domingo, 30 de setembro de 2007

Apontar o que ESTÁ BEM

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Vamos fazer de Outubro o mês do "dedo" do bem. Vamos apontar o dedo às coisas boas que conhecemos. Este é o verdadeiro desafio.
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Falar do que está mal, é fácil. Apresentar soluções, é bem mais difícil.
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Tarefa complicada é mostrar o que está bem - não pela raridade dos factos, mas pelo que desnuda, no que respeita às nossas convicções, tendências e tentações.
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Começo por uma pessoa que está de saída, para entrar noutros mundos.
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Tenho quase 50 anos. Nasci e cresci em Vila Nova de Gaia, cidade vizinha do Porto e pelo Porto abafada. Dormitório que sempre quiz ser mais. Grande no espaço, na gente, na vontade de se afirmar.
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Os estúdios do Porto da RTP foram sempre em Gaia. O vinho generoso enriquece em Gaia, mas deu e dá nome à capital do Norte.
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Não tenho memória de reais investimentos pessoais que projectassem a cidade. Conheci uma boa dezena de responsáveis pela edilidade que trabalharam com maior ou menor denodo, mas nenhum logrou edificar um lugar aprazível, desenvolvido, moderno e modelar.
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Até que chegou Luis Filipe Menezes. Não esperava muito, à data. Não pertenço ao quadrante político onde ele se move, antes me situo em espaço ideológico bem afastado.
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Mas a realidade não se compadece com pré-conceitos, com concepções puramente teóricas.
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Menezes investiu na cidade. Muito. Pode ter tido motivos egoístas, mesquinhos, desprezíveis. Mas deu muito, sobretudo de si. Correu riscos, enfrentou adversários poderosos, avançou nas ideias e levou à prática. Fê-lo de forma coerente e, mais importante ainda, de forma constante.
Não adormeceu à sombra do que começou a fazer, nunca parou, construiu sempre.
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Dois aspectos registo, na sua governação: não se mostrou satisfeito, nunca, nem nos melhores momentos. A sua vereação, os que com ele trabalharam, foram sempre substituídos, no momento de iniciar novo mandato. Por muito bem que tivessem desempenhado a tarefa, por muito importantes que (se julgassem ou que) fossem. A sua ambição não é (não foi, em Gaia) limitada. E nunca deixou de actuar, de fazer o que pensava ser certo, fossem quais fossem os grupos de pressão. Mesmo que representassem uma fatia significativa dos seus eleitores ou dos seus financiadores. Nem os aspectos menores o fizeram perder tempo.
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Alguns exemplos da sua obra política:
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O realojamento não se centrou num local, antes se espraiou por todo o concelho. Não criou bairros socialmente degradados, não ghettizou pessoas;
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A requalificação, com preocupações ambientais, foi sempre um objectivo prioritário. Não em função dos interesses dos mais abastados, mas dos seus munícipes. A Ribeira de Gaia, a Costa Marítima e o centro da cidade são bons exemplos;
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O que não dependia de si não era abandonado, alijando responsabilidades que seriam doutros. As vias de comunicação que atravessam e circundam a cidade são admiráveis obras de outros, que só se concretizaram nos seus mandatos;
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Não desprezou o desporto e a cultura. Atraiu instituições de relevo - o F. C. do Porto, o TEP, esteve na construção de infra-estruturas culturais e desportivas - as piscinas nas freguesias, os poli-desportivos, a Casa da Cultura, os estádios do Candal e de Canelas;
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Apoiou a Educação, sem se desculpar com os deveres do poder central.
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Por último, que isto já vai longo: ao contrário do que acontece com a generalidade dos municípios do país, V. N. de Gaia tem visibilidade, no que foi feito. Também terá ultrapassado os limites do endividamento, terá desviado verbas de uma rubrica para outra, estará a dever a muita gente, mas, pelo que se pode constatar, o destino foi o concelho. E isso, para mim, munícipe de Gaia, basta.
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Em tempo: não sei como será, à frente de um partido político com dimensão nacional (ainda que se mantenha na Câmara de Gaia, para ter uma plataforma de intervenção pública, considero que já cá não mora); nem como será, se lhe confiarem os destinos do país.
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Mas os indicadores que construiu, enquanto responsável pela minha cidade, são muito bons.
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Conhecendo a capital do país como conheço, Luis Filipe Menezes não se deve esquecer do que disse, que se mantém actual (sulistas e elitistas) e de Fernando Gomes. A outro nível, mas também indicador a não menosprezar.
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domingo, 23 de setembro de 2007

