sábado, 29 de março de 2008
Escola, para onde vais?
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Ouvi hoje. Mais que uma vez, de mais do que uma pessoa. A Escola é o reflexo da sociedade. Por causa da cena no Carolina Michaelis.
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Mas isso não é verdade. É um rosto, pequenino, da verdade. E esta, para o ser, tem que mostrar todos os ângulos, todos os lados, todas as faces. Uma meia-verdade nunca é a verdade.
Mas isso não é verdade. É um rosto, pequenino, da verdade. E esta, para o ser, tem que mostrar todos os ângulos, todos os lados, todas as faces. Uma meia-verdade nunca é a verdade.
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O que se pede à Escola, para além da reprodução social, é que actue de forma transformadora.
O que se pede à Escola, para além da reprodução social, é que actue de forma transformadora.
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Que trabalhe valores, princípios, regras. Que os inculque nos jovens, sobretudo naqueles em que a família não consegue fazê-lo. Que o respeito, a solidariedade, o civismo, a democracia, a igualdade, a não-violência sejam mais do que palavras, tenham significado real. Que sejam exercidos, treinados, aplicados no dia-a-dia. E porque vivemos um tempo em que os não sentimos, trabalhá-los é (tentar) transformar o mundo.
Que trabalhe valores, princípios, regras. Que os inculque nos jovens, sobretudo naqueles em que a família não consegue fazê-lo. Que o respeito, a solidariedade, o civismo, a democracia, a igualdade, a não-violência sejam mais do que palavras, tenham significado real. Que sejam exercidos, treinados, aplicados no dia-a-dia. E porque vivemos um tempo em que os não sentimos, trabalhá-los é (tentar) transformar o mundo.
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Que a Escola promova a saúde, lute contra dependências, exageros, defenda uma alimentação saudável, a vida organizada em torno da actividade física, a higiene e a segurança nos procedimentos, a protecção face às doenças. E porque a rotina diária convida ao risco, ao exagero, ao sedentarismo, actuar com este fito é (tentar) mudar o mundo.
Que a Escola promova a saúde, lute contra dependências, exageros, defenda uma alimentação saudável, a vida organizada em torno da actividade física, a higiene e a segurança nos procedimentos, a protecção face às doenças. E porque a rotina diária convida ao risco, ao exagero, ao sedentarismo, actuar com este fito é (tentar) mudar o mundo.
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Que também promova a segurança rodoviária, combata a sinistralidade nas estradas, crie hábitos que mudem a atitude no condutor. Se considerarmos a quantidade de acidentes, mortes e agressividade que registámos, então a Escola quer (tentar) remodelar o mundo.
Que também promova a segurança rodoviária, combata a sinistralidade nas estradas, crie hábitos que mudem a atitude no condutor. Se considerarmos a quantidade de acidentes, mortes e agressividade que registámos, então a Escola quer (tentar) remodelar o mundo.
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Ainda, que desenvolva capacidades, talentos, saberes que estão latentes nos jovens, e os publicite. Tendo como pano de fundo o egoísmo extremo, a promoção da fama efémera e o fecho das portas da oportunidade aos mais novos, então estamos a (tentar) modificar o mundo.
Ainda, que desenvolva capacidades, talentos, saberes que estão latentes nos jovens, e os publicite. Tendo como pano de fundo o egoísmo extremo, a promoção da fama efémera e o fecho das portas da oportunidade aos mais novos, então estamos a (tentar) modificar o mundo.
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Podia continuar, com o desafio da delinquência, do crime, da falta de formação profissional, muitos outros combates que a Escola tem que assumir. Mas vou ficar por aqui. Porque isto conduz, ao mesmo tempo, à razão que a impede de transformar o mundo. Enquanto se pede tudo isto à Escola, não se faz o mesmo junto dos outros agentes de socialização, sobretudo da família. E, assim, a missão que a Escola aceita, com toda a naturalidade, consome-lhe tempo, energia, recursos. Não consegue, sequer, concretizar a reprodução social e a transmissão dos saberes. Pode mesmo tornar-se subversiva, sem conformação ideológica. Este é o perigo maior, da Escola actual.
