quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Recomeçar

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Tomo a liberdade de "buscar" nos comentários da publicação anterior matéria para este novo "post". Sei que o(s) autor(es) desses comentários não se importará(ão) com este pequeno abuso.
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Quer a CONFAP, quer o pandacruel (que conheço há muitos anos e a quem confiaria sem hesitar, se tal se proporcionasse, a formação dos meus filhos, isto para abrir horizontes a quem o não conhece), desenharam algumas propostas que não estão no terreno, mas que merecem ser consideradas. Vamos ordená-las:
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Criação do Provedor da Criança;
Interessante, esta sugestão. Em princípio, com Pais e Professores, todas as crianças deveriam estar "providas", não necessitando de um Provedor. Depois, todas as áreas sociais com Provedor revelam uma característica comum: são o que são e assim continuam, porque o Provedor pouco importa na sua regulação. No entanto, se desenvolvida, esta ideia poderá ser interessante.
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Articulação curricular nos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, com a redução do número de disciplinas que os integram;
Mais do que pertinente, esta posição. Acrescento: 30 tempos lectivos (correspondentes a 5 dias a 6 tempos lectivos diários, ou seja, só de manhã) acrecidos de 6 tempos de apoio, projectos, clubes, orientação (correspondente a 5 dias a 2 tempos diários) deveria ser o limite máximo possível, em cada Escola. O ideal seria 24 tempos + 6 tempos, num máximo de 30 tempos na Escola.
2 novidades a considerar no complemento (na tarde): 1 tempo para debate/exercício de cidadania/democracia e 1 tempo para abordagem da interculturalidade. Juntemos aqui a 3ª língua estrangeira, proposta pelo pandacruel, numa primeira fase, e teríamos condições promocionais da qualificação do ensino. Convenhamos que, nesta perspectiva, a Escola a tempo inteiro estaria "fora" da competência dos Professores, o que se me afigura correcto. Da mesma forma que as AEC (actividades de enriquecimento curricular), tudo o que estivesse para além deste modelo seria da responsabilidade da autarquia, com os seus monitores, funcionários, técnicos, etc.. O alargamento desta organização ao Secundário de formação não profissionalizante seria natural.
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Avaliação efectiva e eventual revisão dos critérios de orientação pedagógica das aulas de 90 minutos e da sua aplicação pelo corpo docente (técnicas de pedagogia activas, trabalhos de grupo, etc.);
Quanto mais leio e estudo esta matéria, mais me parece pertinente que se avance nesta avaliação. Não só na busca dos critérios e da sua aplicação. Também o tempo de 90 minutos deve ser reanalisado. Não para se voltar aos 50, isso não. Mas estou convencido que, entre os 60 e os 75 minutos deve andar a boa solução para que o tempo de aula não seja desperdiçado. Os países que conheço não se organizam em tempos de 90 minutos - nem lá perto! Itália (60 minutos, de manhã) Islândia (60 minutos, manhã/tarde) e Inglaterra estão estruturados fora dessa lógica.
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Que cada agrupamento de escolas disponha de um veículo motorizado, a gerir pelo Órgão de Gestão e ao serviço, também, da Associação de Pais e Encarregados de Educação;
Como eu percebo esta ideia! Dos 25.000 km que faço por ano, com o meu carro, mais de 10.000 são ao serviço da Escola. Ainda esta semana fiz mais de uma centena. E ainda ofereço o meu carro para trazer a equipa de apoio da DREN à minha Escola, quando eles me dizem não poder vir em determinado dia por "não haver carro disponível". Pensando bem, consigo ser até um pouco "lorpa", nesta coisa de gastar o meu dinheiro ao serviço da Escola ...
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Que o ensino de mais uma língua, para além do inglês e do francês, seja declarado de interesse público;
Já comentado supra. Concordo. Espanhol, Italiano, Islandês, Ucraniano ou Russo, são línguas cada vez mais importantes no futuro que já aí está.
