segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Manuel Hermínio Monteiro

Natal, na província neva...

Ande-se por Portugal de norte a sul, nesta altura, e sentimos logo as marcas do Natal. Pequenos e grandes presépios. Cedros iluminados. Pais Natal de borracha. Ruas enfeitadas e milhares de luzinhas buliçosas e polícromas que nos piscam por detrás das vidraças. O presépio mais conhecido é o de Alenquer. A aldeia mais preparada a preceito é Sande, entre Lamego e a Régua, autodenominada «o presépio da Beira Alta». Nas terras do Norte juntam, ao sabor dominante do bacalhau, o polvo. Come-se por todo o lado filhós, sonhos e rabanadas. (...).

(...). As raparigas organizam a sua festa no princípio do ano, pelos Reis ou pelo São Sebastião. Saem então para o campo para comer um bolo fabricado especialmente para esta ocasião a que chamam o rei. Diz o povo que «saem ao campo para comer o rei».

Monteiro, M. H. (2004). Urzes. Lisboa: O Independente

domingo, 30 de dezembro de 2007

sábado, 29 de dezembro de 2007

Dom Quixote

Ouçam o grande baixo búlgaro Nicolai Ghiaurov (10 minutos)

José Fernando Dias da Silva

«A ideia de que somos livres funda-se no suposto de que, ao decidir, decidimos por vontade livre ainda que condicionados por factores (d)e ordem interna e/ou externa. Embora integrados na Natureza, distanciamo-nos dela, ao contrário, aliás, do que sucede com as demais criaturas que, limitadas ao equipamento genético, não se distinguem do mundo que é o seu. Enquanto o animal é uma sinfonia completa, o Homem é uma sinfonia incompleta: faz-se, humaniza-se, diviniza-se.

Neste processo entronca o mistério da Fé que, enquanto dom de Deus, merece uma resposta livre e séria de quem é concedido. O crente é aquele que vence a dúvida e, se acredita, está certo em acreditar. Porque optou pelo credo, faz dele o paradigma da vida pessoal e intersubjectiva. A questão maior reside em saber se a Fé se pode inserir na racionalidade e perceber o que acontece à razão quando se enquadra a Fé.

A experiência religiosa assemelha-se à experiência estética: a fusão do sensível e do inteligível. Para os cristãos, tornar-se humano é a vocação do próprio Deus: o Deus humanado (sic), para reunir todos os homens de boa vontade. Se o encontro com o Ressuscitado é o desencontro com os ditames da «razão» a integração de Deus no horizonte da história é escândalo da eternidade que se faz humana. Isso é o Natal! ».



Estes são fragmentos (de texto) que o Zé Fernando publicou em O Forjanense, em Dezembro de 2003; em Maio seguinte viria a deixar este mundo, já sem ter a oportunidade de assistir à festa que foi o Euro 2004. Sabemos nós lá se ele agora estará em festa (noutra dimensão, evidentemente). Que assim possa ser. Neste Natal. Neste fim de Ano de 2007.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

duetos de sempre

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Stephen Micus

descritores

Estou a exprimir-me em cru, depois do bacalhau e do polvo - o que sobrou foi, hoje, em filetes, partido a meio, longitudinalmente, acompanhado não de batata mas de arroz (não esquecer que foi, é o arroz uma coisa boa, que os indonésios levaram para Timor Leste, nos anos da ocupação). Antropologicamente, o cru e o cozido. Bem cosido, suturado, pronto para «outra senhora» - chegamos a isto; a isto, então, chegados, que fazer?

Posso colocar o pê, tirá-lo, sugerir o parêntesis: é léxico que vai entrar à martelada (o pê não está mal, uta, ita, Ota, oh, como o automatismo mudou logo para maiúscula ao chegar ao ó) – descritor – que descreve,

e ponho-me a pensar:

a) Nas actas das reuniões em que se «dão as notas» - ou vamos acabar com isso?
b) Nas conversas informais, realistas, sobre o ambiente-aula – ou temos de acabar com isso?
c) No corte na casaca aos (dos) chefes, para não dizer aos e às que a nosso lado exibem grandezas e misérias – ou isso termina?
d) Na vontade férrea de dar um murro-pedagógico no móvel inventariado – ou a mobília é fraca, pronta a auto de abate, até já mesmo o dispensando?
e) No ter de querer agradar, que ninguém se destina a desfavorecer-se a si próprio, na Cartuxa encartuchada – pimba, mudou para maiúscula.

Olha: dá-me a chave do loto, para me ir embora, a seguir a outro e outra – vão mudar o hino e a bandeira.

Será? Ser? - a, e, i, o, u - ahahahahahahah... ... ... Francamente, pá.

domingo, 23 de dezembro de 2007

burca

A agenda da educação é, para alguns – poucos, mas com poder – o apanhar das migalhas que, remetendo o vector principal para a condição de alfarrábio inusitado, para não dizer para a saca dos farrapos que dão sempre jeito, que mais não seja para a fuligem da chaminé destes dias, mais não dão do que a ponta do icebergue, que é como quem diz: contentai-vos, pobres diabos, que nem estrangeirados sois.
Então não é que vem aí outra puta de outra reforma que, ao colocar os bons, afamados e participativos pais das nossas escolas no poder da assembleia de escola (que anda constituinte há uma década), ou talvez os grandes autarcas das centenas de centelhas de belo poder pedagógico local, alguns que já não são putos nenhuns nas lides da caça ao voto e da grande azáfama cacique, mais não faz do que retirar campo de identidade a uma classe profissional que, emborcando constantemente com as fura-greves maridas de médicos, acrescidas dos nobres lutadores que desistiram, mais os que andam sempre à procura e não encontram, os velhotes, pequenotes e gordotes e as que ao espelho dizem: só tenho estômago para me alimentar, não para exibir; uma classe que foi perdendo carisma, que não se veste à altura das suas responsabilidades (o que, na sociedade da imagem, é letal). Chegados a isto, tanto trabalho para nada, tanto lazer para nada. Certo, Salgueiro Maia não foi professor ( a não ser na escola do exército) e os que escrevem as belas páginas da história e das letras lusas são, as mais das vezes, desempregados do Estado. Talvez por isso o enigmático autarca de Vila Nova da Rabona queira dar cabo do que resta em seis meses. Vistas bem as coisas, só temos de exclamar bem alto: O PEDIATRA-MOR AO PODER, DE UMA VEZ POR TODAS. SE É PARA ARRASAR, ENTÃO VENHA O CAMARTELO que, ao passar a linha férrea para as praias do sul, demonstrou que há pequenas utopias em que loucos se enobrecem e regeneram a saúde dos vizinhos pobres de ricos e falhos de elite, desde logo por que a fruta fora do tempo, como todos andamos de olhos bem abertos, já não sai com facilidade.

RABANADAS, PÃO ESCONDIDO E BACALHOADA A VINTE E QUATRO; DAS COUVES, SÓ MESMO OS TOROS. AZEITE. BATATA COZIDA. NADA DE SOPA. Dois dentes de alho. Arroz doce. Vinho de vinte anos (vintage não, por favor, é muito diferente). Alecrim do branco, em box.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Que grande estucha

Esta e aquela gentes não têm emenda (é o norte do mundo, e não parece): quem queira fazer pedagogia a partir do grande tratado ora assinado em Lisboa, há-de vestir a pele de um pobrezinho. Até aqui ainda vou:

- altera-se o tratado fundador, isto é, não se revoga;

- o documento é assinado por uma alteza (Luxemburgo), por um governo de um reino (Suécia), por xis majestades e n presidentes de república;

- as alterações, do tipo horizontal e específico, reportam-se ao preâmbulo, aos princípios, à política interna e à externa, ao modo de funcionamento das instituições, à segurança e à defesa, nomeadamente enquanto deduzidas a partir da política externa.

Sobram perto de trezentas páginas de produto de gabinete(s) de administração, de uma laicidade muito pobre e de uma sacralidade diabólica, remetendo para as calendas o valor que, no eixo positivo, se eleva, a partir da tragédia que a Europa fez o favor de representar no areópago das nações , das tribos, dos povos, desde que a história está escrita.

