sábado, 29 de março de 2008

Escola, para onde vais?

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Ouvi hoje. Mais que uma vez, de mais do que uma pessoa. A Escola é o reflexo da sociedade. Por causa da cena no Carolina Michaelis.
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Mas isso não é verdade. É um rosto, pequenino, da verdade. E esta, para o ser, tem que mostrar todos os ângulos, todos os lados, todas as faces. Uma meia-verdade nunca é a verdade.
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O que se pede à Escola, para além da reprodução social, é que actue de forma transformadora.
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Que trabalhe valores, princípios, regras. Que os inculque nos jovens, sobretudo naqueles em que a família não consegue fazê-lo. Que o respeito, a solidariedade, o civismo, a democracia, a igualdade, a não-violência sejam mais do que palavras, tenham significado real. Que sejam exercidos, treinados, aplicados no dia-a-dia. E porque vivemos um tempo em que os não sentimos, trabalhá-los é (tentar) transformar o mundo.
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Que a Escola promova a saúde, lute contra dependências, exageros, defenda uma alimentação saudável, a vida organizada em torno da actividade física, a higiene e a segurança nos procedimentos, a protecção face às doenças. E porque a rotina diária convida ao risco, ao exagero, ao sedentarismo, actuar com este fito é (tentar) mudar o mundo.
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Que também promova a segurança rodoviária, combata a sinistralidade nas estradas, crie hábitos que mudem a atitude no condutor. Se considerarmos a quantidade de acidentes, mortes e agressividade que registámos, então a Escola quer (tentar) remodelar o mundo.
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Ainda, que desenvolva capacidades, talentos, saberes que estão latentes nos jovens, e os publicite. Tendo como pano de fundo o egoísmo extremo, a promoção da fama efémera e o fecho das portas da oportunidade aos mais novos, então estamos a (tentar) modificar o mundo.
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Podia continuar, com o desafio da delinquência, do crime, da falta de formação profissional, muitos outros combates que a Escola tem que assumir. Mas vou ficar por aqui. Porque isto conduz, ao mesmo tempo, à razão que a impede de transformar o mundo. Enquanto se pede tudo isto à Escola, não se faz o mesmo junto dos outros agentes de socialização, sobretudo da família. E, assim, a missão que a Escola aceita, com toda a naturalidade, consome-lhe tempo, energia, recursos. Não consegue, sequer, concretizar a reprodução social e a transmissão dos saberes. Pode mesmo tornar-se subversiva, sem conformação ideológica. Este é o perigo maior, da Escola actual.
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Outra coisa: não dramatizem nem branqueiem a indisciplina na Escola. Não crucifiquem nem martirizem os actores. Esta geração não é muito diferente da anterior nem o será relativamente à que aí vem. Para confirmar, puxem pela memória e esperem alguns anos. Depois conversamos.
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