segunda-feira, 30 de abril de 2007

E os direitos, pá, e os direitos?


O autor, Antero Valério, que me perdoe, mas não resisti. Estou numa fase de citações, mas também considero que uma imagem - ou cartoon - vale por mil paráfrases. Sobretudo se dirigido a MLR - por quem nutro (ainda e sempre) simpatia. Um especial agradecimento ao Terrear, que me abre estas portas. A de hoje chama-se "A Educação do meu Umbigo" e é um blogue premiado por JMA. Com justiça, digo eu. Mas não com a nossa ...


quarta-feira, 25 de abril de 2007

A Escola e Abril


Com 16 anos, começava a perceber que as questões da liberdade e da democracia não eram aqui respondidas como noutros países. Uma Professora de História, cujo nome não recordo, tinha já tocado algumas franjas da minha consciência, sem a despertar. Afirmava-se moçambicana e trazia-nos notícias de eleições em Inglaterra e França, sugerindo-nos que as comparássemos ao que acontecia em Portugal.


Onde estava no 25 de Abril? Lembro, difusamente, que me levantei para ir para a Escola (já então entrava às 8h30) e a primeira coisa que a minha mãe me disse foi que algo tinha acontecido durante a noite, pois o meu irmão mais velho (foi preso, uns anos antes, por ter acendido um isqueiro sem ter licença para tal) telefonou do emprego, onde já estava, dizendo que havia tanques na rua.
Ambos consideravam que seria melhor eu ficar em casa e não ir, nesse dia, à Escola. Recusei a ideia e saí, não notando nada de especial nas ruas – para além do sorriso que habitava quase todos os rostos que comigo se cruzavam.
Andava no 6º ano, o primeiro do curso complementar dos liceus, hoje correspondendo ao 10º ano do Ensino Secundário.

O ensino centrava-se na Escola pública – as escolas privadas eram residuais, alguns colégios com resposta, sobretudo, para os internatos – que se dividia em Liceus e Escolas Comerciais e Industriais. Muito diferentes no ensino ministrado e nos Alunos que as frequentavam, as últimas visavam responder às necessidades de formação dos jovens para integrar, com rapidez, o mundo do trabalho citadino, ou prepará-los para frequentar os institutos superiores, que produziam técnicos de qualificação secundária, face às Universidades. Os Alunos eram oriundos de famílias de baixos rendimentos, procurando reproduzir a estratificação social, em função da origem.
Já os Liceus, como o que eu frequentava, procuravam dar alguma instrução às raparigas e preparar os seus Alunos para ingressar nas Universidades, pelo que era frequente encontrar aí os filhos das famílias mais abastadas, lado a lado com alguns felizardos, que eram empurrados pelos pais em busca de um futuro diferente, mais próspero. Foi o que aconteceu comigo, único rapaz lá de casa que frequentou este tipo de Escola.

Poucos chegavam ao Curso Complementar (Secundário). Em termos comparativos, hoje serão dez, vinte vezes mais os que estudam no 10º, 11º e 12º ano, em comparação com 1974. Se, hoje, pouco mais de 30% dos Alunos que estão no Secundário o terminam, imaginem o ridículo número que, então, conseguia esse feito.

Na Escola ensinava-se, não existia o conceito de aprendizagens, como hoje se entende. O Professor era o mestre, que destilava os conteúdos através de uma única forma – a exposição oral. Nós, os Alunos, bebíamos a sua sabedoria, sem a questionar. Se tivéssemos dificuldades, ninguém se preocupava com isso. Cada um que se desenrascasse. Mais uma vez, os Alunos com maiores recursos tinham respostas a que todos os outros não acediam, como acontecia com as explicações, fenómeno permanentemente presente, embora só para alguns.
Obter o Curso Complementar dos Liceus era um feito, só superado pelos poucos que entravam nas Universidades. Nestas, poucas eram as que estabeleciam quotas de entrada – os candidatos eram, na maior parte das vezes, em número inferior às vagas existentes.

Não me quero alongar, quero apenas que conheçam as duas realidades, que o 25 de Abril separou: antes, era a pobreza, o desconforto, a visão estreita da vida e do mundo, que acabava nas fronteiras com Espanha. Lembro-me muito bem da casa em que vivia. Tínhamos televisão, máquina de costura, … e nada mais. A roupa era lavada no tanque, ao frio e à chuva, as compras eram para o dia ou para amanhã, porque não havia frigorífico, e as casas de banho despejavam para fossas sumidouras, que eram despejadas, acompanhadas de um pivete marcante, quando estavam cheias.


Na rua onde morava, a maior parte das famílias vivia como nós ou em piores condições. Nem dois anos passados, frigorífico, máquina de lavar roupa, aquecedor, iogurteira, esquentador ou cilindro, são bens comuns em qualquer casa, por pobre que seja. Nem sequer resulta de se ser mais rico, de ter mais dinheiro do que se tinha, no início dos anos setenta; é toda uma mentalidade que se altera, uma nova forma de abordar a vida, um acesso ao conforto que antes estava vedado, por um regime que se orgulhava de estar só. Infelizmente, estava.

sábado, 21 de abril de 2007

Descanso

É como digo: se não há notícias, tudo bem!