Podia continuar, com o desafio da delinquência, do crime, da falta de formação profissional, muitos outros combates que a Escola tem que assumir. Mas vou ficar por aqui. Porque isto conduz, ao mesmo tempo, à razão que a impede de transformar o mundo. Enquanto se pede tudo isto à Escola, não se faz o mesmo junto dos outros agentes de socialização, sobretudo da família. E, assim, a missão que a Escola aceita, com toda a naturalidade, consome-lhe tempo, energia, recursos. Não consegue, sequer, concretizar a reprodução social e a transmissão dos saberes. Pode mesmo tornar-se subversiva, sem conformação ideológica. Este é o perigo maior, da Escola actual.
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Outra coisa: não dramatizem nem branqueiem a indisciplina na Escola. Não crucifiquem nem martirizem os actores. Esta geração não é muito diferente da anterior nem o será relativamente à que aí vem. Para confirmar, puxem pela memória e esperem alguns anos. Depois conversamos.
Outra coisa: não dramatizem nem branqueiem a indisciplina na Escola. Não crucifiquem nem martirizem os actores. Esta geração não é muito diferente da anterior nem o será relativamente à que aí vem. Para confirmar, puxem pela memória e esperem alguns anos. Depois conversamos.
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quinta-feira, 27 de março de 2008
segunda-feira, 24 de março de 2008
Unhadas no Bairro das Condominhas
Dadas, supostamente, por uma docente na flor da idade, há uns cinco anos, a par de mão relativamente pesada sobre a zona da cabeça de crianças - e não aceitou o acordo que consistia num mero pedido de desculpas aos pais - li, reli e quase não acreditei, no Jn de hoje. Como o assaunto está em tribunal e o julgamento - se bem interpretei - decorre, nada a acrescentar, a não ser o facto de os alunos terem sido «todos» transferidos e de a docente que tomou conta deles tesmemunhar reacções de medo pelo menos num deles. A par disso, vem uma investigadora UM a aconselhar cautelas e caldos de galinha, tudo relacionável, pela mão de quem escreve, com o caso Carolina.
Quem anda pelas escolas sabe que a vida não se faz de epifenómenos. Sabe, mais: que, por mais que se apresente o bom e o mau, o cerne do escolar deixou de ser, há muito, o ensino puro e duro, o que, naturalmente, nos empobrece a todos. Como se há-de saber matemática? Os assuntos são aligeirados, no geral assim recomendam as boas práticas, usos e costumes. Há momentos, em todas as disciplinas, em que o aligeiramento de certos aspectos capitais é fatal para o aprender e progredir; é preciso ir ao tutano, perceber bem, exercitar melhor.
Se os normalmente ambiciosos programas forem para cumprir na íntegra e se disso se vier a pedir contas que vão para além do exame - que vale 30%, ou por aí - bom, o desastre é maior do que aquele que vem sendo apontado. Como sair disto? Julgo que só tornando público o que se faz e não faz nas escolas (públicas). Só que tudo isto é como os mortos ignóbeis que Felícia Cabrita vem, hoje, levantar, também no JN, que começaram - quem diria - logo nos anos 50 XX, em São Tomé - isso não interessa à maioria desvendar, nem brancos nem pretos. Os brandos costumes não fazem forte a fraca gente mas ajudam a passar, o que é preciso, afinal, é... passar.
Quem anda pelas escolas sabe que a vida não se faz de epifenómenos. Sabe, mais: que, por mais que se apresente o bom e o mau, o cerne do escolar deixou de ser, há muito, o ensino puro e duro, o que, naturalmente, nos empobrece a todos. Como se há-de saber matemática? Os assuntos são aligeirados, no geral assim recomendam as boas práticas, usos e costumes. Há momentos, em todas as disciplinas, em que o aligeiramento de certos aspectos capitais é fatal para o aprender e progredir; é preciso ir ao tutano, perceber bem, exercitar melhor.
