sábado, 7 de abril de 2007

Cumprir Abril


O país está em ebulição. A licenciatura do Primeiro-ministro é motivo de primeira página em qualquer jornal que se preze. A U.I. (leia-se Universidade Independente) está em risco de fechar e compete com o diploma, nas manchetes (palavra tremenda, faz lembrar algo um pouquinho sujo, a precisar de limpeza, ainda que superficial).
Para além destas, as novas são a de um carro que caiu ao Douro (ou lançou-se, de acordo com algumas versões), de mais uns mortos em acidentes de viação e, ainda, assaltos com violência.
Isto podia preocupar-me, mas não. Se as notícias são estas, bem vamos (não sei é qual o destino).
As notícias de mais desempregados são remetidas para pequenos nichos interiores, lado a lado com a questão do défice (deixou de ser problema, aparentemente, já que se brada por descida de impostos).
Os problemas da Saúde só são relevantes quando o Ministro faz asneira (graças a Deus, ele não se faz rogado nesta matéria).
As questões da Educação nem notícia são. Pelo menos, há um ganho, aqui. Significa, penso eu, que a Sra. Ministra começa a alterar a sua estratégia para melhorar os resultados. Já não bate nos Professores, ou não o faz com tanta força. Deve estar a analisar o comportamento dos seus substitutos nesta forma de resolver problemas, os pais de alguns alunos.
A Justiça e a Segurança passam ao lado das novidades (um lado bem escondido, de certeza, tantos são os problemas que aí se vivem).
Assim sendo, tudo vai bem neste país. Eu é que vivo algo mal. Não quero saber da licenciatura do Primeiro-ministro, incomoda-me muito mais o que ele vai fazendo, com ou sem diplomas. Quero lá saber da U.I. (bom, para ser sincero, interesso-me o suficiente para sentir que as coisas não vão bem, quando responsáveis por uma Universidade, Reitores, Vice-reitores ou ex-reitores, que sempre considerei como pessoas de formação elevada, bem mais superior que as instituições que dirigem, em vez de se calarem quando fazem asneiras, aparecem na televisão a lavar roupa suja, sem qualquer pudor). Quanto aos assaltos, mortos na estrada ou no rio, interesso-me residualmente. O suficiente para assobiar para o lado, quando as alterações aos códigos (penal e da estrada) são apresentadas como visando a diminuição da criminalidade ou da sinistralidade. Que treta. Quando os resultados são aceitáveis, todos enchem o papo e botam faladura. Quando, como agora, são maus, péssimos mesmo, ninguém os ouve.
Problemas em Portugal? Um é mais importante que todos os outros. Não há diferença nenhuma, rigorosamente nenhuma, entre quem está no poder e quem se perfila o assaltar. São exactamente iguais. No poder, tudo é defensável, da mesma forma que o outro o fez. Na oposição, tudo é criticável, como antes tinha sido.
Querem exemplos (difícil, difícil é não os encontrar …)?
As alterações ao Código do Trabalho, o projecto da OTA, a avaliação dos funcionários do Estado, o quadro dos excedentes, o TGV, os exames, a mobilidade, a corrupção no futebol, as restrições salariais, o aumento dos impostos … chega, não é?
Continua a faltar cumprir Abril. Todos os dias. Toda a gente. Em tudo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Se não há diferença nenhuma, rigorosamente nenhuma, entre e... entre (ver texto), então isto está num caldinho pré-revolucionário. Na verdade não é assim, muito menos no agora que passa. Algo de novo está a acontecer, derivado ao apodrecimento das situações. Muito do facilitismo - que é base da necessidade premente de construção de estatísticas que nos alcem a padrões europeus - está gizado como o factor de maior corrosão do que devia ser belo, nobre e simples. Que fazer? Nada.
É claro que o excesso rabelesiano de que está a ser «vítima» o PM prefigura um país de bandalhos - toda a malta bate no ceguinho. Se fosse no tempo de defender a honra à espadeirada, teríamos duelo. Se, a seguir a isto, vem um bloco central patrocinado pelo velho PR, estamos aviados. O melhor é ficar um governo de gestão durante uns meses, com Sócrates a gramar, calado, e com poderes limitados - não por causa dele, que é «bom- tipo-então-não-é», mas por causa daquelas capatazas que fazem mal aos seus «irmãos» de forma cínica e bacoca, lançando «leis» que se erguem já como batatas quentes nas mãos de quem vier a seguir - mas que adianta pensar as coisas? Afinal «a carne é fraca». SC

mesjag disse...

Falas do mesmo que eu. Do que, realmente, nos preocupa. Não é a Democracia que está em causa, são os seus actores. E nesta peça o povo é mero figurante. Só aparece quando vota. E são cada vez menos os que querem ser figurantes. Olhe-se para a abstenção. Portanto, quem está em causa são os actores principais (Governantes) e os secundários (Oposição). Deixamos de lhes reconhecer qualidade e para muitos olhamos com desconfiança. Que fazer? Será que já não é à política que compete o governo da "cidade"? Mas então a quem competirá?