sexta-feira, 27 de julho de 2007

PSD: Que liderança?

No artigo que recentemente escreveu, “Contra o medo, liberdade”, Manuel Alegre dizia a dada altura, quando se referia às oposições ao actual Primeiro-Ministro: “A verdade é que não se perfilam, por enquanto, nenhumas alternativas à sua liderança. Nem dentro do PS nem, muito menos, no PSD.” Alegre constatava uma evidência. Não é algo que não fosse possível de perspectivar há dois anos atrás. É, de certo modo, natural que dentro do PS não sujam vozes dissonantes. A maioria tem que dar imagem de consenso e apoio ao Governo. Afinal as sondagens continuam a ser favoráveis! Por outro lado, não é fácil ser oposição a uma maioria absoluta e muito menos quando não se perspectivam eleições à porta! Não foi por acaso que só dois candidatos quiseram lutar pela liderança do PSD aquando da última contenda pelo cargo. E mesmo um deles, Filipe Menezes, só o fez porque tinha um objectivo maior: estava mais interessado em ganhar o seu espaço de potencial candidato em próximas disputas do que, propriamente, ganhar aquela em questão.
Daí a trivialidade da constatação. Os críticos do PS não têm condições favoráveis à contestação e o PSD vive o pior cenário para actuar como oposição.

Este panorama não é novo em Portugal. Aconteceu há bem pouco tempo, primeiro nos tempos áureos do Governo de Cavaco Silva e depois, durante menos tempo, nos primeiros anos de governação de António Guterres.

Aproveitei a citação de Alegre porque ela é de todo actual em tempo de eleições no PSD. Sou militante deste partido há muitos anos e partilho dos seus fundamentos há alguns anos mais. E, como militante, renovo nestes tempos a esperança de ver no meu Partido uma liderança forte, capaz de me fazer acreditar, de novo, que são os ideais relativos à pessoa humana e à sua vivência em sociedade que estão na base da acção política.

Existe uma dificuldade que só os militantes do PSD têm na altura de escolher um líder para o seu Partido. No seu subconsciente estão sempre duas referências, Francisco Sá Carneiro e Aníbal Cavaco Silva, que pelas suas virtudes e carismas tornam muito difícil a escolha de um novo líder. É impossível não fazer a comparação, pelo que, saímos sempre um pouco desiludidos com as novas escolhas.
A verdade é que, apesar das suas competências, os últimos eleitos nunca satisfizeram as nossas ambições. E o PSD é assim, vive muito do seu líder, do seu carisma em especial.

Que dizer então do próximo acto eleitoral no PSD e dos candidatos que se perfilam?
A primeira observação refere-se à vontade de ir a votos. A ideia que transparece é que ainda é cedo. Há mais dois anos de oposição pela frente. Talvez daqui a um ano a vontade de ser candidato seja maior.
Marques Mendes leu bem esta realidade. Sabendo da pouca vontade dos seus “incógnitos” opositores internos obrigou-os a decidir: ou revelam-se agora ou esperam mais dois anos!
Filipe Menezes viu-se numa encruzilhada. Foi ele que deu a cara como oposição interna e, sabendo que este talvez não seja ainda o timing certo para si, foi obrigado a decidir.
Há ainda um terceiro candidato cujo o impacto no resultado final me parece ser reduzido.

Marques Mendes foi, para alguns, uma desilusão.
Não partilho desta ideia mas reconheço que faltou alguma coisa. As condições foram complicadas. Até se obtiveram algumas vitórias (nas autárquicas, por exemplo). A comunicação social nunca rumou a nosso favor, é certo. Mas alguma coisa faltou. Houve falhas imperdoáveis sob o ponto de vista de visão política (esta da Câmara de Lisboa foi uma delas!). O Governo esteve sempre muito à vontade para fazer o que bem entendeu. A Democracia ficou a perder e a nossa vontade participar é cada vez menor.
O próprio partido não recuperou de certos vícios que o enfermam. O aparelho, nacional ou local, deixa pouco ou nenhum espaço para a discussão do que é importante. Onde está a abertura à sociedade? Revejo-me cada vez menos nos que suportam ou fazem parte desse aparelho e, com isso, esqueço os princípios e as ideologias que me fizeram dar a cara por este Partido. Dou por mim a questionar o papel dos partidos no actual sistema político. Farão ainda sentido? Se não são os ideais que nos unem o que nos unirá então? O que justifica sermos Partido?