Com vero rasgo

a) Há escolas completas e incompletas (segundo a terminologia fundadora do século XIX, adaptada ao século XXI).

b) Os pais – ou quem as suas vezes fizer - escolhem as escolas, segundo o que desejam para os filhos ou afilhados; se não cabem, o Estado custeia a deslocação para outra escola do mesmo tipo.

c) As actividades propriamente lectivas começarão na primeira semana de Outubro, durante 26 semanas, correspondendo a um ano lectivo.

d) Nas escolas completas, tanto a carga horária de cada disciplina como o número de disciplinas por ano de escolarização são variáveis. As disciplinas não são estanques e as planificações prévias são o tudo que é nada. O dia a dia será discreto – que a vida é mais que «aquilo» e, em boa parte, pré-existe sempre «àquilo». A vida continua e expande-se por fora e por dentro-fora.

e) Nas escolas incompletas o currículo será uniforme, talhado pelos técnicos superiores do ministério ou ministérios que se sintam vocacionados para chamar a si o ensino, a aprendizagem e o plano previamente traçado, no interesse macro-teórico do país. Aqui haverá diplomas, notas e exames, como desígnio objectivo para uma sociedade que realça o mérito assim conseguido. Avaliação de professores por professores mais qualificados é uma invenção refundadora de todo o edifício escolar, desde D. Maria I. Produzir-se-ão estatísticas para o «mercado comum europeu». Haverá felicidade decretada.

Porto, 26 de Abril de 2010

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Um sinal dos céus

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Hoje estou amargo. Tudo o que aconteceu, ao longo do dia, foi doloroso, penoso mesmo.
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Vi o lado lunar de algumas pessoas. As vantagens pessoais a derrotar a ideia do melhor para a comunidade. A mesquinhez e a visão redutora, empalada, que a assiste.
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Ouvi descrições de prepotência. Dos que, controlando um qualquer organismo, sabendo-se detentores da força da maioria, espezinham e desrespeitam os que estão em minoria.
Um líder que aponta o dedo a quem o afronta, só porque o faz, só porque existe. Não às incapacidades, às inabilidades ou à falta de talento para desempenhar o cargo em disputa.
Já ontem tinha ouvido um a queixar-se de não ter tido condições para fazer, face a outra a vangloriar-se do pouco tempo que precisou para também fazer. Quanto à qualidade, à pertinência, à utilidade real do que (não) foi feito, nem uma palavra.
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Assisti (volto ao presente) a uma notícia de pequenez. Vivo num país em que as pessoas só encontram solução para os seus problemas se forem (imaginem!) a Cuba. Em que se diz que, pelo menos uma pessoa, porque foi demasiado tarde, não tem já solução para o seu problema. Em que outros, bastantes (um que fosse já era muito!) afirmam que esperaram por uma solução no nosso país durante 10, 12, 15 anos. Sem nunca a terem.
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Agora, somem isto: a solução passa por uma intervenção cirúrgica SIMPLES! O responsável nacional pela solução diz que bastaria que os profissionais fizessem mais UMA consulta e MEIA intervenção por dia para não haver mais problema(s) deste tipo (listas de espera). Ao mesmo tempo, confirma que tem 5 (cinco!) profissionais em toda uma região do país, que tem centenas de milhares de habitantes. Que aguarda a resposta de profissionais estrangeiros para resolver (este) problema.
Na altura em que todos sabemos que entraram (apenas) umas dezenas de jovens nas instituições superiores que os preparam. E que, nesta área específica, nem uma mão cheia se forma, todos os anos!
Ele, o responsável, acha positivo, acha que é uma coisa boa, as pessoas irem a Cuba resolver este problema (de solução simples!). Acha bem que as Câmaras os subsidiem. Acha bem ... ele e o seu representante no local!
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peço desculpa pelo pessimismo. Mas hoje sinto-me assim. PORQUE A NOTÍCIA TINHA UM AR NATURAL, DE COISA COMESINHA, não escandalosa. Antes que eu me sinta demasiado mal com o país em que me forçaram a nascer e em que escolhi viver, por favor apontem-me alguns exemplos de coisas boas - mas melhores que a trasladação de Aquilino Ribeiro para o Panteão. Por favor!
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Já agora, e ao menos por uma vez, Viva Cuba! Agora entendo melhor o ar altivo dos cubanos, quando falam da sua ilha - ainda que vivam em MIAMI.
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sábado, 15 de setembro de 2007