Não durmas com o rei, na cama da rainha; não vás às cavalitas do (sic) alteza, do governo brilhante ou do presidente eleito por nós, em geral: como todos são gente comprometida, cabe-te seres livre para sempre, ainda que seja nas costas de um (por-ventura) tatuado. Não fugirás a quem , deveras, te enfeitice.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Gestão e Administração Escolar

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Depois da Sra. Ministra o ter anunciado, aos Presidentes dos Conselhos Executivos em reunião recente, ocorrida em Guimarães, eis que o governo, através do Primeiro Ministro, faz o público anúncio da mudança e dos princípios que a orientarão, na gestão das Escolas Públicas.
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3 aspectos serão marcantes (segundo a tutela): o reforço da autonomia, a maior participação da comunidade na gestão e a reserva do cargo de Director (na nova forma de designação para o cargo de principal responsável pelas Escolas) para um Professor.
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Não é nada que não se esperasse. Até será algo comedido, face ao que podia (e se dizia ir) acontecer.
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Há, no entanto, pequenos pormenores (ou pormaiores, como dizia o saudoso Professor José Fernando Silva) que merecem uma apreciação mais cuidada.
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Desde logo, a comunicação prévia aos Conselhos Executivos (CE), com direito a participação em discussão, embora muito limitada. Não deixa de ser coerente. A Ministra tem, nos CE, aliados importantes em tudo o que vem concretizando na Educação, a este nível (Básico e Secundário). Eu sei, sou um deles.
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Depois, a questão da autonomia. É, na minha opinião, um "flop", quiçá uma falácia. A autonomia significa, também, reforço financeiro e liberdade de gestão destes (e de outros) meios. Não há, para já, sinais que a vontade aponte nesse sentido. Nem falo, sequer, da componente pedagógica. Uma tutela que define, através da lei, a percentagem que cabe a componentes da avaliação (30% para a experimental, nas Ciências, e 25% ou 30% para a oralidade, nas Línguas), não está disposta a ceder poder nenhum, por muito que afirme o contrário. Este tipo de decisões não pode ser imposto superiormente. Quando assim acontece, só demonstra a falta de confiança que tem na acção dos organismos locais.
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O alargamento da participação da comunidade tem duas vertentes: pretende o governo entregar responsabilidades às autarquias (mais uma vez, sem o reforço financeiro necessário, por isso recusadas por estas. Dizer, como faz o Ministério, que este processo não avança porque as autarquias querem assumir poderes que cabem às Escolas, é desculpa de mau pagador - e é isto mesmo que interessa, o que não se paga);
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E pretende que, na gestão em concreto, no desempenho das funções da gestão, outros, que não os Professores, participem activamente.
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Devo dizer que não é surpreendente o que se pretende nem muito preocupante, à partida. Não fora as Associações de Pais serem eleitas por 20 ou 20 Pais, nas Assembleias Eleitorais, não fora apenas uma pequena parcela de Pais comparecer na Escola quando chamados (sobretudo nas Secundárias), não fora poucos responderem presente quando a Escola abre as sua portas (mesmo em eventos festivos, em Magustos ou Ceias de Natal, em Saraus ou Festas de Finalistas).
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Posso mesmo afirmar que as próprias autarquias não andam longe desta forma de agir. Estou há ano e meio na gestão duma pequena Escola situada no Grande Porto e o Presidente da Junta, com assento na Assebleia de Escola, nunca compareceu às reuniões. E já se conta cerca de uma dezena delas! Ainda assim, outras pessoas com outras visões e competências são sempre bem vindas à gestão.
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Mas é na figura do Director que a coisa se complica, na minha opinião. Um Conselho Geral escolhe-o, sem que os Professores tenham posição dominante. É bom, que isto de gerir não significa, apenas, concretizar a visão (técnica e parcial) dos profissionais do Ensino. Tem que ser bom. A minha entrada em funções, na Escola onde trabalho, resultou, numa primeira fase, da escolha da Assembleia de Escola, onde os Professores são 4 em 10 membros. Entre vários candidatos, foi escolhido um, em função (espero eu que assim tenha sido!) da qualidade da candidatura. Isso não fez mal nenhum à instituição que, quando chamada a decidir nos moldes tradicionais (comunidade escolar a eleger o Conselho Executivo para um mandato de 3 anos), confirmou aquela primeira decisão. Ou seja, o que se quer fazer, já se vai fazendo, e resulta.
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O que perturba são as pequenas alterações, apenas sussurradas. O Director candidata-se sozinho ... e depois tem escolher a sua equipa na Escola ou na comunidade onde ela está integrada? Não, não, isso é uma limitação e não é nada benigna. Só quem não sabe o que é trabalho de equipa pode defendê-la. Trabalhar com quem não se conhece, com quem "tem que ser", como acontece hoje nos Agrupamentos, é redutor. E faz mal à gestão. Nos Agrupamentos, a equipa tem que ter um Professor do pré-escolar, um do 1º ciclo, 1 do 2º ciclo ... na prática, muitas vezes, isto conduz a uma equipa que "tem que ser", e que não funciona como tal - e isso produz demasiadas "condições adversas"!
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Limitem doutra forma - mas deixem as equipas formarem-se com liberdade, para que trabalhem como devem trabalhar. Que sejam funcionários públicos, ou dos quadros, ou das autarquias, mas não só de alguns destes! Estas coisinhas não são inócuas, não são nada inócuas!
A não ser que se pretenda recuperar a figura do Reitor, se não na designação (pela tutela), pelo menos nos poderes. Ora, o que se vai fazendo, desde 74, mostra que a colegialidade é um sistema com mais virtualidades que desvantagens. Assim sendo, não é, também, nada inócua a mudança. Nem muito compreensível.
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A carreira ter duas categorias hirárquicas foi uma decisão cretina (assim mesmo, com todas as letras). Por desnecessária. Por redutora nos efeitos. Por perturbadora do clima de Escola. Por não criar nada, antes ferir (ou matar) virtualidades relacionais. Pelas mesmas razões, se estamos a recuperar o Reitor, a decisão tem qualificação idêntica. Pelo menos, na minha opinião.
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Para terminar, que isto já vai longo. A gestão democrática das Escolas, sem meios, sem poderes, sem segurança, produziu instituições estáveis, funcionais e saudáveis (sobretudo no cumprimento das regras e financeiramente). A componente pedagógica não funcionou muito bem porque não era (e não é, ainda) gerível. A gestão pouco pode fazer, nesse campo. O Director, sendo Professor, vai continuar a manter a salubridade do sistema. Mas se isto é o abrir de portas para os gestores profissionais avançarem, daqui a uns tempos, preparem-se para notícias muito parecidas com as dos hospitais-empresas que foram publicadas recentemente.
E, depois, não digam que não avisei ...
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domingo, 9 de dezembro de 2007

Insistir, insistir

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Não sei se o JN tem uma política de abertura ou de restrição à reprodução dos seus artigos.
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Duvido que a Autora tenha a segunda.
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Quero crer que me perdoa.
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Retirado do JN Electrónico, hoje, 10 de Dezembro de 2007, pelas 00h00
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Se repetirmos muitas vezes uma ideia, pode ser que ela se instale. E se formos muitos a dizê-lo ...
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Violência nas escolas
Alice Vieira, Escritora
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Li num jornal que a senhora ministra da Educação está contente. E, quando os nossos governantes estão contentes, é como se um sol raiasse nas nossas vidas.
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E está contente porque, segundo afirmou, a violência nas escolas portuguesas, afinal, não existe.
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Ao que parece, andamos todos numa de paz e amor, lá fora é que as coisas tomam proporções assustadoras, os nossos brandos costumes continuam a vingar nos corredores de todas as EB, 2/3, ou como é que as escolas se chamam agora. Tenho muita pena de que os nossos governantes só entrem nas escolas quando previamente se fazem anunciar, com todas as televisões atrás, para que o momento fique na História. É claro que, assim, obrigada, também eu, anda ali tudo alinhado que dá gosto ver, porque o respeitinho pelo Poder é coisa que cai sempre bem no coração de quem nos governa, e que as pessoas gostam de ver em qualquer telejornal.
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Mas bastaria a senhora ministra entrar incógnita em qualquer escola deste país para ver como a realidade é bem diferente daquela que lhe pintaram ou que os estudos (adorava saber como se fazem alguns dos estudos com que diariamente se enchem as páginas dos jornais) proclamam. É claro que não falo daquela violência bruta e directa, estilo filme americano, com tiros, naifadas e o mais que houver.
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Falo de uma violência muito mais perigosa porque mais subtil, mais pela calada, mais insidiosa.
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Uma violência mais "normal". E não há nada pior do que a normalização, do que a banalização da violência.
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Violência é não saberem viver em comunidade, é o safanão, o pontapé e a bofetada como resposta habitual, o palavrão (dos pesados…) como linguagem única, a ameaça constante, o nenhum interesse pelo que se passa dentro da sala, a provocação gratuita ("bata-me, vá lá, não me diga que não é capaz de me bater? Ai que medinho que eu tenho de si…", isto ouvi eu de um aluno quando a pobre da professora apenas lhe perguntou por que tinha chegado tarde…)
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Violência é a demissão dos pais do seu papel de educadores - e depois queixam-se nas reuniões de que "os professores não ensinam nada". Porque, evidentemente, a culpa de tudo é sempre dos professores - que não ensinam, que não trabalham, que não sabem nada, que fazem greves, qualquer dia - querem lá ver? - até fumam…
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Os seus filhos são todos uns anjos de asas brancas e uns génios incompreendidos.
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Cada vez os pais têm menos tempo para os filhos e, por isso, cada vez mais os filhos são educados pelos colegas e pela televisão (pelos jogos, pelos filmes, etc.). Não têm regras, não conhecem limites, simples palavras como "obrigada", "desculpe", "se faz favor" são-lhes mais estranhas do que um discurso em Chinês - e há quem chame a isto liberdade.
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Mas a isto chama-se violência. Aquela que não conta para os estudos "científicos", mas aquela da qual um dia, de repente, rompe a violência a sério.
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E então em estilo filme americano.Com tiros, naifadas e o mais que houver.
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Alice Vieira escreve no JN, quinzenalmente, aos domingos
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Atenção! Não creio que esta violência justifique a intervenção do Senhor Procurador da República - nisso estou ao lado da Ministra. Mas justificará a intervenção da responsável pela Educação no país. Não da forma como o tem feito, é claro. Não sei porquê, sinto arrepios ao pensar no conteúdo do novo Estatuto do Aluno. Espero não ficar com febre, quando o vir publicado. Porque decidi não me antecipar, nem sequer imagino como vai ser ... digo eu!
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como é?