Se os normalmente ambiciosos programas forem para cumprir na íntegra e se disso se vier a pedir contas que vão para além do exame - que vale 30%, ou por aí - bom, o desastre é maior do que aquele que vem sendo apontado. Como sair disto? Julgo que só tornando público o que se faz e não faz nas escolas (públicas). Só que tudo isto é como os mortos ignóbeis que Felícia Cabrita vem, hoje, levantar, também no JN, que começaram - quem diria - logo nos anos 50 XX, em São Tomé - isso não interessa à maioria desvendar, nem brancos nem pretos. Os brandos costumes não fazem forte a fraca gente mas ajudam a passar, o que é preciso, afinal, é... passar.
sexta-feira, 21 de março de 2008
Na ordem do dia
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Vou tentar cumprir o meu voto de "não comentar" o vídeo da vergonha. É apenas um registo do que acontece nas Escolas. Mas nas Escolas há mais (muito mais) que o que é mostrado. E há uma imensidão de coisas boas a acontecer todos os dias, a todas as horas.
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Por força deste meu voto, vou citar um autor de comentário, no referido vídeo:
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velhotriste (1 hour ago)
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Muito bem, é tempo de parar e pensar.
Muito bem, é tempo de parar e pensar.
1º Há que perspectivar as coisas. É um acto grave, violento, triste mesmo, mas não é (infelizmente) dos mais graves que acontecem nas Escolas! Por isso, vamos lá parar com essa coisa da expulsão. Se agredisse fisicamente, com violência, de forma a deixar marcas (também) físicas, que faziam? Condenavam-na à morte? Haja tento no que se diz ...
2º Já repararam que, neste caso, os pais são tão ou mais culpados que a jovem? Mas não há forma de os responsabilizar!
3º Os outros alunos da turma devem ser punidos? Penso que sim. Em última análise, eles permitiram que isto acontecesse. Salvem-se os que tentaram (ainda que muito pouco) evitar o caos ...
4º Se o que aconteceu é recorrente, então o Director de Turma, os outros Professores da Turma e a Direcção da Escola não estão isentos de responsabilidade. Há que os chamar a essa responsabilidade também.
5º O que fazer com a jovem em causa? Puní-la, claro, com o enquadramente que merece - e mantê-la na Escola, com outros a trabalhar com ela - psicólogos, sociólogos, assistentes sociais e outros, em função do que ela precisa. Rapidamente noutra turma ou mesmo noutra escola. Para a proteger também, que ela é demasiado jovem para ser "aniquilada".
6º A professora deve ser acompanhada, a partir daqui. A co-docência seria uma boa solução para o 3º período.
7º O que aqui se vê vai acontecendo, infelizmente. Não é caso único. Nem de agora. Mas também não é o dia-a-dia das Escolas. Não é notícia, mas é muito mais o que de bom se faz que este tipo de coisas más. Basta dar uma volta no Youtube para ver tanta coisa talentosa que acontece nas Escolas ...
Para concluir: NÃO LEVEM TELEMÓVEL PARA A ESCOLA! SE LEVAREM, DESLIGUEM AO ENTRAR NA SALA DE AULA. É tão importante não perturbar uma aula com o telélé como não gravar estas coisas. É que, de pois de as termos gravadas, a tentação de publicar é enorme ... e depois, ainda que se queira reparar o mal que causamos a tanta gente, já não conseguimos. Pensem nisto.
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Acrescento (lá se vai o voto ...), tomem em atenção a Escola onde isto aconteceu - o Carolina Michaelis é um Escola do centro da cidade do Porto, que não é constituída por alunos oriundos de bairros problemáticos ... tanto quanto sei!