Temas (pouco) interessantes

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1 - Scollari
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Ser treinador significa ser modelo, para os seus atletas tanto quanto para o público;
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Ser treinador de uma selecção nacional reforça esse papel. Se a modalidade de que se tem essa responsabilidade é a mais seguida pelo público, a mais vista, maior importância assume esse papel (desempenhado).
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Os resultados desportivos não deixam de ter importância similar. E o que conta, para mim, é a qualidade e quantidade dos resultados que se atingem. De facto, ainda que as condições sejam diferentes e mais favoráveis, a verdade é que, antes de Scollari chegar, os resultados eram fracos, medíocres mesmo. Com ele, uma presença numa final de um europeu e uma outra nas meias-finais de um mundial foram conseguidas.
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Todos tem (ou devem ter) a oportunidade de cometer um erro e emendá-lo. De se desculpar desse erro e ser desculpado. Até o treinador da selecção nacional de futebol.
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Acredito que o próprio poderia (e, se calhar, deveria) ter sido mais exigente consigo que os outros (todos). Se se demitisse, só lhe tinha ficado bem. Pedindo desculpa, como o fez. Com humildade, que não teve.
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Mas acredito que pode (e deve) mostrar que o que aconteceu foi pontual, marginal e não significativo. Espero que assim seja. Até porque a margem para o erro desapareceu. E o sucesso ou insucesso deste apuramento deve ficar ligado ao responsável pela campanha. Logo, ele deve terminar a fase. Logo se vê se é tão bom como aparenta. Sem dúvidas: se Portugal se apurar para a fase final, com ele no comando, é mesmo bom.
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Em tempo: não gosto do homem, que cedo descobriu o confronto norte-sul do futebol e se acoitou à sombra dos poderosos - ainda por cima, contra os "meus".
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2 - Maddie
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Poderia, com legitimidade, afirmar que sempre soube e disse, desde os primeiros dias da tragédia, que a menina estava morta. Não por conhecer qualquer dado que os outros não dispunham. Ou por ter poderes mágicos exclusivos. Apenas por aplicar a lei das probabilidades, face a outros casos (números) do mesmo tipo. Reconheço que, no início, não coloquei os pais como os principais suspeitos. Acreditei que outro(s) foram os responsáveis.
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Mas sofri do síndrome da bondade parental. Os actos praticados pelos pais, a cruzada pela recuperação da menina, a presença constante nos media, procurando manter viva a esperança e a imagem da criança, como desaparecida e recuperável, ajudou. Esqueci que os homens são assim mesmo, capazes dos mais heróicos e altruístas gestos quanto das mais monstruosas actividades - sendo desconhecidos ou família, pormenores absolutamente irrelevantes.
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Pelos conhecimentos que vou acumulando, será mais fácil para mim aceitar que os pais sejam suspeitos, mesmo os principais suspeitos, pela morte da pequena Maddie.
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No entanto, considero que devemos ter em conta duas pequenas (enormes) notas:
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Seremos todos melhores pessoas, sem ingenuidades bacocas, se soubermos esperar que se comprove a culpa, seja de quem for. Enquanto suspeitos, os pais não são culpados. Merecem a nossa indulgência e paciência. Merecem ser tratados com consideração e respeito. Merecem ser deixados em paz.
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Mas também devemos saber ler nas entrelinhas, nas acções que se praticam, na forma como tudo se desenrola. Ser exigente, não desculpar formas de agir desiguais, tratamentos preferenciais para quem tem ou está perto do poder.
Não é possível considerar que a não recuperação do corpo não é relevante, para condenar a mãe da Joana, é já o passa a ser, para possibilitar a desculpabilização doutros suspeitos, próximos de poder persuasivo, influente; ou que os indícios são suficientes para decretar a prisão preventiva para o primeiro caso citado, e agora nem sequer são impeditivos da saída do país para os segundos referidos. Algo vai mal nesta forma de praticar a justiça. Muito mal.
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Em tempo: sou muito crítico do nosso sistema judicial. Acho que funciona mal, não garante coisa nenhuma. Mas este caso não se coloca ao nível do sistema. Está no desempenho das pessoas. Tão-somente.
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quinta-feira, 6 de setembro de 2007

