
Daí a trivialidade da constatação. Os críticos do PS não têm condições favoráveis à contestação e o PSD vive o pior cenário para actuar como oposição.
Este panorama não é novo em Portugal. Aconteceu há bem pouco tempo, primeiro nos tempos áureos do Governo de Cavaco Silva e depois, durante menos tempo, nos primeiros anos de governação de António Guterres.
Aproveitei a citação de Alegre porque ela é de todo actual em tempo de eleições no PSD. Sou militante deste partido há muitos anos e partilho dos seus fundamentos há alguns anos mais. E, como militante, renovo nestes tempos a esperança de ver no meu Partido uma liderança forte, capaz de me fazer acreditar, de novo, que são os ideais relativos à pessoa humana e à sua vivência em sociedade que estão na base da acção política.
Existe uma dificuldade que só os militantes do PSD têm na altura de escolher um líder para o seu Partido. No seu subconsciente estão sempre duas referências, Francisco Sá Carneiro e Aníbal Cavaco Silva, que pelas suas virtudes e carismas tornam muito difícil a escolha de um novo líder. É impossível não fazer a comparação, pelo que, saímos sempre um pouco desiludidos com as novas escolhas.
A verdade é que, apesar das suas competências, os últimos eleitos nunca satisfizeram as nossas ambições. E o PSD é assim, vive muito do seu líder, do seu carisma em especial.
Que dizer então do próximo acto eleitoral no PSD e dos candidatos que se perfilam?
A primeira observação refere-se à vontade de ir a votos. A ideia que transparece é que ainda é cedo. Há mais dois anos de oposição pela frente. Talvez daqui a um ano a vontade de ser candidato seja maior.
Marques Mendes leu bem esta realidade. Sabendo da pouca vontade dos seus “incógnitos” opositores internos obrigou-os a decidir: ou revelam-se agora ou esperam mais dois anos!
Filipe Menezes viu-se numa encruzilhada. Foi ele que deu a cara como oposição interna e, sabendo que este talvez não seja ainda o timing certo para si, foi obrigado a decidir.
Há ainda um terceiro candidato cujo o impacto no resultado final me parece ser reduzido.
Marques Mendes foi, para alguns, uma desilusão.
Não partilho desta ideia mas reconheço que faltou alguma coisa. As condições foram complicadas. Até se obtiveram algumas vitórias (nas autárquicas, por exemplo). A comunicação social nunca rumou a nosso favor, é certo. Mas alguma coisa faltou. Houve falhas imperdoáveis sob o ponto de vista de visão política (esta da Câmara de Lisboa foi uma delas!). O Governo esteve sempre muito à vontade para fazer o que bem entendeu. A Democracia ficou a perder e a nossa vontade participar é cada vez menor.
O próprio partido não recuperou de certos vícios que o enfermam. O aparelho, nacional ou local, deixa pouco ou nenhum espaço para a discussão do que é importante. Onde está a abertura à sociedade? Revejo-me cada vez menos nos que suportam ou fazem parte desse aparelho e, com isso, esqueço os princípios e as ideologias que me fizeram dar a cara por este Partido. Dou por mim a questionar o papel dos partidos no actual sistema político. Farão ainda sentido? Se não são os ideais que nos unem o que nos unirá então? O que justifica sermos Partido?
Uma liderança com Luís Filipe Menezes é difícil de perspectivar.
Um olhar pela história leva-nos ao congresso em que proferiu as célebres palavras “sulistas, elitistas e liberais” que o remeteram a uma clausura que só em termos regionais lhe permitiu alguma liberdade. Neste Portugal a duas velocidades, talvez façam mais sentido hoje essas palavras do que na altura em que foram proferidas, mas o certo é que elas podem ainda continuar a fazer mossa. Uma das questões que se põe em relação a Menezes é se ele conseguirá projectar para o plano nacional a sua imagem regional.
Outra é aquela que se relaciona com questões antigas dentro do próprio PSD-Porto. Não esqueçamos as divergências em relação ao próprio Rui Rio.
Mas Menezes tem três trunfos muito importantes. Um, é a obra feita em Vila Nova de Gaia. Outro, é a sua habilidade política em termos de movimentação dentro do aparelho partidário. E depois ainda há o descontentamento com a actual liderança.
Outro aspecto que parece ser possível adivinhar é que, com Menezes à frente, o PSD vai fazer muito mais barulho. Vai aborrecer mais o Primeiro-Ministro porque não vai estar calado nem embarcar nos apelidados pactos de regime que outra coisa não são do que um modo hábil de calar a oposição.
Olho os que se perfilam para serem líderes do PSD e surge, porque comparo, aquela sensação de vazio, aquela insatisfação que só o militante do PSD conhece e que atrás relatei. Recordo novamente os tempos em que acreditava!
Daqui até Setembro gostava que mais alguém ousasse candidatar-se. Não acredito que tal vá ocorrer, mas gostava.
Quem? Não sei.