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Outro dado relativo ao assunto - comunicado da CONFAP:
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O EXERCÍCIO DA DISCIPLINA EXIGE EDUCAR PARA A RESPONSABILIDADE
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A CONFAP condena todos os actos de indisciplina praticados por alunos nas escolas, tal como o que hoje foi dado a conhecer, ocorrido na escola secundária Carolina Michaelis, no Porto. Manifesta, igualmente, a sua solidariedade para com a professora e, simultaneamente, lança um apelo a todos os pais para que exerçam o seu poder paternal junto dos seus filhos, educando-os no sentido da responsabilidade e do comportamento que devem ter em sala de aula, o seu local privilegiado de aprender.
Apela-se aos pais, também, para que imponham regras muito firmes quanto ao uso de telemóveis pelos seus filhos. Muitos dos conflitos hoje existentes no interior das escolas devem-se ao uso indiscriminado de telemóveis.
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O resto do comunicado é pobre e "aproveitador" (ver aqui). Mas este início tem aspectos interessantes. Por exemplo, a questão do uso dos telemóveis. Parece-me perceber aqui uma certa "evolução", face à postura pública. Ou não ...
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E porque há mais (muito mais) nas Escolas, e muita coisa boa aí se faz, aqui vai um vídeo que já publiquei noutro blogue:
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Fragmentos
A docente chama-se J., está no topo da carreira e regressou este ano à escola, após vários anos a desempenhar funções como coordenadora do Parlamento Europeu dos Jovens.
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"a indisciplina na escola é natural, mas só até certo ponto".
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"Se não estiver na escola, a aluna estará na rua em perigo. As sanções a aplicar devem obedecer a uma estratégia de reinserção, levando-a a reflectir sobre a sua conduta".
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De uma vez por todas, é preciso agir com firmeza",
___________________________________________
In Jn on line, de hoje, a propósito do «caso Carolina»
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"a indisciplina na escola é natural, mas só até certo ponto".
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"Se não estiver na escola, a aluna estará na rua em perigo. As sanções a aplicar devem obedecer a uma estratégia de reinserção, levando-a a reflectir sobre a sua conduta".
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De uma vez por todas, é preciso agir com firmeza",
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In Jn on line, de hoje, a propósito do «caso Carolina»
quarta-feira, 12 de março de 2008
sexta-feira, 7 de março de 2008
Agostinho da Silva, Alvin/Heidi Tofller e pandacruel
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Duma publicação anterior, em que se falava de mudança nas Escolas (nas aprendizagens), onde se dizia, por exemplo:
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"Que o ano lectivo comece a três de Janeiro de 2009, para os alunos de seis anos que entrem no 1º Ano de escolaridade, iniciando-se aí novo calendário e novo modelo, a entrar progressivamente em vigor, a saber:
a) Não há princípio nem fim - tudo é sequência - urge romper com a «história» dos anos lectivos e, depois, com as turmas (repito: progressivamente). Já agora, arrume-se para um canto o toque e os tempos/dias da disciplina x ou y, digo eu ...
b)Os meses de exames serão, em princípio, e salvo melhor opinião, os de Janeiro e de Julho;
c) Neste modelo - que proponho - evidentemente que não há reprovações definitivas, pois a estrutura, próximo da modular, permite dar passos, grandes, médios ou pequenos", e permitirá, volto eu ao assunto, que a aprendizagem comande a instituição, e não, como acontece hoje, que a instituição determine tudo o que se aprende,
a) Não há princípio nem fim - tudo é sequência - urge romper com a «história» dos anos lectivos e, depois, com as turmas (repito: progressivamente). Já agora, arrume-se para um canto o toque e os tempos/dias da disciplina x ou y, digo eu ...
b)Os meses de exames serão, em princípio, e salvo melhor opinião, os de Janeiro e de Julho;
c) Neste modelo - que proponho - evidentemente que não há reprovações definitivas, pois a estrutura, próximo da modular, permite dar passos, grandes, médios ou pequenos", e permitirá, volto eu ao assunto, que a aprendizagem comande a instituição, e não, como acontece hoje, que a instituição determine tudo o que se aprende,
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Fui encontrar no Terrear um casal famoso que desenha algo similar ao proposto pelo pandacruel, sem o concretizar da forma que aqui foi feito. Vem-me à memória frases pouco batidas, mas reiteradamente proferidas, por um dos (poucos) pensadores descomprometidos que o século passado produziu.