De repente, pode o mundo desabar?

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Quando a ministra anunciou, com ar sério e compenetrado, que os problemas da educação eram responsabilidade directa dos Professores e, sobretudo, da sua progressão na carreira, que assentava no tempo de serviço e não no mérito, os atingidos, duma forma mais ou menos generalizada, sentiram-se ofendidos e injustiçados.

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Quando a mesma personagem publicitou a solução encontrada, que passava pela divisão da classe (se existe tal arranjo profissional) em dois níveis hierárquicos, surgiu a indignação. Todos foram, eram e seriam, até ao fim, apenas e só Professores - significando este só uma imensidade!

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No momento em que concretizou a medida, já a responsável principal pela Educação respirava satisfação. Era notório, como se confirmou no concurso de candidatura a Professor Titular, que a possibilidade de se erguer a esse patamar era mais do que lisonjeador para os interessados. Nem importava que o tempo de serviço (aquele factor tido como maléfico) fosse o factor mais relevante para lá chegar! Era um objectivo essencial, fundamental, que não podia ficar deserto, sob pena de não se integrar o reduzido número de eleitos, onde ficaria a nata do professorado.
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Foi um corre corre, em que não deixei de correr correr também. Os que sabiam que iam ser, os que achavam que tinham possibilidades, os que só tinham algumas expectativas e até os que sabiam que não iriam lá chegar perfilaram-se e candidataram-se. Fizeram contas, para si e para os directos competidores, procurando descobrir ou certificar a sua posição. Trabalharam para outros menos aptos em contas, para os ajudar no mesmo objectivo.
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O tempo de espera foi miudinho, em termos de nervoso, de esperança ou de crença – que os milagres não deixam de acontecer.
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No dia em que os resultados do concurso foram divulgados, havia muitos mistos – de satisfação com alguma modéstia ou indiferença no semblante, para os escolhidos; de resignação, com alguma inveja ou desdenha, nos relegados para a condição do que sempre foram – Professores.
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Vieram as férias e algum descanso, também na inchadura do peito.
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Agora regressa-se à função e, subitamente, de forma inesperada, como um murro nos olhos ainda mal abertos, despertam todos para a realidade.
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Os Professores com a confirmação de estarem condenados a (con)viver com um patamar demasiado alto para lá se acoitarem, ocupado por gente que, tendo sido par, agora é algo mais. Percebem que alguns cargos, que ocuparam com gosto e com profissionalismo, está nas mãos doutros, que nunca os quiseram e que, em muitos casos, os não merecem; sentem-se, sobretudo, sufocados.
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Os titulares com a descoberta, dorida, que os cargos que vão ter que desempenhar são, normalmente, mais, muito mais do que aquilo que gostariam de ter. Sentem que lhes foi feita uma proposta enganadora, que aceitaram sem a antecipar as consequências. Tudo lhes cai nos ombros. Responsabilidade, trabalho, ocupação e deveres são como as estrelas, frios e incontáveis. Coordenar grupos de pessoas, acompanhar percursos escolares, preparar e aplicar instrumentos, equipamentos, estratégias e planos, avaliar e reformular, contactar e assumir, tudo lhes cabe.
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De repente, muito de repente, um sorriso perpassa pelos lábios dos que, querendo lá chegar e não o conseguindo, não estão lá. Não lhes cabe fazer, não lhes compete desempenhar, não vão ter a maçada … que está reservada aos que lá chegaram. Os que estavam (sempre) dispostos a aceitar, ficam do lado de cá do peditório. Os que não olhavam sequer para a sacola, agora seguram-na e não conseguem libertar-se dela. O seu mundo trancou-se, ruiu, esfarelou-se.
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O respirar fundo surge do lado dos que não se sentiram bem, no processo de selecção. Pelo menos, por agora. Porque o tempo, esse velho senhor, não costuma passar sem deixar os seus sulcos bem marcados. Apresentar-se-á a todos, permitindo aos que agora sentem a solidão das alturas perceber o perfume do poder; e aos que sorriem face ao desconforto daqueles, a movimentação para os alcançar. O mundo pode desabar, mas recompõe-se rapidamente.
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sábado, 1 de setembro de 2007

