quinta-feira, 6 de setembro de 2007

De repente, pode o mundo desabar?

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Quando a ministra anunciou, com ar sério e compenetrado, que os problemas da educação eram responsabilidade directa dos Professores e, sobretudo, da sua progressão na carreira, que assentava no tempo de serviço e não no mérito, os atingidos, duma forma mais ou menos generalizada, sentiram-se ofendidos e injustiçados.

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Quando a mesma personagem publicitou a solução encontrada, que passava pela divisão da classe (se existe tal arranjo profissional) em dois níveis hierárquicos, surgiu a indignação. Todos foram, eram e seriam, até ao fim, apenas e só Professores - significando este só uma imensidade!

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No momento em que concretizou a medida, já a responsável principal pela Educação respirava satisfação. Era notório, como se confirmou no concurso de candidatura a Professor Titular, que a possibilidade de se erguer a esse patamar era mais do que lisonjeador para os interessados. Nem importava que o tempo de serviço (aquele factor tido como maléfico) fosse o factor mais relevante para lá chegar! Era um objectivo essencial, fundamental, que não podia ficar deserto, sob pena de não se integrar o reduzido número de eleitos, onde ficaria a nata do professorado.
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Foi um corre corre, em que não deixei de correr correr também. Os que sabiam que iam ser, os que achavam que tinham possibilidades, os que só tinham algumas expectativas e até os que sabiam que não iriam lá chegar perfilaram-se e candidataram-se. Fizeram contas, para si e para os directos competidores, procurando descobrir ou certificar a sua posição. Trabalharam para outros menos aptos em contas, para os ajudar no mesmo objectivo.
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O tempo de espera foi miudinho, em termos de nervoso, de esperança ou de crença – que os milagres não deixam de acontecer.
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No dia em que os resultados do concurso foram divulgados, havia muitos mistos – de satisfação com alguma modéstia ou indiferença no semblante, para os escolhidos; de resignação, com alguma inveja ou desdenha, nos relegados para a condição do que sempre foram – Professores.
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Vieram as férias e algum descanso, também na inchadura do peito.
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Agora regressa-se à função e, subitamente, de forma inesperada, como um murro nos olhos ainda mal abertos, despertam todos para a realidade.
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Os Professores com a confirmação de estarem condenados a (con)viver com um patamar demasiado alto para lá se acoitarem, ocupado por gente que, tendo sido par, agora é algo mais. Percebem que alguns cargos, que ocuparam com gosto e com profissionalismo, está nas mãos doutros, que nunca os quiseram e que, em muitos casos, os não merecem; sentem-se, sobretudo, sufocados.
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Os titulares com a descoberta, dorida, que os cargos que vão ter que desempenhar são, normalmente, mais, muito mais do que aquilo que gostariam de ter. Sentem que lhes foi feita uma proposta enganadora, que aceitaram sem a antecipar as consequências. Tudo lhes cai nos ombros. Responsabilidade, trabalho, ocupação e deveres são como as estrelas, frios e incontáveis. Coordenar grupos de pessoas, acompanhar percursos escolares, preparar e aplicar instrumentos, equipamentos, estratégias e planos, avaliar e reformular, contactar e assumir, tudo lhes cabe.
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De repente, muito de repente, um sorriso perpassa pelos lábios dos que, querendo lá chegar e não o conseguindo, não estão lá. Não lhes cabe fazer, não lhes compete desempenhar, não vão ter a maçada … que está reservada aos que lá chegaram. Os que estavam (sempre) dispostos a aceitar, ficam do lado de cá do peditório. Os que não olhavam sequer para a sacola, agora seguram-na e não conseguem libertar-se dela. O seu mundo trancou-se, ruiu, esfarelou-se.
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O respirar fundo surge do lado dos que não se sentiram bem, no processo de selecção. Pelo menos, por agora. Porque o tempo, esse velho senhor, não costuma passar sem deixar os seus sulcos bem marcados. Apresentar-se-á a todos, permitindo aos que agora sentem a solidão das alturas perceber o perfume do poder; e aos que sorriem face ao desconforto daqueles, a movimentação para os alcançar. O mundo pode desabar, mas recompõe-se rapidamente.
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