quinta-feira, 21 de junho de 2007

Julgar os outros

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Esta coisa da opinião é tramada. Nós temos o condão de julgar qualquer pessoa, independentemente da profundidade do conhecimento que dela temos.
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Aprendi, há muitos anos, que este acto, de avaliar os outros, é perigoso. Essa foi a razão primeira porque decidi não prosseguir para o CEJ – Centro de Estudos Judiciários, quando concluí a licenciatura. É que quem faz qualquer dos cursos daquele Centro decide sobre a vida das pessoas, julgando-as. Nunca o quis fazer.
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Muitas vezes me questionaram – sobretudo Alunos da disciplina de Direito – se o advogado não o fazia também, julgar o cliente, para melhor o defender. Sempre respondi que tal não tinha que acontecer, forçosamente. A obrigação do defensor é só essa – defender, o melhor possível, quem está em dificuldades. Mas não julgar a pessoa; isso é função do juiz. Só assim um advogado conseguirá defender uma pessoa acusada de crime hediondo. Se a julgasse, certamente não conseguiria desempenhar a sua função (defender o acusado), de forma adequada, em muitas situações.
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Também na vida nos confrontamos com outra(s) pessoa(s) e, porque somos como somos, regularmente opinamos quanto à sua personalidade ou, mais comezinhamente, quanto à sua “maneira de ser”.
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Considero que, quase sempre, o fazemos razoavelmente bem. O que pensamos do outro é aquilo que o tempo vem confirmar. Mas quando assim não é, não estamos a ser, “apenas”, injustos. Podemos causar danos mais ou menos extensos, que perdurarão também mais ou menos, no tempo.
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Esta forma de estar (mais do que de ser, por ser construída e implicar o que faço publicamente) obriga-me a reservas que outros não têm. Mas limita-me a expressão. De facto, até neste âmbito (blogosfera) esse é um acto tentador.
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Registo isto por duas razões, que passo a explicitar:

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- Porque quero que outros entendam os motivos que me levam a tecer os comentários à tutela, normalmente críticos, mas que muitos apelidam de “brandos” ou de “comedidos”, como se isso fosse defeito.
Pois até poderá parecê-lo, poderá. Mas eu penso exactamente o contrário.
Conheço algumas pessoas que são responsáveis pela educação, do país ou da região norte, onde exerço funções. Conheço-as mal (poucos e apenas formais encontros aconteceram, desde que assumi a gestão de Escolas) e não sou capaz de ajuizar como se as conhecesse há muito, de forma íntima e completa. Conheço-as, ainda assim, melhor que muitos que me rodeiam e as criticam, por vezes duramente, que nem sequer com elas falaram, uma vez que fosse. Estou absolutamente convencido que estou mais informado do que muitos deles, e que a opinião que vão formulando, sendo mais afirmativa, não é melhor que a minha. Acredito, até, que é um pedaço pior.

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- Por outro lado, porque se registam movimentos de apoio ao senhor A e ao senhor B, que podem estar, neste momento, a sofrer as consequências de não serem “comedidos”, tendo mesmo sido, em alguns casos, ofensivos para com outro(s).
São movimentos de cariz afectivo, reacções de ordem sentimental, que se suportam em análises muito pouco racionais. Apetece-me estar ao seu lado – mas fico tolhido pelas reservas que me afectam.
Quem ofendeu e não cuidou de respeitar o(s) outro(s), só deve ter apoio se comprovar que tinha razão no que disse - e se o outro não merece respeito e não pode ser ofendido (na medida em que é verdadeiro aquilo que, só sendo mentira seria ofensivo ou desrespeitador).

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Parece-me difícil que apelidar outro de filho de alguém que é protótipo da desonra seja comprovado como verdadeiro, no local adequado. Neste caso, e se assim foi (porque duvido sempre do que não conheci directamente), quem apelidou com maldade merece que lhe aconteça algo similarmente mau (ainda que isso me custe no plano dos sentimentos, porque a minha costela de subordinado tenta sempre colocar-me ao lado dos que estão sujeitos à autoridade). Os danos que causou, na pessoa visada, devem ser reparados, indirectamente que seja. Não tenho dúvidas.

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Já quanto a quem usa meios de divulgação massiva, potenciadora de espalhar rápida e alargadamente boatos difamatórios, tem que comprovar que não são boatos, que é verdade tudo o que afirmou, sob pena de ter que ser penalizado pelo que fez. Tudo o que afirmou, sendo falso, teve como consequência causar prejuízos, pelo menos na imagem da pessoa que queria atingir. Ah, então deve pagar por isso. Aqui, nem sequer tem a minha simpatia. Qualquer um de nós pode ser atingido desta forma, se não existir mecanismo dissuasor destas práticas. Tão simples quanto isto.

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1 comentário:

Eu disse...

Nem mais... Completamente de acordo!