Barroso, como Eça, continua actual

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Envia-me o Pandacruel um texto de Alfredo Barroso, cunhado de Mário Soares, publicado há 1 ano (em Setembro de 2007), no semanário Sol.
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Porque há coisas que não podemos olvidar nem deixar que os outros esqueçam;
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Porque a actualidade do texto não só se mantém, como estará mesmo reforçada;
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Porque diz o que eu também penso, usando uma forma que basta;
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E porque me faz lembrar os tempos do PREC (Processo Revolucionário em Curso, 74-76), onde a minha militância política (curta e modesta) me fazia proclamar a evidência da "irmandade siamesa" entre Ps e PPD, que Barroso regista e realça,
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Aqui publico excertos desse texto, mais uma vez com a devida vénia ao autor e ao semanário:
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OS POBRES QUE PAGUEM A CRISE!
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Por Alfredo Barroso
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O ESTADO de completa devastação ideológica em que se encontra o PS pode ser avaliado pelos resultados obtidos ao cabo de dois anos de governação. Empenhado em meter o país nos eixos, o Executivo chefiado pelo sempre severo e temível engenheiro Sócrates cometeu uma proeza (in)digna de qualquer partido socialista que se preze: uma redução rápida e brutal do défice do orçamento do Estado e uma subida vertiginosa das desigualdades sociais; um aumento algo pindérico da taxa de crescimento do PIB e uma diminuição bastante significativa do poder de compra dos trabalhadores. Mais: enquanto o desemprego se situa a um nível muito alto e a precariedade se generaliza, as grandes fortunas prosperam, tendo crescido 35,8 por cento em relação a 2006. Um escândalo. Se estes são resultados dignos de um governo socialista, vou ali e já venho.

PARECE ABSURDO que o combate à crise económica e financeira, levado a cabo por um governo pretensamente socialista, em nome dos superiores interesses do país, resulte em maiores desigualdades sociais, mais precariedade, mais desemprego e mais pobreza, ao mesmo tempo que as grandes fortunas aumentam vertiginosamente. Mas, como dizia Napoleão, «em política, o absurdo não é um obstáculo». Não se contesta o papel crucial da propriedade privada e do capital no desenvolvimento de uma sociedade aberta, livre e democrática. Mas é legítimo perguntar que contribuição têm dado os mais ricos para combater esta crise tão grave. Queixam-se de que o Estado os estrangula, mas a verdade é que as suas fortunas crescem a olhos vistos, ao mesmo tempo que as classes médias empobrecem e os trabalhadores sofrem os efeitos da técnica da banda gástrica que este Governo decidiu aplicar-lhes para lhes reduzir o apetite. O que é indecente.

AS CHAMADAS «práticas clientelares» (mais evidentes ao nível autárquico) e de «governo paralelo» (das grandes empresas e interesses financeiros) impõem-se, hoje, aos partidos do «bloco central». Por isso, não espanta que a passagem do poder do PSD para o PS (e vice-versa) não seja mais do que «saltar do lume para a frigideira». Dizem as boas línguas que o Governo do engenheiro Sócrates tem feito «reformas muito corajosas». Eu, que sempre fui má-língua, limito-me a perguntar: é preciso coragem para exigir aos pobres que paguem a crise?!

«Sol», 1 de Setembro de 2007
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