Uma liderança com Luís Filipe Menezes é difícil de perspectivar.
Um olhar pela história leva-nos ao congresso em que proferiu as célebres palavras “sulistas, elitistas e liberais” que o remeteram a uma clausura que só em termos regionais lhe permitiu alguma liberdade. Neste Portugal a duas velocidades, talvez façam mais sentido hoje essas palavras do que na altura em que foram proferidas, mas o certo é que elas podem ainda continuar a fazer mossa. Uma das questões que se põe em relação a Menezes é se ele conseguirá projectar para o plano nacional a sua imagem regional.
Outra é aquela que se relaciona com questões antigas dentro do próprio PSD-Porto. Não esqueçamos as divergências em relação ao próprio Rui Rio.
Mas Menezes tem três trunfos muito importantes. Um, é a obra feita em Vila Nova de Gaia. Outro, é a sua habilidade política em termos de movimentação dentro do aparelho partidário. E depois ainda há o descontentamento com a actual liderança.
Outro aspecto que parece ser possível adivinhar é que, com Menezes à frente, o PSD vai fazer muito mais barulho. Vai aborrecer mais o Primeiro-Ministro porque não vai estar calado nem embarcar nos apelidados pactos de regime que outra coisa não são do que um modo hábil de calar a oposição.

Olho os que se perfilam para serem líderes do PSD e surge, porque comparo, aquela sensação de vazio, aquela insatisfação que só o militante do PSD conhece e que atrás relatei. Recordo novamente os tempos em que acreditava!
Daqui até Setembro gostava que mais alguém ousasse candidatar-se. Não acredito que tal vá ocorrer, mas gostava.
Quem? Não sei.


terça-feira, 24 de julho de 2007

Será verdade?

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Vou transcrever uma mensagem que recebi hoje:
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Um organismo internacional reconheceu mérito educativo, pela primeira vez, a uma escola pública portuguesa. Quando entregar o prémio, a escola já foi extinta...
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EB23 de Pias ganhou um prémio internacional mas vai fechar
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DREN extingue escola premiada
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«A escola EB 23 Padre Agostinho Caldas Afonso foi extinta pela Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) em Abril passado. Fecha as portas em Agosto.
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Na semana passada, o conselho executivo recebeu o aviso de que a escola tinha sido escolhida para receber o "Prémio Iberoamericano de Excelência Educativa 2007" por um organismo internacional não governamental. "A princípio, julgámos que se tratava de uma brincadeira", confessou João Vilar, responsável do estabelecimento de ensino.
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Mas não estavam a brincar. Em Setembro, no Panamá o Conselho Iberoamericano para a Qualidade Educativa, aguarda a presença dos dirigentes da escola para lhe entregar o prémio, em cerimónia oficial. "Não decidimos, ainda, o que vamos fazer", diz João Vilar. Nessa altura, de facto, já a escola estará fechada e os professores - presidente do conselho executivo incluído - estarão colocados noutro estabelecimento de ensino.»
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Como a notícia referia a origem - Expresso Online (sexta-feira, 29-06-2007) e Rosa Pedroso Lima - fui constatar in loco.
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Afinal, é verdade! Agora, temos que colocar outra questão: como é possível? Ou a Escola não reúne as condições físicas (o que tornaria o prémio ainda mais relevante) ou não tem Alunos (o que transformava o prémio numa impossibilidade).
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Se estamos perante a primeira hipótese, há que dotar a Escola de NOVAS condições físicas ou, no limite, mudá-la para outras instalações - nunca fechá-la!
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Se é a segunda causa, mais valia fechar outra(s) e canalizar os Alunos para esta - a não ser que esta se situe num local demasiado remoto.
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Mais uma vez, fui ver. Fica perto, muito perto, de Monção. Tem 200 Alunos, 10 turmas. O edifício tem ar de ter sido projectado para mais. Mas, nesta região, 200 Alunos valem bem mais, para o futuro, pelo que podem potenciar. Se a vontade for apostar no desenvolvimento da região.
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Pensei no que vai sendo feito com as estações dos correios, com as urgências e os centros de saúde, com as maternidades, nestes meios que sofrem de interioridade e percebi. O futuro não passa pelo desenvolvimento sustentado destas regiões.
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FECHEM A ESCOLA, S. F. F. FECHEM AS EXPECTATIVAS. FECHEM O FUTURO.
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sábado, 21 de julho de 2007

