sábado, 27 de outubro de 2007

Machadada final?

Hoje escrevo com tristeza!

Sinto o desalento e a frustração daquele que vê alguém percorrer um caminho errado e sabe que esse alguém não tem coragem para mudar de rumo a cada cruzamento que passa.
Esse alguém simboliza um país que, a cada passo, deixa para trás valores do passado, inebriado por ideias ocas de sucesso fútil que, ainda por cima, comprometem o futuro.
O desalento e a frustração são o sentimento do homem que, constantemente, se sente impotente para travar os arrepios de sabedoria daqueles que julgam saber do que nunca fizeram.
Falo daquela que será, a acontecer, a machadada mortal para algumas escolas públicas portuguesas.

Parece (é que estas coisas importantes sabem-se sempre primeiro pelos jornais!) que o novo estatuto do aluno vai resolver finalmente dois dos graves problemas da escolaridade obrigatória em Portugal: o absentismo e o abandono.
Como?
Muito fácil. O rapaz falta um tempinho e a gente dá-lhe um exame (não me perguntem quando é que o rapaz fará o exame, se calhar vamos a casa dele levar-lho!). Está tudo resolvido! Finalmente o sonho está realizado: já nem a falta de assiduidade pode causar a retenção. Toda a rapaziada passa de ano, acabaram os chumbos!
Seremos um país de sucesso. Ficaremos no primeiro lugar do ranking. Cumprimos o espírito Europeu!
O facilitismo levado ao extremo. A escola armazém em todo o seu esplendor!
Sobra apenas um problemazito: que resultados aparecerão nos exames nacionais?
Bem, mas este problema também se resolve. Atira-se a culpa para os imbecis dos professores: que não motivam os alunos, que não os habilitam nas competências, que não usam o plano tecnológico. Vai ser fácil atirar o odioso da questão para essa classe de preguiçosos! E, afinal, só se fala uma vez por ano em exames! Porquê tanta preocupação com o conhecimento?

O caminho mais difícil de percorrer é aquele que exige mais esforço. E o grande desafio deste País não é o do índice estatístico, supostamente, imposto pela Europa.
O verdadeiro desafio é saber como se conjuga cumprimento de escolaridade obrigatória com qualidade de aprendizagem.
Para conciliar estas duas vertentes ainda ninguém soube apontar soluções. Se calhar até, ainda ninguém conseguiu encarar o assunto de frente. Para tal é preciso definir prioridades. E tais primados surgirão das respostas que o país quer dar a algumas questões complicadas:

Em que princípios se deve fundamentar o sistema educativo? O princípio da ocupação do tempo das crianças deverá sobrepor-se a todos os outros?
Que regras quer o Estado que a escola dê aos alunos? O Estado quer regras? Ou caminharemos para uma sociedade sem regras?
Deverá o Estado fornecer à escola pública os meios para estar em pé de igualdade com o ensino privado? Ou deverá apenas garantir a subsistência de um número residual de escolas públicas para abarcarem aqueles que não têm possibilidades de frequentar uma privada?
Que suporte dá o estado à família? O Estado quer ter famílias?
Quais as obrigações do Estado em termos sociais? Estará a cumprir tais obrigações? E em termos da criação de condições para o pleno emprego?
É função do Estado zelar pela equidade na distribuição de riqueza?
Que valores proclama o País? Ou já não interessam os valores?

Estas (e muitas outras) são questões importantes que quem dirige o país prefere meter na gaveta. São questões aborrecidas, ainda por cima de difícil resposta.
De certeza que foram inventadas por um daqueles professores que ainda acha que a Escola serve para educar e instruir.



quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Prémio relevante, por se repercutir no futuro

