quinta-feira, 8 de maio de 2008

Interioridades de Veneza

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Veneza também passou por mim. Não registei o comum, antes o que está, sobretudo, nas ruas mais reservadas, com pouca (ou nenhuma) frequência turística.
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As Scuolas Religiosas, como a Scuola Grande di S. Rocco, que me atrevo a traduzir como sendo confrarias, foram-me apresentadas e explicadas.
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Das seis que dominaram o passado veneziano, a de S. Roque tornou-se a mais influente, por força da protecção que proporcionava - dizia-se - contra a peste, nos tempos em que este flagelo dizimou a cidade (com as condições de vida que caracterizavam esta urbe, não será difícil imaginar as proporções do desastre). Todos as Scuolas eram proprietárias de edifícios, que arrendavam aos interessados, e nos quais registavam, através de símbolos, os direitos que detinham.
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Veneza também tem algumas curiosidades, como acontece com esta frontaria que, não cabendo na parede, a rompe e invade o telhado. Deduzo que, tendo reparado tarde de mais que os projectos não correspondiam ao desejado, o arquitecto (ou engenheiro da Moderna?) resolveu o problema com alguma "criatividade".
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Aprendi, também, que os venezianos usam um dialecto próprio, que altera bastante a palavra (e a pronúncia) italiana. O mais conhecido termo de Veneza, em todo o mundo, é "ciao", que corresponde ao termo "schiavo", que significa escravo - um seu escravo, era a forma usada na despedida, lá como cá, mas os venezianos resolveram sincopar essa expressão da forma que todos sabemos (e que serve para um olá ou um adeus, conforme se chega ou se parte).
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Também a Praça de S. Marcos é a única praça, em Veneza. As dimensões mandam na designação, e o Campo é a praça menos ampla (como o Campo San Paolo), seguindo-se o campiello (provavelmente a nossa praceta), mais pequeno ainda, e outras designações do mesmo teor.
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Nos canais, uma rua (via) que seja paralela e acompanhe um canal chama-se "fondamenta", termo que os restantes italianos só conhecem se estudarem o assunto de forma mais aprofundada.
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Até em S. Marcos o pormenor foi o mais apreciado. Na Basílica, o facto de apenas a primeira decoração, em mosaico bizantino, ter sido construída nos primórdios do edifício (por volta de 1200), sendo os restantes muito posteriores, pode ser confirmado na própria imagem, que retrata a Basílica. Registe-se que se mantém, no essencial, o que está retratado, não tendo as posteriores alterado de forma marcante a estrutura e o aspecto.
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O caso dos cavalos de bronze, no alto da Basílica, também retratados na decoração atrás referida, que Napoleão "roubou" (como por cá, a pilhagem era a arte primeira dos invasores franceses), para já não falar da imposição na mudança de nome de muitos monumentos, podia ser só mais uma curiosidade partilhada por todos, mas a oportunidade permitiu perceber que, quanto aos cavalos, os venezianos também os "subtraíram", em Constantinopla, numa das vezes em que "por lá passaram". Como os Tretarcas, incrustado na parede, também tiveram proveniência similar ...
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O Doge, espécie de príncipe veneziano, vinha, regularmente, à varanda do seu Palácio Ducal (em S. Marcos), e discursava entre duas colunas de mármore rosa; no final, lançava algumas moedas ao povo (alguns soldi), para, dessa forma, demonstrar a sua "generosidade".
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Nos quatro cantos do Palácio Ducal, existem esculturas integradas nas esquinas que retratam temáticas bíblicas. O Julgamento do rei Salomão (conto que costumo usar, junto dos meus Alunos, para ajudar a perceber o conceito jurídico de equidade, ou seja, a justiça do caso concreto, que afasta a lei para possibilitar ao julgador uma decisão baseada na situação em apreço e na sua sabedoria, não no que está estabelecido nas regras) foi uma das mais interessantes.
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Termino com as pontes. Eram três, as mais importantes (pela dimensão e por serem as únicas que atravessam o Canal Grande, penso eu), agora acrescidas duma nova, obra de Calatrava (deduzo que seja aquela onde mais venta, se ele se mantiver fiel ao que costuma fazer), sendo a mais conhecida a de Rialto. Eu apreciei mais a da Academia, por ser de madeira e ter uma panorâmica deliciosa.
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A razão desta peculiar forma de ver Veneza assenta em duas pessoas que me fizeram o favor de serem meus amigos, e habitarem nesta espantosa cidade. Grazie Leonardo e Antonella (e Antonella e Fabrizzio, os seus consortes, que conheci e amei). Alla prossima.

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