Melodia por nós todos

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Se a gente ainda tivesse os mares...


... iria por aí fora com carregamentos de bolo-rei do grande Porto matar a fome, depois do bacalhau respectivo, a vários continentes em que civis falam português. Porém, do jovem ás dos submarinos (contraditado fortemente, neste Dezembro07, por um fundador do seu (seu-mesmo) partido, de Vila Nova da Rabona, a ave-mulher do gaio)ao menos jovem que não ostenta o apelido (vá-se lá saber porquê), ao ainda homem cuja bela e esbelta mulher de casamento alçou com nome de peixe e poema do falecido marido da também bela Teresa Patrício Gouveia, enfim, desde a nata e a espuma ora alva ora menos alva até aos que no estado-maior estão sentados à varanda, desde aí, se não inclina a nação para o que havia de importar - a não ser para os factos que levaram o conselheiro e muito-amigo de D. Leonor(a) a ser deitado pela janela, já morto pela soldadesca (a frio, francamente) do dito mestre; e para os factos que levaram a nova investida de Castela, com alguns filhos-família portugueses a quererem voltar ao antigo.
E agora pergunto eu: o antigo foi sempre bem destruído ou, pelo contrário, continua a perseguir-nos, colectivamente, a ponto de um prémio Nobel nosso lançar cá para fora a hipótese de se ir em frente pela margem que nunca quisémos trilhar: o aprofundamento de boas relações com o resto da península e com o norte de África, como que fazendo o esconjuro do que se passou nos séculos XV e XVI - eis uma hipótese de lição (da história9 que não vem nos manuais do sase, ou iase, ou lá o que é, nem nos outros.
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(a imagem acima foi picada da net).

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

executive digest

Foi Fayol (1841 – 1925) que colocou a gestão no centro das atenções. Se Taylor castrava, de certo modo, o trabalhador, Fayol, ao identificar seis grupos de actividades – técnicas, comerciais, financeiras, de segurança, de contabilidade e de gestão – abre para camadas em que a emoção pode preencher espaço, sendo que «gerir é prever e planear, organizar, dar ordens, coordenar e controlar» (e gerir estende-se por aquelas áreas).

Para Drucker (nasce em 1909) - que acentua a ideia de privatização e é ultrapassado nisso, rapidamente, pelos executores dessa ideia - o trabalhador qualificado é o que atinge o ponto em que reconhece que depende da empresa mas também que esta depende dele. Isto, só por si, deveria levar o sistema (capitalista) a mudar de vida, ou pelo menos de maneiras.

A FedEx inicia a actividade em 1971 (como este escriba) sob o lema da garantia da distribuição durante a noite ( serviço de transporte aéreo). O seu fundador, o ex-marine que no Vietname combateu pelo sul-ido-do-norte, pretende fazer algo de bom pelo mundo e por si, «depois de ter feito tantas asneiras na vida». Confiança com um sorriso no rosto, diz esse que já viu a morte.

A HBS (Harvard Business School) foi fundada em 1908 (ano do regicídio em Lisboa) e é a primeira marca em escolas de negócios no mundo, já que as três letrinhas associadas a outras três – MBA – acrescentaram, durante muito tempo, um zero à direita na folha de vencimentos de quem por lá passou, mesmo que Drucker vá dizer que nessa escola se combina «o pior da arrogância académica alemã com os piores hábitos seminaristas religiosos americanos».

Nas cervejas há nomes sonantes que, todavia, tiveram de alterar sabores para satisfazer públicos mais alargados, como foi o caso da holandesa heineken para se ver entrar nos pubs ingleses (o caso interessante da melhor cerveja portuguesa, a Tagus, anda agora na berra com o aceno ao público hetero, ao que chegamos).

O debate sobre o conceito de estratégia ganha novo fôlego em Competing for the Future, de Hamel e Prahalad. Partindo do reconhecimento de coletes de forças estreitos e limitadores em que o tema se vem enredando, estes autores sugerem o termo strategizing, remetendo para o equacionamento das pré-condições e exigindo competências nucleares (core competencies) que se hão-de ter de sujeitar, NOS TEMPOS QUE CORREM, a duas fronteiras: a dos arqui-racionalistas que acenam permanentemente com dados e a dos que advogam o prosperar no caos em permanente festa.

(um parêntesis: em Silicon Valley há cem fracassos para cada êxito, o que é muito bom, em investigação, e muito mau em rotinas instrucionistas, diga-se).

Enfim, para os autores do Competing for the Future há, ainda:

- a obsessão empresarial pela anorexia (downsizing);
- as maneiras estúpidas de crescer, assim como de diminuir;
- a vitalidade inflamada por crises;
- o repensar não apenas dos conteúdos mas também dos processos.
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Das Citações de Gestão retiro uma só, da página 196, alterando-lhe ligeiramente a forma, mas não o conteúdo:

Se os seus sonhos se pulverizam, então comece por ter à mão não uma pessoa mas tão só um aspirador._
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(agora, no Natal de 2007, enquanto se espera).

domingo, 25 de novembro de 2007

mais do mesmo

E – Relações com a comunidade

Há um moço (a) que é presidente de câmara, que era delfim do falecido, com experiência e grandeza de vistas: o caso tem de passar por aí. Não que a gente tenha de estar inscrita (à maneira de Gil, sim, sempre); há um moço (a) que se vem dedicando à gestão do desporto, que gosta de fazer da noite dia, um outro que tem um gancho voluntarista na escola dramática (artes cénicas e lazer) e ainda outro que vai por essas «capelas» coordenar (pensa ele), ver se está tudo em ordem (e não se ofereceu ao sis).
No campo da docência há gente que ainda está de pé e já vem do antes da democracia institucionalizada em 1974 (alguns, não todos, acham que só em 1976): para esses, ir com a água ao moinho já não é fácil. Não sabem de bonsai, tão pouco de bombeiro (sem corneta) e, em terra queimada (sempre a mesma coisa, este ano também no Outono), que avalie quem quiser, que eu vou ali e já volto.

SOL NO INVERNO FRESCO NO VERÃO: relaciono-me como vou podendo.
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B1 – Reduzo as taxas de abandono escolar do seguinte modo:

- Está lá? É a mãe do Saturnino? (as mães, as mulheres em geral, continuam a amparar mais que os pais).
- Sim, sou.
- (...).
- A sua filha está a faltar, mas já houve quem na visse por aí, hoje. (Gostam da escola).
- Sim?
- Já deu metade das faltas (a que tem direito), do início até ontem.
- Vou ver o que posso fazer. (O que posso fazer?). Se calhar tenho de deixar de ir trabalhar para a encaminhar para a escola e ir esperá-la à saída-
- Não se preocupa, faremos todos o que pudermos.
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B2 – Melhoro os resultados escolares dizendo na reunião do conselho de turma, humildemente:

- por favor, vamos ver bem isto, não são nossos filhos mas é como se fossem;

- qual é a percentagem daqueles que já têm mais de três repetências, desde que entraram para o 1º ano de escolaridade?

- quantos (as) estão a atingir a maioridade sem o diabo do 9º ano? Para que serve hoje o 9º ano, ou o nível II de aprendizagem? (para tirar a carta, os que nasceram a partir de 1990 a isso são obrigados, se a quiserem);

- há jovens que distribuem pão em veículo motorizado sem para isso estarem habilitados (conheço um que dá 60% desse pecúlio para a farmácia).

A REPÚBLICA DOS JUÍZES É UMA TRETA.
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D – Acções de formação. Ouvi bem? Esta´bem: Se rios de dinheiro já foram gastos, sob essa capa, então é chegada a hora de alguém ir, legitimamente ao nosso bolso (ou fazer estrondo com novos engodos).
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C – Participo na vida da escola do seguinte modo (metaforicamente, claro está):

- Boas Festas a todos (o bacalhau estava bom, o mesmo não posso dizer de cabritinho, que sou vegetariano; vegetariano? Sim , com a referida excepção, mais uma ou outra, de mil maneiras).