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Agostinho da Silva também lutava contra a fábrica e propunha que formássemos poetas, criativos, lutando contra esta tendência louca de fazer mais do mesmo, com a estranha convicção que, assim, os resultados serão diferentes. Mas não serão, continuamos e continuaremos a formar as pessoas para uma profissão que não terão, no futuro. Para serem desempregados ... tristes, por não serem capazes de fazer outra coisa. 11 horas na Escola! Para o que caminhamos, minha gente!
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O vídeo não é curto e haverá a tentação de fazer zapping. Resistam-lhe e não se arrependerão.
O vídeo não é curto e haverá a tentação de fazer zapping. Resistam-lhe e não se arrependerão.
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Ah, e divirtam-se neste começo de semana.
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FAQ sobre Avaliação
Porque me apetece responder às “Perguntas frequentes e respostas sobre avaliação do desempenho de professores”, publicadas no site do Ministério da Educação (http://www.min-edu.pt/np3/1741.html) escrevo as minhas FAQ:
P: Porque é que um site institucional é instrumento de propaganda?
R: Porque é preciso recorrer a todos os meios para combater o inimigo: os professores.
P: Porque é que se avaliam os professores?
R: Porque é preciso garantir que eles trabalhem muitos anos a baixo custo.
P: Quem é que desenhou o anterior modelo de avaliação?
R: O anterior modelo de avaliação (que, afinal, e a julgar pela pergunta “P: Como era o anterior sistema de avaliação?” parece que sempre existiu!) inseria-se no antecedente Estatuto da Carreira Docente (ECD) e que foi aprovado em 1990 pelo XI Governo Constitucional. Era Primeiro Ministro Aníbal Cavaco Silva. Era Ministro da Educação Roberto Carneiro. O diploma foi promulgado pelo então Presidente da República Mário Soares. O ECD foi alterado em 1998 pelo XIII Governo Constitucional. Era Primeiro Ministro António Guterres. Era Ministro da Educação Eduardo Marçal Grilo. O diploma foi promulgado pelo então Presidente da República Jorge Sampaio. Ou seja, esse modelo de avaliação que não avaliava foi criado e reformulado por personalidades bem distintas do nosso país. Tais personalidades, refira-se, não eram professores (dos ensinos básico e secundário, entenda-se!).
P: Porque é que se alterou o sistema de avaliação sem ele ter sido avaliado?
R: Porque é prática habitual no sistema educativo em Portugal. As pessoas importantes (muitas delas que nunca deram aulas de uma forma sistemática) inventam umas coisas muito bonitas para os professores aplicarem. Estes, apesar de saberem que na maior parte dos casos aquilo é só teoria e mais papel preenchido, lá fazem as cambalhotas necessárias para as aplicar. Quando julgam que já começaram a entender-se com aquelas ideias brilhantes, surge novo normativo (mesmo a meio do ano lectivo!) a mandar fazer tudo de outra forma.
P: Porque é que rejeito quotas na avaliação?
R: Porque o mérito não está sujeito a vagas. Ou há mérito ou não há! Se há, porque é que ele tem que estar condicionado ao do parceiro? Será que no início do ano tenho que definir, em cada uma das minhas turmas qual é o número máximo de vintes que posso dar? Será que é preciso definir para cada exame nacional do 12º ano o número máximo de vintes que pode haver?