Cerca de duas semanas depois da última publicação neste sítio, que temos, nos media?


Continua a novela do diploma do Primeiro-Ministro; a Independente não fechou mas vai fechar; o Eusébio foi internado; o Pinto da Costa resolveu escrever um livro, onde manifesta, entre outras coisas, a satisfação por ter transformado uma mulher d'alterne numa escritora, depois de ter possibilitado a notoriedade a treinadores e jogadores; há manifestações contra o fecho de urgências; Sócrates elogia o Porto; Fenprof (onde a minha amiga Manuela Mendonça não foi eleita, que ignorantes são os Professores sindicalizados!) promete continuar a lutar contra o novo estatuto; Nos States, um homem barricou-se na NASA, matou um refém e depois suicidou-se, poucos dias após um outro ter morto 31 pessoas numa Universidade, matando-se também, de seguida.


Parece que não há mais nada. Ora bem, assim, por cá, bem vamos! Mal, malzinho, estão os norte-americanos. Já não chegava um Presidente ignorante, agora também há gente armada a matar outros. Ah, já me esquecia. Eles são pelo porte-de-arma livre, para todos, e o Presidente é o primeiro a defender este princípio. Qualquer um pode comprar uma arma, de guerra mesmo, se quiser. Achei graça a um comerciante de armas americano, que teorizava a necessidade dos professores e alunos universitários comprarem também armas, para evitar estas situações. Dizia ele que, se assim fosse, após o 1º morto, o problema era resolvido (deduzo que pelos outros todos, que sacariam da sua arma e disparariam contra o matador!). Meu Deus, e é este o país que assumiu o policiamento do mundo!


Graças a Deus, há os blogs. Quando tudo o resto é tão pobre, resta-me a vanina, o vaimanticoravem, o terrear, o jirenna, os estudos comparados (é assim que mascaro o da gaija), o país profundo ...



















Imagens? Está bem, aqui vai uma. Até um destes dias.

sábado, 7 de abril de 2007

Cumprir Abril


O país está em ebulição. A licenciatura do Primeiro-ministro é motivo de primeira página em qualquer jornal que se preze. A U.I. (leia-se Universidade Independente) está em risco de fechar e compete com o diploma, nas manchetes (palavra tremenda, faz lembrar algo um pouquinho sujo, a precisar de limpeza, ainda que superficial).
Para além destas, as novas são a de um carro que caiu ao Douro (ou lançou-se, de acordo com algumas versões), de mais uns mortos em acidentes de viação e, ainda, assaltos com violência.
Isto podia preocupar-me, mas não. Se as notícias são estas, bem vamos (não sei é qual o destino).
As notícias de mais desempregados são remetidas para pequenos nichos interiores, lado a lado com a questão do défice (deixou de ser problema, aparentemente, já que se brada por descida de impostos).
Os problemas da Saúde só são relevantes quando o Ministro faz asneira (graças a Deus, ele não se faz rogado nesta matéria).
As questões da Educação nem notícia são. Pelo menos, há um ganho, aqui. Significa, penso eu, que a Sra. Ministra começa a alterar a sua estratégia para melhorar os resultados. Já não bate nos Professores, ou não o faz com tanta força. Deve estar a analisar o comportamento dos seus substitutos nesta forma de resolver problemas, os pais de alguns alunos.
A Justiça e a Segurança passam ao lado das novidades (um lado bem escondido, de certeza, tantos são os problemas que aí se vivem).
Assim sendo, tudo vai bem neste país. Eu é que vivo algo mal. Não quero saber da licenciatura do Primeiro-ministro, incomoda-me muito mais o que ele vai fazendo, com ou sem diplomas. Quero lá saber da U.I. (bom, para ser sincero, interesso-me o suficiente para sentir que as coisas não vão bem, quando responsáveis por uma Universidade, Reitores, Vice-reitores ou ex-reitores, que sempre considerei como pessoas de formação elevada, bem mais superior que as instituições que dirigem, em vez de se calarem quando fazem asneiras, aparecem na televisão a lavar roupa suja, sem qualquer pudor). Quanto aos assaltos, mortos na estrada ou no rio, interesso-me residualmente. O suficiente para assobiar para o lado, quando as alterações aos códigos (penal e da estrada) são apresentadas como visando a diminuição da criminalidade ou da sinistralidade. Que treta. Quando os resultados são aceitáveis, todos enchem o papo e botam faladura. Quando, como agora, são maus, péssimos mesmo, ninguém os ouve.
Problemas em Portugal? Um é mais importante que todos os outros. Não há diferença nenhuma, rigorosamente nenhuma, entre quem está no poder e quem se perfila o assaltar. São exactamente iguais. No poder, tudo é defensável, da mesma forma que o outro o fez. Na oposição, tudo é criticável, como antes tinha sido.
Querem exemplos (difícil, difícil é não os encontrar …)?
As alterações ao Código do Trabalho, o projecto da OTA, a avaliação dos funcionários do Estado, o quadro dos excedentes, o TGV, os exames, a mobilidade, a corrupção no futebol, as restrições salariais, o aumento dos impostos … chega, não é?
Continua a faltar cumprir Abril. Todos os dias. Toda a gente. Em tudo.