- Boa dança, bom cartaz.
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G – coordenação: aqui é que a porca torce o rabo. Com a vossa ajuda, iremos lá: mandem bibliografia para a caixa de comentários, ou indiquem o local (aviso já que não levo guarda costas nem vou armado - relacionar com o ponto E) onde a levantar, emprestada, por oito dias, que faço texto para postar aqui, a partir dessa base. Fico à espera (isto é que é falar sobre coordenar? Precisavas de levar mais, diz a encarregada de educação ali para os lados do Senhor de Matosinhos – e há um(a) Senhor(a), numa «capital», que assobia para o lado, tão longe, Nossa Senhora). Por outro lado, D. Januário falou bem e o grande Mário-fénix-Dom se lhe colou logicamente (todas as instituições precisam de gente assim).
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BOM NATAL PARA TODOS. Até 2008.

sábado, 24 de novembro de 2007

Grande Jacques (1470-1525)

Professores avaliam professores. Não podia ser de outra maneira. Não são os carpinteiros que vão dizer que os serralheiros são bons no ofício, se merecem o que ganham. É a entidade patronal?
Todavia – helas - podem ser os clientes que sabem (sem saberem) se a obra ficou bem feita, se o rendimento é bom, se o serviço não é caro, se está para durar (aí, a qualidade, ou falta dela, estende-se à entidade patronal).
Aliás, até os vizinhos se podem pronunciar (se incomodados ou vendo, de algum modo, o seu campo invadido).
De certa forma, o médico é avaliado pelos doentes, pelas famílias (do médico, se ele passa muito tempo a namorar dizendo que vai para a urgência; dos pacientes, se a intervenção se traduz em bons ganhos).
Também o agente funerário é sinteticamente avaliado (agora não sei, que andam aí os espanhóis a tomar conta do sector, colocando à cabeça o título de lojas, na vez de agências, o que é desagradável, pois nós, os mortos, já estávamos habituados), palavra a palavra (principalmente pelas que não disser), gesto a gesto (que o silêncio impera).
Até quem vende o corpo, de modo honrado ou ignóbil (depende do ponto de vista) é avaliado(a), quanto mais não seja por si próprio(a) (todos os dia vai a um escaninho da alma e diz de si para si: ainda sou eu?).
De maneiras que avaliar é o que se faz por aí sem parar, a palavra gastou-se de medíocre usança: do figurino mediocratas ainda nobre (limitação e equiparação de «chãos de horta»), passando por paus, cordas e pedras enquanto instrumentos de medida e marcos, ao golpe de mirada concisa, de tudo um pouco se foi fazendo constructo.
Ilustremos o que nos espera:

- Pá, quando acabarmos de almoçar, amanhã, caluda, vais ser avaliado (a).
- O. K. (zero killed), assim é, assim farei.

(no dia seguinte)

- V. Ex.cia está a submeter-se a uma prova que assenta em critérios previamente definidos e difundidos pelos interessados: deseja continuar?

(Nota do escriba: a resposta pode, naturalmente, ser sim ou não – todavia, a balança tende a 99 % para o lado do sim).

Produzir-se-ão três escalões, sendo o de baixo equivalente ao velho dez; ao suficiente corresponderá o bom ou o muito bom. Mais: se a escala for BOM, BOM COM DISTINÇÃO e MUITO BOM, como tem sido a prática no ensino superior, então, face à à «lei do funil», veremos muito distinto docente a marcar passo, ou melhor, a fazer o que sempre mais ou menos fez (é que não se fala em cátedras, mas em aperto, estrito senso).

Retrieved from "http://en.wikipedia.org/wiki/Jacques_de_la_Palice":



Messieurs, vous plaît-il d'ouïr
l'air du fameux La Palisse,
Il pourra vous réjouir
pourvu qu'il vous divertisse.
La Palisse eut peu de biens
pour soutenir sa naissance,
Mais il ne manqua de rien
tant qu'il fut dans l'abondance.
Il voyageait volontiers,
courant par tout le royaume,
Quand il était à Poitiers,
il n'était pas à Vendôme!
Il se plaisait en bateau
et, soit en paix soit en guerre,
Il allait toujours par eau
quand il n'allait pas par terre.
Il buvait tous les matins
du vin tiré de la tonne,
Pour manger chez les voisins
il s'y rendait en personne.
Il voulait aux bons repas
des mets exquis et forts tendres
Et faisait son mardi gras
toujours la veille des cendres.
Il brillait comme un soleil,
sa chevelure était blonde,
Il n'eût pas eu son pareil,
s'il eût été seul au monde.
Il eut des talents divers,
même on assure une chose:
Quand il écrivait en vers,
il n'écrivait pas en prose.
Il fut, à la vérité,
un danseur assez vulgaire,
Mais il n'eût pas mal chanté
s'il avait voulu se taire.
On raconte que jamais
il ne pouvait se résoudre
À charger ses pistolets
quand il n'avait pas de poudre.
Monsieur d'la Palisse est mort,
il est mort devant Pavie,
Un quart d'heure avant sa mort,
il était encore en vie.
Il fut par un triste sort
blessé d'une main cruelle,
On croit, puisqu'il en est mort,
que la plaie était mortelle.
Regretté de ses soldats,
il mourut digne d'envie,
Et le jour de son trépas
fut le dernier de sa vie.
Il mourut le vendredi,
le dernier jour de son âge,
S'il fût mort le samedi,
il eût vécu davantage.

Gentlemen, hear if you please
the song of famous La Palisse,
You may indeed enjoy it
as long as you find it fun.
La Palisse didn't have the means
to pay for his own birth,
But he did not lack anything
once his riches were plenty.
He was quite fond of travel,
going all over the kingdom,
When he was in Poitiers
You would not find him in Vendôme!
He enjoyed a boat ride
and, whether in peace or in war,
He would always go by water
when he didn't go by land.
He drank every morning
some wine from a barrel,
For eating at his neighbors
he would always go in person.
He preferred at good meals
his dishes to be tasty and tender
And always celebrated Shrove Tuesday
on the eve of Ash Wednesday.
He shone like a sun,
his hair was blonde,
He would have had no equals
had he been the only one.
He had diverse talents,
some even claimed this:
Whenever he wrote in verse,
he did not write in prose.
He was, to tell the truth
a rather mediocre dancer,
But he would not have sung so badly
if he had chosen to shut up.
They tell that he would never
have taken the decision
of loading his two pistols
when he had no ammunition.
Monsieur d'la Palisse is dead,
he died before Pavia,
A quarter hour before his death,
he was still quite alive.
He was by sorry fate
wounded by a cruel hand
Since he died of it, we fear
that the wound was a mortal one.
Lamented by his soldiers,
his death is to be envied,
And the day of his passing away
was the last day of his life.
He died on a Friday,
the last day of his age,
Had he died on the Saturday,
he would have lived longer.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Efeitos do sucesso estatístico - Exemplo 2.

(in Jornal de Notícias, 23/11/2007)
http://jn.sapo.pt/2007/11/23/porto/vandalismo_escola_processo_a_cinco_a.html

«A jovem (...) afirmou que estava, com um grupo de amigos a "jogar ao túnel" (...) e que um deles "deu um cachaço a uma professora". "A professora deu-me um estalo e eu virei-me a ela e dei-lhe outro estalo", referiu a jovem, que sublinhou não se arrepender do seu acto e que ia apresentar queixa contra a docente. "(...) Fez ela muito bem e devia ter dado o dobro", referiu a mãe da aluna.»

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

domingo, 18 de novembro de 2007

BomDiaCoisasDeCima

I - O bom professor, hoje, apresenta resultados, é cordato tanto na sala de aula como na sala de professores, dá-se bem com os funcionários e, quando tem de intervir (?!), fá-lo a partir de:

a) Uma prévia, ainda que sumária e instantânea, ponderação das consequências do seu agir;
b) Um acumular de tensões desfragmentadas que, na expansão, não abale a confiança que nele é depositada.

II - Participar na vida das escolas é vivenciar roupagens, na diacronia e na sincronia, com malha ora frouxa ora apertada, na submissão a olhares que enebriam e levam muitos a vender as varandas, outros a seguir o seu caminho sabendo que-que-que, outros e outras, ainda, a (não) terem pena de ser como são, em face do contexto em que lhes é dado exercer a profissão e do mundo em que lhes é dado serem bons sobreviventes.

III – Pequenas tempestades, em face de grandes martírios e de tragédias à antiga – oh, Felícia, fica sempre um espaço para a energumania te acusar de seres bela ou bruxa e, por uma caxa, dares tudo, naquele instante louco dos deuses – fazem dos poderes instituídos farrapinhos de cetim: que se há-de dizer quando, perante acusações tremendas na praça pública, a gente assobia e vai à vidinha, contempla o grassar não apenas do desemprego mas também do multifunções amigo e ao mesmo tempo inimigo do rei e da amante da rainha?