Professor titular

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Com a devida vénia ao autor, identificado na imagem [Pinguin (c) http://www.webnews.tv/]
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Isto é, apenas, uma visão das coisas. Pretende-se que seja inodora, incolor e indolor.
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As "regras" deste concurso determinavam os dias 19 e 20 de Julho de 2007 para a afixação das listas definitivas dos candidatos. Durante todo o dia 20 de Julho de 2007, uma informação relevava: "as listas definitivas estarão disponíveis ao fim da tarde". Às 18h30, saí da Escola. Nada de listas, sempre a mesma informação: "as listas definitivas estarão disponíveis ao fim da tarde" .
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20h30, em viagem para um restaurante onde estava previsto confraternizar com colegas, recebo um sms do DGRHE: "As listas definitivas estão disponíveis no site do DGRHE para publicação".
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Fiz uma inversão de marcha imediata e arriscada, voando para a Escola para publicar as listas ... tretas!
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Fui jantar calmamente. 2ª feira também é dia.
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Esta é, só, mais uma vissicitude do concurso, que teve várias, até agora. Uma outra já foi publicada, pelo pandacruel, há uns tempos, neste blogue (marcar passo, em geral). Também sem aroma, cor, ou dor. Isso fica para quem quiser fazê-lo.
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Com alguma cor, o texto de JMA, relativo ao mesmo assunto, que se transcreve (desculpe, mestre, mas é por uma boa causa!):
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Eis a informação prestada ao caro candidato, às 23:22: dgrhe@dgrhe.min-edu.pt23:22 (6 minutos atrás)
Caro candidato, Deve aceder ao site da DGRHE para entrar na aplicação "análise da candidatura" e verificar os campos que o juri indicou como possíveis de serem rectificados.
A aplicação fica disponível apenas dia 19 de Julho até às 24 horas.
Com os melhores cumprimentos,
A DGRHE - Direcção Geral dos Recursos Humanos da Educação
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ATENÇÃO: por favor, não responda a este email, pois o endereço utilizado para o seu envio NÃO ESTÁ configurado para recepcionar emails.
Caso pretenda algum esclarecimento, contacte-nos através do Centro de Atendimento Telefónico: 213943480
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Apenas uma nota complementar: O Júri é um autêntico simulacro, uma figura de retórica e uma ficção. O critério da verdade e da transparência deveriam ser os princípios organizadores básicos. (como se percebe, o caro candidato está a ficar cansado).
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Ah, em tempo: hoje enviei um mail aos colegas candidatos, com as listas. Eles não merecem a angústia da espera. Na minha Escola, não há excluídos. E as listas ainda não contabilizam pontos. Isso só no fim do processo. Assim é, seguramente, menos doloroso.
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sábado, 14 de julho de 2007

Referendo, com alguma pressa!

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Durante muito tempo, a besta foi, para mim, um ser mitológico, com aspecto demoníaco, força incomensurável e fedorento. Habitava o mundo das ideias, não assustando tanto quanto o ar que exibia.
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Depois conheci outras bestas. Andavam por cá, faziam mal. Aprendi o valor das palavras genocídio, limpeza étnica, eliminação física dos opositores. Napalm, radioactividade, guerra química, uso de gases tóxicos, bombardeamentos indiscriminados.
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Quando pensava que estava tudo dito, novas bestas se perfilaram. Terrorismo de estado, ataques preventivos, eliminação dos líderes, bombardeamentos cirúrgicos, invasões promotoras de democracias, separatismo através do terror, terror para marcar posição, terror contra força estadual, terror filho do terror, terror pelo terror.
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Quando acabarão as bestas? E acabarão?
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Havia por cá uma bestinha. Só magoava os sentidos. Falava e doía, falava e feria. Não saía disso. Continua a actuar só a esse nível. Mas proliferou. Agora tem um séquito de bestinhas. Todos falam e dói, falam e ferem.
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O problema está no que nos fazia aturá-lo e aturá-los. Eram dos nossos. Tinha que ser. Afinal, falavam a nossa língua, usavam os nossos costumes, vestiam as nossas tradições, respeitavam as nossas regras.
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Nos últimos tempos, não falam da mesma maneira, parecem estrangeiros. O costume deixou de ser o que nos molda. Parece mesmo que não conhecem tradições. Certeza, certeza, só o que fazem com as regras – as nossas não lhes servem. Não gostam, não respeitam. Razões? Não interessam. A última que ouvi dizia que essa gente votou contra a decisão do país. Não concorda com a decisão, logo não tem que a respeitar. Que interessa se, no passado, votou contra o Presidente da República eleito ou contra o partido que governaria, de seguida. Aí, deve ter feito o favor de os aturar. Leis contra a corrupção e compadrio aplicadas lá? Não, só se eles assim o considerarem. Doutra forma a autonomia não deixa. Reduzir despesas da máquina do Estado? Sim para o continente, para o poder central. Eles não o fazem, só se acharem bem.
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Creio que é tempo do referendo ser usado para decidir uma questão relevante.
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Vamos perguntar ao país se quer continuar a viver com aquela gente. Vamos explicar, primeiro, que só lhes interessa o dinheiro do país, os técnicos do país, as mordomias do país. Não lhes interessa ser parte do país, só lhes interessa receber a parte do país que (acham) lhes pertence.
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Vamos explicar, depois, que sempre quiseram (lá no fundo) não ser parte do país. Quando algo não lhes agrada, usam o separatismo como uma bandeira, melhor, como uma capa de toureiro.
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Para acabar, vamos fazer contas e verificar que estamos melhor sem eles no nosso seio – até pela tendência para morder tão doce peito (que revelam)!
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Proponho: vamos referendar a saída das bestinhas. Já que se não podem erradicar as bestas, pelo menos afastamos os pretendentes. É como tirar uma pedra do sapato ou uma espinha da garganta. Não mata, mas mói. E é bem mais confortável viver sem esses empecilhos.
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Mas não lhes perguntamos (às bestinhas). Ainda votam para ficar e, depois, dizem que são dos nossos - mesmo que o país não os queira. Isso dificultará a compreensão dos compadres europeus, de certeza, e nós, os do país, não queremos que tal aconteça!
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Blogosferistas, vamos a isso? Vamos ao referendo? É tempo de fazer um referendo a sério, não?
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quinta-feira, 12 de julho de 2007