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Que passe a haver reuniões, a um sábado de cada mês, entre os encarregados de educação e um ou mais representantes dos directores de turma (devendo estes ficar dispensados de serviço na segunda-feira - a prever no horário 2008-09);
Percebo a ideia, não tanto essa solução dos "representantes dos directores de turma", antes com todos os Professores da Turma. Há Escolas que já vão fazendo isto (Alfena tem um encontro por período entre os Professores da Turma e os Pais, num dia em que os Professores estão na Escola, disponíveis para atender os Pais, em tudo o que estes pretendam). Ah, e não creio ser preciso a dispensa na segunda-feira; basta deixar que a Escola, com autonomia, se organize para responder a esse aspecto.
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Que o ano lectivo comece a três de Janeiro de 2009, para os alunos de seis anos que entrem no 1º Ano de escolaridade, iniciando-se aí novo calendário e novo modelo, a entrar progressivamente em vigor, a saber:
a) Não há princípio nem fim - tudo é sequência - urge romper com a «história» dos anos lectivos e, depois, com as turmas (repito: progressivamente);
b)Os meses de exames serão, em princípio, e salvo melhor opinião, os de Janeiro e de Julho;
c) Neste modelo - que proponho - evidentemente que não há reprovações definitivas, pois a estrutura, próximo da modular, permite dar passos, grandes, médios ou pequenos;
Só pensei neste tipo de organização depois de, há uns anos atrás, ter visitado a Escola da Ponte. Creio que o pandacruel me acompanhou, nessa visita. Mas, entretanto, esqueci o assunto. Agora, que mo relembram, é de considerar a possibilidade.
O que mais me marcou, nesse dia na Vila das Aves, para além da Assembleia (era à 6ª feira de tarde), foi a Aluna que nos recebeu e que, a nosso pedido e escolha, leu uma acta que registava a forma como se resolviam os problemas disciplinares. Não fiquei indiferente à forma encontrada por todos (na Escola da Ponte, nesse tempo, todos decidiam tudo, e todos significava Alunos, Professores, Funcionários, em igualdade), mas o que mais me surpreendeu foi a leitura feita pela pequena - notoriamente mais clara, correcta e esclarecida que a feita pelos meus Alunos, todos do Secundário.
Questionada por mim quanto ao ano que frequentava, franziu o sobrolho e respondeu que não frequentava ano nenhum. Estava na Escola há quase dois anos. E que estava na sala dos que, como ela, já tinham aprendido determinados conteúdos. Quanto ao que iria aprender, nos próximos tempos, tínhamos que ver o quadro onde estava escrito o que ela decidiu aprender.
Ou seja, se percebi bem nesse dia, os Alunos escolhiam a matéria a aprender, dum conjunto defenido pela Escola. Escolhida essa matéria, competia ao Professor começar a trabalhar com ela (e com os outros que também queriam aprender o mesmo).
A única coisa que não entendo é o início do ano em Janeiro. Não sei, sequer, se consigo adaptar-me a isso. Curioso: não é a organização que me assusta, mas o romper de hábitos de vida enraízados (as férias, para mim, acabam com um ano e começam outro - qualquer outra hipótese confunde-me).
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Aqui está um conjunto de propostas que merece ser analisada, discutida, quem sabe, testada no terreno. Ou não?
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1 comentário:

pandacruel disse...

Começar em Janeiro, de preferência com luar, é sempre maravilha, no tempo convencional em que a cultura moderna e contemporânea ocupa o seu espaço. Começar depois da magia da quadra natalícia. Começar com os números, os signos, os símbolos. Começar e acabar. Tenho para mim que o começar pelo S. Miguel, como vem sendo hábito e se perde nas bruma da memória dos viventes, no tempo das colheitas, no grande e vulnerável Outono, nos coloca ainda e serodiamente no coração da civilização agrária, que passou, de todo em todo. Hoje, temos o pomar, a vinha, o olival e estamos a duzentos quilómetros sem problemas. Quanto à horta, é mais complicado, mas já há as torneiras com servo-válvulas e dispositivos de comando e regulação de débito por pilotagem à distância.
E nada de facilitismos, evidentemente. Em todo o caso, interessa semear ideias, algumas inexoravelmente já não para o nosso tempo de seres activos na profissionalidade pública, privada, ou cooperativa. Venham mais.