III – A avaliação daquele e daquela que, expondo-se, se gastam e se regeneram, passam à frente-por-vezes-de-lado e, agitando-se no milieu, saem do Rainha e vão logo direitos à Marquês, num tempo recuado em que os pais estiveram a beber canecos de geropiga e de cevada forte, recuados em home sweet home, a avaliação, ia dizendo, faz, também ela, de per si, toucinho do céu (de picos, urtigas cavalares, figos de palmeiras que só com lenço se deixam agarrar, vidro moído em estômago de cão que acabou de colocar às portas da morte o serviçal, e não de rosas, cravos com aroma, buganvílias e talvez ginkobilobas em dia balsâmico em que tocam campainhas quando tudo está, por assim dizer, acabado.

IV – Serviço é serviço, conhaque é conhaque – e saber que um tal Torcato Sepúlveda (grande nome) escreveu, em duas folhas do suplemento do JN de sábado, 17 de Novembro de 2007, um bom artigo sobre o que os franceses e os ingleses nos fizeram, há duzentos anos, iss não conta para avaliação? E gastar dinheiro do meu bolso a fotocopiar, andando num toyota, de dois lugares, novinho em folha, fornecido pela escola, com rede separadora entre o habitáculo de passageiros e a parte de trás (salvo seja) da carga nobre-porque-dada-a-ser-semeada, quase sem me alimentar a não ser das notícias já gelatinosas da tsf: nada disso conta? Que diabo, o bloquista é o melhor em setenta mil e, para além do mais, faz da terra lhana das bugas o seu recreio de eleição (estou magro).

V- Esta é para as moças fazerem, as que já são diplomadas.

VI – Este é para o mestre fazer (pode ser um analfabeto).

(Esta a primeira parte do B a G).

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

especial zero

Enquanto não aqueço as baterias para o de B a G, e estando em Guimarães-Jazz, por assim dizer, depois de um borliu com a big band doa Ismae (não é da Maia), à espera das vinte e duas, lembro-me deste tema, com razão concreta o faço, não minha (o que é meu, dize-mo caixotinho de (en)comendador(a)?), mas de um espaço e de um tempo que me é dado, quatro-partes-de-dia-por-semana, as horas mandadas e mais o caminho, as distracções e os arrastamentos.

Há um propósito e uma conjugação de boas vontades no sentidos de colocar os meninos e as meninas que apresentam ou falhas e lentidões notórios, ou algum neurónio mal acomodado ou acomodado mesmo muito, ia dizendo, há a ideia, que vigora há décadas, de integração com base na igualdade de oportunidades e também, para alguns mais minoritários, o efeito colateral de activar uma espécie de abrir a tolerância dos «meninos-mamã-brancos», por assim dizer, rompendo o mito do estereótipo, do classe média que há-de ir para medicina (o pai e o avô ingressaram com 10 ou 11, numa escala de zero a vinte, e fizeram car(r)(t)eira, mas ele, o «branco-net(o)», terá de se alçar ao dezoito e meio, na mesma escala. E tudo isto a propósito de ensino especial.
Proponho, então, para o futuro:

A) Um ensino especial para as elites (gente que revela muito cedo qualidades - natas, inatas e constructas – para a música (já-que-aqui-estou, por exemplo uma Susana Silva), para a técnica e a arte da medicina, da arquitectura, da engenharia, da economia, enfim, da política e do futebol.

B) Um ensino especial para os que, à partida, se hão-de inclinar para trabalhos por conta própria: gente filha de padrinhos e, por outro lado gente bastarda, isto é, gente que dificilmente brilhará na passerelle (a menos que o conceito de beleza venha, um dia, a ser democratizado, o que a maior parte de nós não deseja)

C)Um ensino «normal» para muitos dos outros (haverá sempre alguns que atiram com a albarda em Penafiel, no dia 10 de Novembro – no feriado já é o day after).

Avaliai isto, comadres e compadres, em alqueires de milho e em canecas de americano proibido e, se quiserdes, subi na vida (na verdade, tendes sempre menos de um século para o fazerdes, não esquecendo que a unidade-base geo é dez elevado a seis anos de trezentos e sessenta e cinco dias). Somos pobrezinhos mas somos sobreviventes, por enquanto, o que nos deve – helas – alegrar.

domingo, 11 de novembro de 2007

Acompanhando dois amigos

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Tenho, no Carvalho antigo, publicado alguns textos sobre liderança de Escolas, num exercício de colocação e antecipação, face ao que julgo ter que vir a fazer no futuro imediato.
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Com isso, e com a produção de ficção literária que vou construindo no novo Carvalho, sobra pouco tempo para me dedicar a esta coisa da cidadania, ou seja, a este cantinho.
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Vão valendos os dois amigos que aqui vão "enchendo" o sítio com qualificadas e actuais visões do mundo, senão todo, pelo menos da Educação.
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Esta última, da autoria do pandacruel, é demasiado tentadora para me ficar pelo comentário. Sei que será tratada em profundidade, nos próximos tempos, que as promessas que faz não são esquecidas. Mas tenho que dizer algo que mexe comigo e com as funções que desempenho (um pouco deslocadas, diga-se desde já, se considerarmos a docência o centro de tudo o que interessa).
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Diz, e muito bem, que ora se pretende, entre outras coisas - que o aparente começar no B) não é acidental - a redução das taxas de abandono escolar, tendo em conta o contexto sócioeducativo.
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Este é um desiderato que reputo estranho, para a Escola e para os Professores. Seria compreensível, logo aceitável, se este fenómeno, que se pretende combater, fosse da responsabilidade da instituição ou dos seus docentes. Que estes e aquela originassem o referido fenómeno ou, se assim não fosse, o condicionassem.
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Tenho estudado, de forma intensa e profunda, o assunto. Procuro conhecer a realidade, desde os números (muito amigos do mesjag), passando pelas razões (idem, para o pandacruel) e desembocando nas soluções.
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Com um deles discuti várias vezes o papel da Escola, com o outro implementei acções concretas.
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Aceito, como dado adquirido, que o rigor e a intolerância são produtores de abandono e exclusão.
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Do primeiro, não encontro alternativa, para a segunda não me resta paciência - devemos erradicá-la ou, se isso não for possível, pelo menos atenuar os seus efeitos. O rigor é uma exigência profissional e cívica. A intolerância é uma adversidade a resolver.
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É claro que o insucesso também contribui para o abandono e para a exclusão - sobretudo se repetido, se edificador de "decalage" etária, se decorrente de outro centro educativo que não o Aluno. E isso também acontece, com mais frequência do que gostaríamos de reconhecer.
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Mas o que é notório, para mim, enquanto responsável por Escolas (o plural não é acidente), centra-se na responsabilidade da família, nesse campo. Do Pai ou Encarregado de Educação, do irmão ou irmã, do tio, primo, avô, seja quem for que esteja perto do jovem.
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Quando o Professor, Director de Turma ou outro, se preocupa com o Aluno, procurando, junto dele e da sua família, que resista à tentação sedutora da saída precoce, da fuga, do abandono do futuro a construir, pouca ajuda recebe, na maior parte dos casos. E quando a Instituição o acompanha nessa tarefa, é frustrante confirmar esse baixar dos braços colectivo.
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Tenho que dizê-lo, que o afirmar, gritá-lo, se preciso for: o abandono e a exclusão escolar nunca diminuirão, de forma sensível (que é o que todos pretendemos) se a família de quem está em risco de sair (Encarregado de Educação e outros) não mudar de atitude - e são os familiares destes Alunos que assumem a pior atitude possível face à Escola!
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Querem saber qual é essa atitude, que impede qualquer alteração nos resultados? É não ser Pai ou Mãe, é deixar na mão (neste caso, na vontade) do jovem, a decisão, é abdicar da responsabilidade parental. Nem sequer tem a ver com moderna forma de assumir o papel, passando a "amigo" do filho. Não vai tão longe, não. Fica-se mesmo pelo encolher de ombros e pela frase já consagrada "o Senhor Professor sabe, ele quer assim, é melhor fazermos como ele quer, não vale a pena insistir ...".
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balancear1

O ano de 2007 trouxe os professorem «à ordem», com novas exigências, aperto na carreira, rigor no trabalho. Importa perguntar:
Que ordem é esta? Quais os fundamentos? Os professores, se não trabalhavam o suficiente, era porque se regiam por leis anacrónicas, impostas pelas bases? O mau sucesso que atinge uma fatia substancial dos nossos jovens, na escola e na procura de emprego, tem como significativos responsáveis os professores, que não ensinam nem bem nem o suficiente? Ou já não se trata, apenas e no essencial, de ensinar e aprender?

Comecei em 1971. Pediram-me, ao assinar uma espécie de contrato, numa escola industrial, para cumprir um horário de 29 horas semanas, sendo seis ou sete pagas como extraordinárias. O trabalho burocrático era mínimo, no que ao docente dizia respeito. A palavra avaliação não era usada, muito menos abusada, em ambiente escolar. A velha classificação imperava, fazia estragos mas também dava alegrias.