Matemática: Resultados 2007


Não me é fácil escrever sobre os resultados dos exames de Matemática.
Sou professor da disciplina e estou também ligado ao processo de classificação de algumas destas provas. Entendo que deve haver lugar a bastante ponderação naquilo que se diz e escreve sobre o assunto.
O tema é demasiado importante para ser tratado de um modo superficial ou, unicamente, como objecto de arremesso, quer seja político, corporativo ou até social. Trata-se de analisar uma vertente essencial na estrutura de uma sociedade: a forma como se desenvolve e realiza o processo de aquisição de conhecimento dos seus jovens.
Neste pressuposto, deve começar-se por definir, claramente, o que está em discussão. Entendo que deve haver lugar à separação desta reflexão em dois temas que, embora directamente relacionados, devem neste momento ser discutidos separadamente:

Primeiro: Os resultados de 2007 das provas de Matemática (Exames Nacionais) até agora realizados.

Segundo: Os factores essenciais que contribuem para estes resultados, quer no presente ano, quer nos anteriores.

Este segundo tema é o mais importante, é o que merece a nossa reflexão. Dele falarei proximamente.
Hoje, por uma questão de actualidade, abordo o primeiro tema que só existe como objecto de discussão porque (coincidência ou não!) se verificou neste ano de 2007 uma série de ocorrências que, em conjunto, lhe deram sentido. Caso tais factualidades não tivessem acontecido este tema nem merecia reflexão. Tais ocorrências são, basicamente:

·O PAM – Plano de Acção da Matemática.
· Na prova de exame código 635 (Matemática A – 1ª fase, 12º Ano) registaram-se as melhores médias dos últimos dez anos. Pela primeira vez, a fasquia do 10 foi ultrapassada (alunos internos).
· A prova de exame código 23 (Matemática, 3º Ciclo do Ensino Básico) registou os piores resultados da sua (curta) história. Aproximadamente 72,8% dos alunos não atingiram a nota 3 e cerca de um quarto registaram nível 1.
· Na prova de exame código 22 (Língua Portuguesa, 3º Ciclo do Ensino Básico) 86,4% dos alunos obtiveram nota superior ou igual a 3. Trata-se de um resultado assinalável quando comparado com o de 2006 (54,5%)!

Conjugando as quatro ocorrências temos o paradoxo que motiva este primeiro tema:
Os resultados melhoraram onde nenhuma medida extraordinária foi implementada. Pioraram onde, durante um ano lectivo, se investiu na aplicação de um plano.