A resposta da página do Ministério da Educação a esta questão é fantástica! Dizem: “A experiência mostra que a inexistência de quotas na avaliação de desempenho resulta numa indiferenciação e em menor capacidade de reconhecer o mérito no interior de uma organização. Os exemplos dos antigos modelos de avaliação de desempenho dos funcionários públicos e dos próprios professores, em que a todos era atribuída a mesma classificação, são elucidativos.” A experiência mostra …! Mas qual experiência! Então e a argumentação científica? Não há? E a experiência citada é a do anterior sistema de avaliação! Claro que a avaliação ordinária não reconhecia mérito. As únicas menções possíveis eram o Satisfaz e o Não Satisfaz! Mas a avaliação extraordinária já permitia o Bom e até o Muito Bom. Então isto não era distinguir o mérito?
Só mais uma achega a esta coisa do mérito: percam algum tempo todos os dias e passem os olhos pelo Diário da República. Então se estivermos em final de mandato é uma maravilha. Louvores atrás de louvores. Aqui não há quotas. Nem para os louvores, nem para os que entram e saem.
P: Porque é que não quero avaliar nem ser avaliado pelos meus pares?
R: Porque um princípio básico para que a avaliação seja justa e imparcial é que avaliado e avaliador não possam estar em concorrência directa pela mesma posição ou objectivo. Vamos ser juízes em causa própria?
P: Porque é que rejeito que os resultados dos meus alunos tenham peso na minha avaliação?
R: Porque não é possível aferir, com rigor científico, qual é o grau de influência na aprendizagem de um aluno da prática lectiva do seu professor. Qualquer professor percebe isto: no mesmo ano lectivo temos duas turmas, do mesmo ano de escolaridade, na mesma escola. No entanto, o rendimento é diferente. Qualquer pai percebe isto: tenho dois filhos em idade escolar e o seu rendimento é bastante diferente. Um tem uma avaliação dentro dos padrões da escola que frequenta. Outro está a baixo desses padrões. Deverei, como pai, receber Excelente pelo primeiro e Insuficiente pelo segundo?
Isto incomoda-me! E mais me incomodará um dia se me vir tentado a inflacionar as notas que dou (e que julgo justas e merecidas) para as adequar aos indicadores de medida. Quanto mais penso nisto mais apoquentado fico: não será isto mais um modo de obter sucesso?
P: Como é que se consubstanciam a Ficha de Auto-Avaliação e a definição de objectivos individuais no resultado final da avaliação?
R: Não sei! Por favor, alguém explique.
P: Porque é que este novo processo de avaliação é uma trapalhada?
R: Porque há governantes que, para além de autistas, acham que têm sempre razão.
P: De quem é a culpa nesta confusão toda?
R: Minha não é. Não votei neles!
P: Porque é que um site institucional é instrumento de propaganda?
R: Porque é preciso recorrer a todos os meios para combater o inimigo: os professores.
P: Porque é que se avaliam os professores?
R: Porque é preciso garantir que eles trabalhem muitos anos a baixo custo.
P: Quem é que desenhou o anterior modelo de avaliação?
R: O anterior modelo de avaliação (que, afinal, e a julgar pela pergunta “P: Como era o anterior sistema de avaliação?” parece que sempre existiu!) inseria-se no antecedente Estatuto da Carreira Docente (ECD) e que foi aprovado em 1990 pelo XI Governo Constitucional. Era Primeiro Ministro Aníbal Cavaco Silva. Era Ministro da Educação Roberto Carneiro. O diploma foi promulgado pelo então Presidente da República Mário Soares. O ECD foi alterado em 1998 pelo XIII Governo Constitucional. Era Primeiro Ministro António Guterres. Era Ministro da Educação Eduardo Marçal Grilo. O diploma foi promulgado pelo então Presidente da República Jorge Sampaio. Ou seja, esse modelo de avaliação que não avaliava foi criado e reformulado por personalidades bem distintas do nosso país. Tais personalidades, refira-se, não eram professores (dos ensinos básico e secundário, entenda-se!).
P: Porque é que se alterou o sistema de avaliação sem ele ter sido avaliado?