Iniciei a actividade integrando logo um júri de exames de segunda época, com prova escrita e oral, ombreando (tão novo, eu) com um antigo director de colégio, que se havia mudado para o ensino público, o qual, dando-me os parabéns pelas perguntas que fizera na oral, insinuou, boamente, que devia ter sido mais exigente, ido mais longe.

O que é pedido hoje, além do que era costume, ou melhor, o que é destacado, como ganga extraída, estratégica ou apenas tacitamente, de um núcleo essencial e «eterno»?

B – Melhoria dos resultados escolares dos alunos e redução das taxas de abandono escolar tendo em conta o contexto sócioeducativo
C – Participação na vida do agrupamento/escola não agrupada
D – Participação em acções de formação contínua
E - Relação com a comunidade
F – Avaliação dos outros docentes
G – Coordenação do conselho de docentes ou do departamento curricular

Até ao Natal vou tentar alinhavar alguma coisa sobre cada um destes pontos.

Este texto é colocado em cartasaoportador.blogspot.com e em betaocomcompanhia.com (julgo que teclei bem), com os meus agradecimentos aos que, nesses sítios, me abriram a porta, depositando em mim uma dose de confiança que espero não vir a defraudar.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O recuo do PS, a desautorização da Ministra!

Estatuto do aluno: PS recua e passa a admitir reprovação por excesso de faltas (in publico.pt - http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1309424).

Já agora, façam mais um favor:
Discutam tudo outra vez! Deixem as estatísticas e preocupem-se com os fundamentos da formação de jovens, futuros cidadãos de um país que deve ter regras.

sábado, 27 de outubro de 2007

Machadada final?

Hoje escrevo com tristeza!

Sinto o desalento e a frustração daquele que vê alguém percorrer um caminho errado e sabe que esse alguém não tem coragem para mudar de rumo a cada cruzamento que passa.
Esse alguém simboliza um país que, a cada passo, deixa para trás valores do passado, inebriado por ideias ocas de sucesso fútil que, ainda por cima, comprometem o futuro.
O desalento e a frustração são o sentimento do homem que, constantemente, se sente impotente para travar os arrepios de sabedoria daqueles que julgam saber do que nunca fizeram.
Falo daquela que será, a acontecer, a machadada mortal para algumas escolas públicas portuguesas.

Parece (é que estas coisas importantes sabem-se sempre primeiro pelos jornais!) que o novo estatuto do aluno vai resolver finalmente dois dos graves problemas da escolaridade obrigatória em Portugal: o absentismo e o abandono.
Como?
Muito fácil. O rapaz falta um tempinho e a gente dá-lhe um exame (não me perguntem quando é que o rapaz fará o exame, se calhar vamos a casa dele levar-lho!). Está tudo resolvido! Finalmente o sonho está realizado: já nem a falta de assiduidade pode causar a retenção. Toda a rapaziada passa de ano, acabaram os chumbos!
Seremos um país de sucesso. Ficaremos no primeiro lugar do ranking. Cumprimos o espírito Europeu!
O facilitismo levado ao extremo. A escola armazém em todo o seu esplendor!
Sobra apenas um problemazito: que resultados aparecerão nos exames nacionais?
Bem, mas este problema também se resolve. Atira-se a culpa para os imbecis dos professores: que não motivam os alunos, que não os habilitam nas competências, que não usam o plano tecnológico. Vai ser fácil atirar o odioso da questão para essa classe de preguiçosos! E, afinal, só se fala uma vez por ano em exames! Porquê tanta preocupação com o conhecimento?

O caminho mais difícil de percorrer é aquele que exige mais esforço. E o grande desafio deste País não é o do índice estatístico, supostamente, imposto pela Europa.
O verdadeiro desafio é saber como se conjuga cumprimento de escolaridade obrigatória com qualidade de aprendizagem.
Para conciliar estas duas vertentes ainda ninguém soube apontar soluções. Se calhar até, ainda ninguém conseguiu encarar o assunto de frente. Para tal é preciso definir prioridades. E tais primados surgirão das respostas que o país quer dar a algumas questões complicadas:

Em que princípios se deve fundamentar o sistema educativo? O princípio da ocupação do tempo das crianças deverá sobrepor-se a todos os outros?
Que regras quer o Estado que a escola dê aos alunos? O Estado quer regras? Ou caminharemos para uma sociedade sem regras?
Deverá o Estado fornecer à escola pública os meios para estar em pé de igualdade com o ensino privado? Ou deverá apenas garantir a subsistência de um número residual de escolas públicas para abarcarem aqueles que não têm possibilidades de frequentar uma privada?
Que suporte dá o estado à família? O Estado quer ter famílias?
Quais as obrigações do Estado em termos sociais? Estará a cumprir tais obrigações? E em termos da criação de condições para o pleno emprego?
É função do Estado zelar pela equidade na distribuição de riqueza?
Que valores proclama o País? Ou já não interessam os valores?

Estas (e muitas outras) são questões importantes que quem dirige o país prefere meter na gaveta. São questões aborrecidas, ainda por cima de difícil resposta.
De certeza que foram inventadas por um daqueles professores que ainda acha que a Escola serve para educar e instruir.



quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Prémio relevante, por se repercutir no futuro

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Parlamento Europeu atribui Prémio Sakharov 2007 a advogado sudanês
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O Parlamento Europeu atribuiu hoje, em Estrasburgo, o Prémio Sakharov de 2007 ao advogado e activista pelos direitos humanos sudanês, Salih Mahmoud Osman, pelo trabalho em favor das vítimas da guerra civil na região do Darfur.
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O destaque tem duas motivações:
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O Darfur é uma região do mundo onde se cometem atrocidades indescritíveis e, seja por estar muito longe, seja por se situar no continente da extrema pobreza, seja por não ter recursos naturais relevantes, a verdade é que ninguém se preocupa muito com o povo que ali sobrevive e, sobretudo, morre.
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Saber que foi atribuído um prémio, que sempre vai ecoando na consciência dos poderosos, a alguém que tem um mar de coragem para agir, como acontece com Osman, no centro do terror absoluto, tem que ser a notícia do dia. Mesmo sendo o premiado um advogado. Ou por causa disso mesmo.
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E porque, muito perto, em Juba, no Sul do Sudão, trabalha o meu amigo José Vieira, missionário para quem a vida só se entende se a prioridade da acção humana residir na dádiva, na solidariedade, no serviço em prol do outro, sobretudo se estiver fragilizado.
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O seu blogue, JIRENNA, é um hino à paz, à cooperação, à dedicação exclusiva ao próximo. Porque permite estar perto dele, a visita diária ao blogue é, para mim, um acto de cumprimento religioso. Assim mesmo.
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segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Bem que gostaria de não dizer eu não disse ...

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No Sábado, 2 de Junho de 2007, em texto publicado, dizia o que aqui se pode constatar.
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Só passaram 4 meses e já se confirma o que aí receava. Notícia do dia de hoje: a electricidade vai aumentar 2,9%! Conseguem ver alguma relação entre as notícias? Não? Ah, já estão a ver! Bem me queria parecer ...
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E como não apareceu quem apostasse comigo ...
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Vou repetir essa parte. Merece.
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Bom, vamos tornar breve uma longa história. Aposto com quem quiser que, daqui a um ano, a factura da electricidade vai ser bem mais pesada. E esta é uma aposta séria! O que me incomoda é a inexistência de apostadores. Se aparecer algum, não posso concretizá-la, pois não devemos apostar com doidos ou tirar dinheiro a gente ingénua.
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Nem um anito demorou. Não temos sorte nenhuma!
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O ministro da economia (assim mesmo, pequeno, pequenino, minúsculo) julga que andamos todos a dormir. É tempo de lhe mostrar que não andamos. De o mandar para a rua. De correr com ele. Para começar. Outros irão a seguir (se possível, para o Irão). Do mês para falar de coisas boas, passámos para a tribuna anti-governo. Lá terá que ser ...
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Coisas boas em baixa ...