Como interpretar e explicar isto?
Será admissível concluir sobre o PAM? Que ele falhou ou que ainda é cedo para dele extrair resultados reais? Poderemos agora dizer que o PAM não passa de uma medida de marketing político destinado a desviar a atenção do cerne do problema e que tem como único propósito dizer que se fez alguma coisa?
Será admissível concluir sobre os alunos que realizaram as provas? Que estavam menos ou mais bem preparados? Que têm mais competências matemáticas os alunos que concluíram o 12º Ano agora do que aqueles que o fizeram em 2006? Que têm menos competências matemáticas os alunos que concluíram o 9º Ano agora do que aqueles que o fizeram o ano passado? Que haverá diferenças assim tão significativas no uso da Língua Portuguesa entre os alunos que concluíram o 9º Ano em 2007 e os que o fizeram em 2006?
Será admissível concluir sobre os professores que prepararam os alunos? Que trabalharam melhor ou pior? Que interpretaram melhor ou pior as orientações dos programas?
Enfim, e em conclusão, será admissível extrapolar dos resultados destes exames o sucesso/insucesso educativo nas disciplinas de Matemática e de Língua Portuguesa?
Admito as questões mas recuso as conclusões. Não é possível aferir sucesso ou insucesso a partir dos resultados de, apenas, um ano lectivo. Recuso, por isso, as declarações optimistas daqueles que se apressaram a comentar os resultados da prova de exame código 635 (Matemática A – 1ª fase, 12º Ano) e a chamar para si os louros das (sensíveis) melhorias. Recuso também as projecções e intenções dos que achavam que os resultados da prova de exame código 23 (Matemática, 3º Ciclo do Ensino Básico) não podiam ser piores. Recuso ainda a ideia simplista de que, em educação, é possível aplicar ou copiar modelos causa/efeito, vigentes noutras áreas, e que rapidamente produzem resultados. Para analisar o sucesso da Matemática não podemos visualizar os resultados de um patamar em que apenas enxergamos o ano de 2007. Temos que alargar o campo de visão e recuar alguns anos, ou talvez algumas décadas. Mas essa análise diz respeito ao segundo tema que formulei.
Voltemos ao primeiro:
Os resultados obtidos nos exames de Matemática dependem de muitas variáveis. No caso da prova de exame código 23 (Matemática, 3º Ciclo do Ensino Básico) o PAM passou a ser mais uma delas.
Será possível aferir o peso dessas variáveis? Haverá alguma cujo valor seja determinante para o resultado final?
São perguntas de resposta difícil. Convenhamos que se já é complicado definir todas essas variáveis, quanto mais não será atribuir-lhes quantificação!
No entanto, há algumas variáveis que devem manter valores próximos de ano para ano. Só assim será possível suportar a coerência do sistema de avaliação externa e garantir bases estáveis de comparação entre anos lectivos. Só deste modo poderemos aferir o sucesso do processo de ensino/aprendizagem.
A meu ver, o paradoxo anteriormente enunciado desaparece quando se focaliza a questão dos resultados dos exames de 2007 nestas variáveis que cujo valor se deve manter mais ou menos constante de ano para ano. Penso que há duas dessas variáveis fundamentais que assumiram valores substancialmente diferentes neste ano de 2007.
A primeira é a variável tempo de realização da prova que, no caso da prova de exame código 635 (Matemática A – 1ª fase, 12º Ano), este ano se alterou. O seu valor passou de 120 para 150 minutos. Aqui não há lugar a subjectividade. Foi um facto. Houve mais tempo para resolver. Houve mais tempo para pensar. Houve mais tempo para rever.

A segunda é a variável dificuldade da prova. Todos nós, professores, temos a noção, talvez percepção, do nível de dificuldade que determinada questão, teste ou prova de exame tem para a generalidade dos alunos. Sentimos isso, particularmente, nos exames de Matemática de 2007, quer no de 12º, quer no do 3º Ciclo do Ensino Básico. E porque não dizê-lo, também o sentimos na prova de Língua Portuguesa do 3º Ciclo do Ensino Básico.
A respeito da variável dificuldade concordo com os pareceres que a SPM (Sociedade Portuguesa de Matemática) publicou sobre os Exames Nacionais até agora realizados (http://www.spm.pt/files/notas3ociclo1.pdf e http://www.spm.pt/files/mediasnacionais.pdf). Gostaria até de salientar algumas linhas presentes nos dois documentos:
Relativamente às provas do 3º Ciclo do Ensino Básico:
De qualquer maneira, é de salientar que as provas não têm sido construídas de forma consistente de ano para ano e que a sua comparação é difícil. Nesse aspecto, a milagrosa melhoria conseguida a Português é, no mínimo, chocante”.
Relativamente à prova de Matemática do 12º Ano:
Conforme já afirmámos, o exame foi mais simples, atendendo à forma como foram colocadas as questões. Esta prova apresentou questões menos laboriosas e de uma forma mais clara, em termos de organização das ideias”.
A variável dificuldade não manteve, pois, a constância desejada.

