quarta-feira, 23 de maio de 2007

O intolerável continua a ser admissível?

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Sobre este assunto, é melhor ser comedido. É o que deve fazer quem

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Analisa matérias que até pode dominar;
Aprecia assunto que desconhece;
Entra nos estranhos terrenos da “partidarite”, que a vida foi descascando;
Assume, por princípio, não julgar os outros pela prática de um acto, ainda menos quando nem sequer tem a certeza da real existência desse acto.

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Por outro lado,
Conhece uma prática nova, não obstante já repetida;
Não regista exemplo de coragem pessoal;
Observa, sem dúvida, vontade em alcançar mais do que foi solicitado;
Anota a constante vitimização, face a todos os outros;
Ouve discursos que culpabilizam, sempre, aqueles com quem se trabalha;
E constata que a estratégia do conflito não abranda, sequer.

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Ainda,
Gosta de opinar;
Sente a profissão e os colegas;
Está cansado de servir de almofada;
Não entende o raciocínio de quem está na tutela;
Prefere falar a calar;
E, à semelhança doutros, que também o vão dizendo, não está para tolerar o intolerável.
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Concretizo: sei lá o que fez ou disse o homem! Sei que devia cuidar do que diz, como todos o devemos fazer. O que se não pode é confundir declarações jocosas (que o Direito considera irrelevantes) com a prática de ilícito disciplinar e, neste caso concreto, criminal – porque o caso foi comunicado ao Ministério Público. Alguém exagera no que diz, ou minimizando, de forma impossível, para se desculpar, ou amplificando sem regra, para justificar uma acção.

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Sei que a militância partidária potencia a estupidez – vejo isso com muita regularidade. O militante típico considera-se melhor que os outros e, sobretudo, melhor que os do outro partido. Neste caso, esta característica pode estar presente. O meu problema é que não sei se está ou onde, por desconhecer os factos.

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Sei o que cada um deve fazer na relação com o outro: deve começar por respeitá-lo. Deve desculpar a primeira asneira, se não for grave. Deve ser claro, quanto às regras que existem, essencialmente se as ditou. E deve medir, sempre, as consequências dos seus actos, antes de agir.

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Ora, também sei que afastar pessoas que incomodam é uma forma de agir, quando há poder, independentemente da qualidade pessoal ou profissional daquelas – basta ver as exonerações e as nomeações, vulgo dança das cadeiras, quando muda a chefia. Isso, pessoalmente, não me agrada.

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Não é a primeira vez que se recorre ao Ministério Público, para passar a responsabilidade. Acusar alguém de um crime, não se provando que ele existiu é, em si mesmo, um acto criminoso. Deduzo que comunicar um facto não seja qualificável da mesma forma. Não, não me agrada.

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Sempre que a decisão tem que acontecer e é custosa, em termos de opinião pública (não dos afectados, que não contam), é “chutada” para os outros. Nunca as Escolas, ou as suas Assembleias, tomaram tantas decisões sobre a sua existência ou o seu futuro. Isto, assim, de repente, não me agrada.

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Tenho reparado (acho que temos todos) que o que se alcança, nos resultados mais angustiantes para as pessoas, tem sido, regularmente, em dimensão muito superior ao que se esperava – muitíssimo mais do que os parceiros conseguem, noutras regiões! Hum, continua a não me agradar.

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Já o discurso entra, regularmente, pela incompreensão dos outros, os sacrifícios que são feitos em prol dos ingratos, que respondem sempre de forma agressiva e injustificada, com manifestações ou greves, que são empoladas por quem está sempre pronto a atacar as bondosas almas que gerem os destinos alheios! Até percebo isto, estou fartinho de levar com estes agentes divulgadores da culpa (nunca lobrigada nos próprios). É, não me agrada nada, também.

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Aprendi, há já alguns anos, a importância dos conflitos para iniciar processos de mudança. Descobri que não funcionam muito bem para continuar esses processos. Tenho a certeza que, a manterem-se em níveis elevados, acabam por destruir todas as virtualidades que poderiam ser atingidas, com a mudança pretendida.

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A Escola Pública mudou. Já senti a melhoria que essa mudança proporcionou. Começo a sentir que isto pode vir a acabar mal. Isso não me agrada, mas não me agrada mesmo nada.
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3 comentários:

pandacruel disse...

Zé Maria: para ti não acaba mal, que és comedido. Para outros, direi que o óptimo é inimigo do bom. Vão rolar cabecitas, mas não cabeças. Na tua terra as abóboras têm estágio no telhado. Não vá o diabo tecê-las, digo que isto foi escrito há mais de mil anos por...mim, no tempo da democracia antiga.

piupardo disse...

Percebi. Mas eu é que sou comedido? Abóboras a estagiar no telhado? É, percebi.

Anónimo disse...

Eu hoje estou muito “provérbial” e como és um bom entendedor meia palavra basta para comentar este post. Em certas situações, e muitas delas descritas neste post, não há melhor provérbio do que o de Palavras loucas, orelhas moucas.