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Há cerca de 10 dias que procuro uma notícia, um evento, um acontecimento que mereça ser relatado, por ser uma coisa boa.
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Há 10 dias que nada encontro.
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Se mais ninguém consegue encontrar algo rapidamente, e fazer disso notícia, começo a ficar preocupado.
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Entretanto, dois acontecimentos pessoais vão amenizando a coisa:
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A Sofia fez 10 anos e festejamos tal facto condignamente (mesmo com muitíssimo prazer); confesso, sem preocupações, que sei menos (de muita coisa - a que nunca soube, a que esqueci logo, a que esqueci em pouco tempo e a que esqueci pelo não uso) que uma criança de 10 anos. E ainda bem que assim é;
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E o meu vice, o Raimundo, também fez anos (45! Agora é uma diferença aceitável, mas se registarmos que o conheci quando tinha 14 anos e ele 10, entenderão a relatividade da coisa - e porque, na altura, não lhe ligava nenhuma).
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sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Mudar para melhor

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O fim da estrada da morte - A 3 de Julho, uma mulher morreu na A25, na saída Viseu/Norte, junto a Boaldeia. Foi o primeiro e único acidente rodoviário com vítima mortal registado após a conclusão, a 30 de Setembro de 2006, da transformação do IP5 em auto-estrada. A mulher, cuja identidade não foi revelada, seguia ao lado do condutor quando o carro se despistou, cuspindo-a violentamente para a faixa de rodagem. O acidente foi a excepção de uma paz, quase completa, na estrada que sucedeu ao pesadelo do IP5, via onde morreram, desde a década de 80, centenas de pessoas, a uma média de 25 por ano.
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Esta é uma notícia do JN de hoje. Para mim, a única notícia que o Jornal devia destacar. A transformação de uma via que somava 25 mortes por ano (IP5) numa outra em que morre apenas uma, pelo menos por agora, tem que ser A NOTÍCIA do momento.
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Há mais coisas boas a apontar?
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domingo, 30 de setembro de 2007

Apontar o que ESTÁ BEM

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Vamos fazer de Outubro o mês do "dedo" do bem. Vamos apontar o dedo às coisas boas que conhecemos. Este é o verdadeiro desafio.
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Falar do que está mal, é fácil. Apresentar soluções, é bem mais difícil.
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Tarefa complicada é mostrar o que está bem - não pela raridade dos factos, mas pelo que desnuda, no que respeita às nossas convicções, tendências e tentações.
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Começo por uma pessoa que está de saída, para entrar noutros mundos.
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Tenho quase 50 anos. Nasci e cresci em Vila Nova de Gaia, cidade vizinha do Porto e pelo Porto abafada. Dormitório que sempre quiz ser mais. Grande no espaço, na gente, na vontade de se afirmar.
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Os estúdios do Porto da RTP foram sempre em Gaia. O vinho generoso enriquece em Gaia, mas deu e dá nome à capital do Norte.
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Não tenho memória de reais investimentos pessoais que projectassem a cidade. Conheci uma boa dezena de responsáveis pela edilidade que trabalharam com maior ou menor denodo, mas nenhum logrou edificar um lugar aprazível, desenvolvido, moderno e modelar.
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Até que chegou Luis Filipe Menezes. Não esperava muito, à data. Não pertenço ao quadrante político onde ele se move, antes me situo em espaço ideológico bem afastado.
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Mas a realidade não se compadece com pré-conceitos, com concepções puramente teóricas.
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Menezes investiu na cidade. Muito. Pode ter tido motivos egoístas, mesquinhos, desprezíveis. Mas deu muito, sobretudo de si. Correu riscos, enfrentou adversários poderosos, avançou nas ideias e levou à prática. Fê-lo de forma coerente e, mais importante ainda, de forma constante.
Não adormeceu à sombra do que começou a fazer, nunca parou, construiu sempre.
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Dois aspectos registo, na sua governação: não se mostrou satisfeito, nunca, nem nos melhores momentos. A sua vereação, os que com ele trabalharam, foram sempre substituídos, no momento de iniciar novo mandato. Por muito bem que tivessem desempenhado a tarefa, por muito importantes que (se julgassem ou que) fossem. A sua ambição não é (não foi, em Gaia) limitada. E nunca deixou de actuar, de fazer o que pensava ser certo, fossem quais fossem os grupos de pressão. Mesmo que representassem uma fatia significativa dos seus eleitores ou dos seus financiadores. Nem os aspectos menores o fizeram perder tempo.
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Alguns exemplos da sua obra política:
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O realojamento não se centrou num local, antes se espraiou por todo o concelho. Não criou bairros socialmente degradados, não ghettizou pessoas;
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A requalificação, com preocupações ambientais, foi sempre um objectivo prioritário. Não em função dos interesses dos mais abastados, mas dos seus munícipes. A Ribeira de Gaia, a Costa Marítima e o centro da cidade são bons exemplos;
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O que não dependia de si não era abandonado, alijando responsabilidades que seriam doutros. As vias de comunicação que atravessam e circundam a cidade são admiráveis obras de outros, que só se concretizaram nos seus mandatos;
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Não desprezou o desporto e a cultura. Atraiu instituições de relevo - o F. C. do Porto, o TEP, esteve na construção de infra-estruturas culturais e desportivas - as piscinas nas freguesias, os poli-desportivos, a Casa da Cultura, os estádios do Candal e de Canelas;
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Apoiou a Educação, sem se desculpar com os deveres do poder central.
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Por último, que isto já vai longo: ao contrário do que acontece com a generalidade dos municípios do país, V. N. de Gaia tem visibilidade, no que foi feito. Também terá ultrapassado os limites do endividamento, terá desviado verbas de uma rubrica para outra, estará a dever a muita gente, mas, pelo que se pode constatar, o destino foi o concelho. E isso, para mim, munícipe de Gaia, basta.
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Em tempo: não sei como será, à frente de um partido político com dimensão nacional (ainda que se mantenha na Câmara de Gaia, para ter uma plataforma de intervenção pública, considero que já cá não mora); nem como será, se lhe confiarem os destinos do país.
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Mas os indicadores que construiu, enquanto responsável pela minha cidade, são muito bons.
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Conhecendo a capital do país como conheço, Luis Filipe Menezes não se deve esquecer do que disse, que se mantém actual (sulistas e elitistas) e de Fernando Gomes. A outro nível, mas também indicador a não menosprezar.
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domingo, 23 de setembro de 2007

Com vero rasgo

a) Há escolas completas e incompletas (segundo a terminologia fundadora do século XIX, adaptada ao século XXI).

b) Os pais – ou quem as suas vezes fizer - escolhem as escolas, segundo o que desejam para os filhos ou afilhados; se não cabem, o Estado custeia a deslocação para outra escola do mesmo tipo.

c) As actividades propriamente lectivas começarão na primeira semana de Outubro, durante 26 semanas, correspondendo a um ano lectivo.

d) Nas escolas completas, tanto a carga horária de cada disciplina como o número de disciplinas por ano de escolarização são variáveis. As disciplinas não são estanques e as planificações prévias são o tudo que é nada. O dia a dia será discreto – que a vida é mais que «aquilo» e, em boa parte, pré-existe sempre «àquilo». A vida continua e expande-se por fora e por dentro-fora.

e) Nas escolas incompletas o currículo será uniforme, talhado pelos técnicos superiores do ministério ou ministérios que se sintam vocacionados para chamar a si o ensino, a aprendizagem e o plano previamente traçado, no interesse macro-teórico do país. Aqui haverá diplomas, notas e exames, como desígnio objectivo para uma sociedade que realça o mérito assim conseguido. Avaliação de professores por professores mais qualificados é uma invenção refundadora de todo o edifício escolar, desde D. Maria I. Produzir-se-ão estatísticas para o «mercado comum europeu». Haverá felicidade decretada.

Porto, 26 de Abril de 2010

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Um sinal dos céus

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Hoje estou amargo. Tudo o que aconteceu, ao longo do dia, foi doloroso, penoso mesmo.
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Vi o lado lunar de algumas pessoas. As vantagens pessoais a derrotar a ideia do melhor para a comunidade. A mesquinhez e a visão redutora, empalada, que a assiste.
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Ouvi descrições de prepotência. Dos que, controlando um qualquer organismo, sabendo-se detentores da força da maioria, espezinham e desrespeitam os que estão em minoria.
Um líder que aponta o dedo a quem o afronta, só porque o faz, só porque existe. Não às incapacidades, às inabilidades ou à falta de talento para desempenhar o cargo em disputa.
Já ontem tinha ouvido um a queixar-se de não ter tido condições para fazer, face a outra a vangloriar-se do pouco tempo que precisou para também fazer. Quanto à qualidade, à pertinência, à utilidade real do que (não) foi feito, nem uma palavra.
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Assisti (volto ao presente) a uma notícia de pequenez. Vivo num país em que as pessoas só encontram solução para os seus problemas se forem (imaginem!) a Cuba. Em que se diz que, pelo menos uma pessoa, porque foi demasiado tarde, não tem já solução para o seu problema. Em que outros, bastantes (um que fosse já era muito!) afirmam que esperaram por uma solução no nosso país durante 10, 12, 15 anos. Sem nunca a terem.
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Agora, somem isto: a solução passa por uma intervenção cirúrgica SIMPLES! O responsável nacional pela solução diz que bastaria que os profissionais fizessem mais UMA consulta e MEIA intervenção por dia para não haver mais problema(s) deste tipo (listas de espera). Ao mesmo tempo, confirma que tem 5 (cinco!) profissionais em toda uma região do país, que tem centenas de milhares de habitantes. Que aguarda a resposta de profissionais estrangeiros para resolver (este) problema.
Na altura em que todos sabemos que entraram (apenas) umas dezenas de jovens nas instituições superiores que os preparam. E que, nesta área específica, nem uma mão cheia se forma, todos os anos!
Ele, o responsável, acha positivo, acha que é uma coisa boa, as pessoas irem a Cuba resolver este problema (de solução simples!). Acha bem que as Câmaras os subsidiem. Acha bem ... ele e o seu representante no local!
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peço desculpa pelo pessimismo. Mas hoje sinto-me assim. PORQUE A NOTÍCIA TINHA UM AR NATURAL, DE COISA COMESINHA, não escandalosa. Antes que eu me sinta demasiado mal com o país em que me forçaram a nascer e em que escolhi viver, por favor apontem-me alguns exemplos de coisas boas - mas melhores que a trasladação de Aquilino Ribeiro para o Panteão. Por favor!
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Já agora, e ao menos por uma vez, Viva Cuba! Agora entendo melhor o ar altivo dos cubanos, quando falam da sua ilha - ainda que vivam em MIAMI.
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sábado, 15 de setembro de 2007