R: Porque é prática habitual no sistema educativo em Portugal. As pessoas importantes (muitas delas que nunca deram aulas de uma forma sistemática) inventam umas coisas muito bonitas para os professores aplicarem. Estes, apesar de saberem que na maior parte dos casos aquilo é só teoria e mais papel preenchido, lá fazem as cambalhotas necessárias para as aplicar. Quando julgam que já começaram a entender-se com aquelas ideias brilhantes, surge novo normativo (mesmo a meio do ano lectivo!) a mandar fazer tudo de outra forma.
P: Porque é que rejeito quotas na avaliação?
R: Porque o mérito não está sujeito a vagas. Ou há mérito ou não há! Se há, porque é que ele tem que estar condicionado ao do parceiro? Será que no início do ano tenho que definir, em cada uma das minhas turmas qual é o número máximo de vintes que posso dar? Será que é preciso definir para cada exame nacional do 12º ano o número máximo de vintes que pode haver?
A resposta da página do Ministério da Educação a esta questão é fantástica! Dizem: “A experiência mostra que a inexistência de quotas na avaliação de desempenho resulta numa indiferenciação e em menor capacidade de reconhecer o mérito no interior de uma organização. Os exemplos dos antigos modelos de avaliação de desempenho dos funcionários públicos e dos próprios professores, em que a todos era atribuída a mesma classificação, são elucidativos.” A experiência mostra …! Mas qual experiência! Então e a argumentação científica? Não há? E a experiência citada é a do anterior sistema de avaliação! Claro que a avaliação ordinária não reconhecia mérito. As únicas menções possíveis eram o Satisfaz e o Não Satisfaz! Mas a avaliação extraordinária já permitia o Bom e até o Muito Bom. Então isto não era distinguir o mérito?
Só mais uma achega a esta coisa do mérito: percam algum tempo todos os dias e passem os olhos pelo Diário da República. Então se estivermos em final de mandato é uma maravilha. Louvores atrás de louvores. Aqui não há quotas. Nem para os louvores, nem para os que entram e saem.
P: Porque é que não quero avaliar nem ser avaliado pelos meus pares?
R: Porque um princípio básico para que a avaliação seja justa e imparcial é que avaliado e avaliador não possam estar em concorrência directa pela mesma posição ou objectivo. Vamos ser juízes em causa própria?
P: Porque é que rejeito que os resultados dos meus alunos tenham peso na minha avaliação?
R: Porque não é possível aferir, com rigor científico, qual é o grau de influência na aprendizagem de um aluno da prática lectiva do seu professor. Qualquer professor percebe isto: no mesmo ano lectivo temos duas turmas, do mesmo ano de escolaridade, na mesma escola. No entanto, o rendimento é diferente. Qualquer pai percebe isto: tenho dois filhos em idade escolar e o seu rendimento é bastante diferente. Um tem uma avaliação dentro dos padrões da escola que frequenta. Outro está a baixo desses padrões. Deverei, como pai, receber Excelente pelo primeiro e Insuficiente pelo segundo?
Isto incomoda-me! E mais me incomodará um dia se me vir tentado a inflacionar as notas que dou (e que julgo justas e merecidas) para as adequar aos indicadores de medida. Quanto mais penso nisto mais apoquentado fico: não será isto mais um modo de obter sucesso?
P: Como é que se consubstanciam a Ficha de Auto-Avaliação e a definição de objectivos individuais no resultado final da avaliação?
R: Não sei! Por favor, alguém explique.
P: Porque é que este novo processo de avaliação é uma trapalhada?
R: Porque há governantes que, para além de autistas, acham que têm sempre razão.
P: De quem é a culpa nesta confusão toda?
R: Minha não é. Não votei neles!
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Avaliação,
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Política
domingo, 2 de março de 2008
Encontro da CONFAP
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3 protagonistas, 3 momentos do encontro:
O Dr. Albino Almeida e a preocupação com os dinheiros públicos ...
O Major Valentim Loureiro com o charme e o humor que o caracterizam ...
E a Sra. Ministra da Educação, depois de afirmar que prefere as coisas simples, a realçar o regresso à Escola de (mais) jovens.
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