "idiotas, estúpidos, cretinos"!!!
E diz o cavalheiro que dirige uma escola!!! Entende-se...

Anónimo disse...

Convocou os pais para lhes falar do novo estatuto do aluno. Não para os esclarecer mas para lhes mentir. "e o burro sou eu?"
Fantástico para quem dirige uma escola!!!
(que só chumbava antes os alunos se o quizesse pois a decisão é e já era da escola)