Temas (pouco) interessantes

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1 - Scollari
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Ser treinador significa ser modelo, para os seus atletas tanto quanto para o público;
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Ser treinador de uma selecção nacional reforça esse papel. Se a modalidade de que se tem essa responsabilidade é a mais seguida pelo público, a mais vista, maior importância assume esse papel (desempenhado).
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Os resultados desportivos não deixam de ter importância similar. E o que conta, para mim, é a qualidade e quantidade dos resultados que se atingem. De facto, ainda que as condições sejam diferentes e mais favoráveis, a verdade é que, antes de Scollari chegar, os resultados eram fracos, medíocres mesmo. Com ele, uma presença numa final de um europeu e uma outra nas meias-finais de um mundial foram conseguidas.
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Todos tem (ou devem ter) a oportunidade de cometer um erro e emendá-lo. De se desculpar desse erro e ser desculpado. Até o treinador da selecção nacional de futebol.
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Acredito que o próprio poderia (e, se calhar, deveria) ter sido mais exigente consigo que os outros (todos). Se se demitisse, só lhe tinha ficado bem. Pedindo desculpa, como o fez. Com humildade, que não teve.
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Mas acredito que pode (e deve) mostrar que o que aconteceu foi pontual, marginal e não significativo. Espero que assim seja. Até porque a margem para o erro desapareceu. E o sucesso ou insucesso deste apuramento deve ficar ligado ao responsável pela campanha. Logo, ele deve terminar a fase. Logo se vê se é tão bom como aparenta. Sem dúvidas: se Portugal se apurar para a fase final, com ele no comando, é mesmo bom.
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Em tempo: não gosto do homem, que cedo descobriu o confronto norte-sul do futebol e se acoitou à sombra dos poderosos - ainda por cima, contra os "meus".
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2 - Maddie
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Poderia, com legitimidade, afirmar que sempre soube e disse, desde os primeiros dias da tragédia, que a menina estava morta. Não por conhecer qualquer dado que os outros não dispunham. Ou por ter poderes mágicos exclusivos. Apenas por aplicar a lei das probabilidades, face a outros casos (números) do mesmo tipo. Reconheço que, no início, não coloquei os pais como os principais suspeitos. Acreditei que outro(s) foram os responsáveis.
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Mas sofri do síndrome da bondade parental. Os actos praticados pelos pais, a cruzada pela recuperação da menina, a presença constante nos media, procurando manter viva a esperança e a imagem da criança, como desaparecida e recuperável, ajudou. Esqueci que os homens são assim mesmo, capazes dos mais heróicos e altruístas gestos quanto das mais monstruosas actividades - sendo desconhecidos ou família, pormenores absolutamente irrelevantes.
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Pelos conhecimentos que vou acumulando, será mais fácil para mim aceitar que os pais sejam suspeitos, mesmo os principais suspeitos, pela morte da pequena Maddie.
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No entanto, considero que devemos ter em conta duas pequenas (enormes) notas:
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Seremos todos melhores pessoas, sem ingenuidades bacocas, se soubermos esperar que se comprove a culpa, seja de quem for. Enquanto suspeitos, os pais não são culpados. Merecem a nossa indulgência e paciência. Merecem ser tratados com consideração e respeito. Merecem ser deixados em paz.
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Mas também devemos saber ler nas entrelinhas, nas acções que se praticam, na forma como tudo se desenrola. Ser exigente, não desculpar formas de agir desiguais, tratamentos preferenciais para quem tem ou está perto do poder.
Não é possível considerar que a não recuperação do corpo não é relevante, para condenar a mãe da Joana, é já o passa a ser, para possibilitar a desculpabilização doutros suspeitos, próximos de poder persuasivo, influente; ou que os indícios são suficientes para decretar a prisão preventiva para o primeiro caso citado, e agora nem sequer são impeditivos da saída do país para os segundos referidos. Algo vai mal nesta forma de praticar a justiça. Muito mal.
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Em tempo: sou muito crítico do nosso sistema judicial. Acho que funciona mal, não garante coisa nenhuma. Mas este caso não se coloca ao nível do sistema. Está no desempenho das pessoas. Tão-somente.
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quinta-feira, 6 de setembro de 2007

De repente, pode o mundo desabar?

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Quando a ministra anunciou, com ar sério e compenetrado, que os problemas da educação eram responsabilidade directa dos Professores e, sobretudo, da sua progressão na carreira, que assentava no tempo de serviço e não no mérito, os atingidos, duma forma mais ou menos generalizada, sentiram-se ofendidos e injustiçados.

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Quando a mesma personagem publicitou a solução encontrada, que passava pela divisão da classe (se existe tal arranjo profissional) em dois níveis hierárquicos, surgiu a indignação. Todos foram, eram e seriam, até ao fim, apenas e só Professores - significando este só uma imensidade!

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No momento em que concretizou a medida, já a responsável principal pela Educação respirava satisfação. Era notório, como se confirmou no concurso de candidatura a Professor Titular, que a possibilidade de se erguer a esse patamar era mais do que lisonjeador para os interessados. Nem importava que o tempo de serviço (aquele factor tido como maléfico) fosse o factor mais relevante para lá chegar! Era um objectivo essencial, fundamental, que não podia ficar deserto, sob pena de não se integrar o reduzido número de eleitos, onde ficaria a nata do professorado.
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Foi um corre corre, em que não deixei de correr correr também. Os que sabiam que iam ser, os que achavam que tinham possibilidades, os que só tinham algumas expectativas e até os que sabiam que não iriam lá chegar perfilaram-se e candidataram-se. Fizeram contas, para si e para os directos competidores, procurando descobrir ou certificar a sua posição. Trabalharam para outros menos aptos em contas, para os ajudar no mesmo objectivo.
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O tempo de espera foi miudinho, em termos de nervoso, de esperança ou de crença – que os milagres não deixam de acontecer.
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No dia em que os resultados do concurso foram divulgados, havia muitos mistos – de satisfação com alguma modéstia ou indiferença no semblante, para os escolhidos; de resignação, com alguma inveja ou desdenha, nos relegados para a condição do que sempre foram – Professores.
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Vieram as férias e algum descanso, também na inchadura do peito.
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Agora regressa-se à função e, subitamente, de forma inesperada, como um murro nos olhos ainda mal abertos, despertam todos para a realidade.
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Os Professores com a confirmação de estarem condenados a (con)viver com um patamar demasiado alto para lá se acoitarem, ocupado por gente que, tendo sido par, agora é algo mais. Percebem que alguns cargos, que ocuparam com gosto e com profissionalismo, está nas mãos doutros, que nunca os quiseram e que, em muitos casos, os não merecem; sentem-se, sobretudo, sufocados.
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Os titulares com a descoberta, dorida, que os cargos que vão ter que desempenhar são, normalmente, mais, muito mais do que aquilo que gostariam de ter. Sentem que lhes foi feita uma proposta enganadora, que aceitaram sem a antecipar as consequências. Tudo lhes cai nos ombros. Responsabilidade, trabalho, ocupação e deveres são como as estrelas, frios e incontáveis. Coordenar grupos de pessoas, acompanhar percursos escolares, preparar e aplicar instrumentos, equipamentos, estratégias e planos, avaliar e reformular, contactar e assumir, tudo lhes cabe.
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De repente, muito de repente, um sorriso perpassa pelos lábios dos que, querendo lá chegar e não o conseguindo, não estão lá. Não lhes cabe fazer, não lhes compete desempenhar, não vão ter a maçada … que está reservada aos que lá chegaram. Os que estavam (sempre) dispostos a aceitar, ficam do lado de cá do peditório. Os que não olhavam sequer para a sacola, agora seguram-na e não conseguem libertar-se dela. O seu mundo trancou-se, ruiu, esfarelou-se.
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O respirar fundo surge do lado dos que não se sentiram bem, no processo de selecção. Pelo menos, por agora. Porque o tempo, esse velho senhor, não costuma passar sem deixar os seus sulcos bem marcados. Apresentar-se-á a todos, permitindo aos que agora sentem a solidão das alturas perceber o perfume do poder; e aos que sorriem face ao desconforto daqueles, a movimentação para os alcançar. O mundo pode desabar, mas recompõe-se rapidamente.
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