Depois há ainda outros aspectos específicos às provas que poderiam ser abordados e contribuem também de um modo decisivo para os resultados finais. Refiro a relação entre a cotação definida para uma dada questão e a dificuldade e o trabalho de resolução dessa mesma questão. Observe-se que não estou a afirmar que houve desrespeito pelo peso de cada tema do programa. O que penso é que, particularmente na prova de 12º ano, é preciso equacionar com mais cuidado essa relação.
Refiro ainda os critérios específicos de correcção (que todos devemos respeitar escrupulosamente) mas que, às vezes, superam a nossa capacidade de entendimento.

Em síntese: as alterações verificadas nas médias dos resultados das provas de exame de Matemática realizadas até agora neste ano de 2007 resultam, essencialmente, de factores inerentes às próprias provas. No que respeita ao que é importante, a aprendizagem, o conhecimento adquirido e as competências evidenciadas pelos alunos, não parece ter havido diferenças substanciais em relação ao que tem sido o quadro dos últimos anos em Portugal.

domingo, 8 de julho de 2007

Dizer bem

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O costume é dizer mal. Mas há sempre um tempo em que o bem prevalece e deve ser amplificado.
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Percebi, nas notícias que trataram o tema, que o Professor em causa tinha sofrido bastante mais porque teria tido que trabalhar em componente lectiva, quando não tinha condições para tal.
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Soube, depois, que a Escola o protegeu e, porque estão na corrente, também a Direcção Regional de Educação do Norte e o Ministério da Educação acabaram por o fazer.
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Só não compreendo como podem os media calar estas coisas, jogando apenas com o que é sensacionalista. Não aprenderão nunca esta coisa da verdade ser como o azeite? Ou estarão convencidos que o que parece, não sendo, acaba por ser?
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quinta-feira, 5 de julho de 2007

Tolerância ... cof ; esprrrcrrrtico!

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Notícia dos jornais (e aqui não importa qual), relativa à a decisão de Correia de Campos de exonerar a directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho que, de acordo com a tutela, se recusou a retirar um cartaz com um comentário considerado jocoso em relação ao ministro da Saúde:
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... Segundo Manuel Alegre, deputado socialista, pelo despacho "é difícil perceber-se o que se terá passado no Centro de Saúde de Vieira do Minho".
"Em todo o caso, penso que se está perante uma reacção desproporcionada e pouco conforme com a tradição de tolerância e de espírito crítico dos socialistas", declarou Manuel Alegre.
Manuel Alegre deixou ainda um recado para o interior do PS e para o Governo: "Pretendi educar muita gente no PS dentro desse espírito de tolerância, mas, pelos vistos, sem resultados"[...].
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Esta publicação podia servir para aplaudir um deputado que não cala a sua indignação nem deixa que o calem (não sei porquê, lembrei-me dos bonecos do Contra);
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Podia, também, servir para publicamente afirmar que me é difícil perceber a mesma coisa, sem assumir o custo (e o perigo) de usar palavras minhas - não que isso seja coisa certa. Uma vez usei o que outro disse, lembras-te pandacruel?, e fui literalmente lançado aos cães;
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Podia, ainda, servir para glosar a expressão "tolerância e espírito crítico dos socialistas", por implicar uma insolúvel contradição nos termos, quero dizer, nos socialistas e noutros de enquadramento similar, quando se trata de ser tolerante ou ter aquele espírito. Normalmente, os próprios acham que só os próprios conseguem atingir aquela peculiar forma de ser e estar, que é apenas própria deles próprios. O que significa que os outros não o conseguem ser. Logo, se analisado por todos os lados, os dos próprios, os outros serão todos, pelo que nenhum o consegue ser. Se está confuso, está bem assim.
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Não. Só a uso para dizer uma coisinha. No parlamento, nos socialistas, nos políticos há, pelo menos, uma pessoa que sente, na pele, as angústias de quem se dedica à educação dos outros e avalia os resultados conseguidos. Ainda que aquele viva no tempo do trabalho a montante, quando nós já estamos na foz há muitos anos - o que nos incomoda não é não conseguir resultados quando tentamos educar, mas o que não atingimos quando tentamos que os outros aprendam.
Nuances.
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