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Parlamento Europeu atribui Prémio Sakharov 2007 a advogado sudanês
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O Parlamento Europeu atribuiu hoje, em Estrasburgo, o Prémio Sakharov de 2007 ao advogado e activista pelos direitos humanos sudanês, Salih Mahmoud Osman, pelo trabalho em favor das vítimas da guerra civil na região do Darfur.
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O destaque tem duas motivações:
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O Darfur é uma região do mundo onde se cometem atrocidades indescritíveis e, seja por estar muito longe, seja por se situar no continente da extrema pobreza, seja por não ter recursos naturais relevantes, a verdade é que ninguém se preocupa muito com o povo que ali sobrevive e, sobretudo, morre.
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Saber que foi atribuído um prémio, que sempre vai ecoando na consciência dos poderosos, a alguém que tem um mar de coragem para agir, como acontece com Osman, no centro do terror absoluto, tem que ser a notícia do dia. Mesmo sendo o premiado um advogado. Ou por causa disso mesmo.
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E porque, muito perto, em Juba, no Sul do Sudão, trabalha o meu amigo José Vieira, missionário para quem a vida só se entende se a prioridade da acção humana residir na dádiva, na solidariedade, no serviço em prol do outro, sobretudo se estiver fragilizado.
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O seu blogue, JIRENNA, é um hino à paz, à cooperação, à dedicação exclusiva ao próximo. Porque permite estar perto dele, a visita diária ao blogue é, para mim, um acto de cumprimento religioso. Assim mesmo.
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segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Bem que gostaria de não dizer eu não disse ...

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No Sábado, 2 de Junho de 2007, em texto publicado, dizia o que aqui se pode constatar.
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Só passaram 4 meses e já se confirma o que aí receava. Notícia do dia de hoje: a electricidade vai aumentar 2,9%! Conseguem ver alguma relação entre as notícias? Não? Ah, já estão a ver! Bem me queria parecer ...
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E como não apareceu quem apostasse comigo ...
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Vou repetir essa parte. Merece.
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Bom, vamos tornar breve uma longa história. Aposto com quem quiser que, daqui a um ano, a factura da electricidade vai ser bem mais pesada. E esta é uma aposta séria! O que me incomoda é a inexistência de apostadores. Se aparecer algum, não posso concretizá-la, pois não devemos apostar com doidos ou tirar dinheiro a gente ingénua.
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Nem um anito demorou. Não temos sorte nenhuma!
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O ministro da economia (assim mesmo, pequeno, pequenino, minúsculo) julga que andamos todos a dormir. É tempo de lhe mostrar que não andamos. De o mandar para a rua. De correr com ele. Para começar. Outros irão a seguir (se possível, para o Irão). Do mês para falar de coisas boas, passámos para a tribuna anti-governo. Lá terá que ser ...
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Coisas boas em baixa ...

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Há cerca de 10 dias que procuro uma notícia, um evento, um acontecimento que mereça ser relatado, por ser uma coisa boa.
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Há 10 dias que nada encontro.
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Se mais ninguém consegue encontrar algo rapidamente, e fazer disso notícia, começo a ficar preocupado.
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Entretanto, dois acontecimentos pessoais vão amenizando a coisa:
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A Sofia fez 10 anos e festejamos tal facto condignamente (mesmo com muitíssimo prazer); confesso, sem preocupações, que sei menos (de muita coisa - a que nunca soube, a que esqueci logo, a que esqueci em pouco tempo e a que esqueci pelo não uso) que uma criança de 10 anos. E ainda bem que assim é;
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E o meu vice, o Raimundo, também fez anos (45! Agora é uma diferença aceitável, mas se registarmos que o conheci quando tinha 14 anos e ele 10, entenderão a relatividade da coisa - e porque, na altura, não lhe ligava nenhuma).
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sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Mudar para melhor

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O fim da estrada da morte - A 3 de Julho, uma mulher morreu na A25, na saída Viseu/Norte, junto a Boaldeia. Foi o primeiro e único acidente rodoviário com vítima mortal registado após a conclusão, a 30 de Setembro de 2006, da transformação do IP5 em auto-estrada. A mulher, cuja identidade não foi revelada, seguia ao lado do condutor quando o carro se despistou, cuspindo-a violentamente para a faixa de rodagem. O acidente foi a excepção de uma paz, quase completa, na estrada que sucedeu ao pesadelo do IP5, via onde morreram, desde a década de 80, centenas de pessoas, a uma média de 25 por ano.
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Esta é uma notícia do JN de hoje. Para mim, a única notícia que o Jornal devia destacar. A transformação de uma via que somava 25 mortes por ano (IP5) numa outra em que morre apenas uma, pelo menos por agora, tem que ser A NOTÍCIA do momento.
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Há mais coisas boas a apontar?
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