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Não sei se o JN tem uma política de abertura ou de restrição à reprodução dos seus artigos.
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Duvido que a Autora tenha a segunda.
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Quero crer que me perdoa.
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Retirado do JN Electrónico, hoje, 10 de Dezembro de 2007, pelas 00h00
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Se repetirmos muitas vezes uma ideia, pode ser que ela se instale. E se formos muitos a dizê-lo ...
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Violência nas escolas
Alice Vieira, Escritora
Alice Vieira, Escritora
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Li num jornal que a senhora ministra da Educação está contente. E, quando os nossos governantes estão contentes, é como se um sol raiasse nas nossas vidas.
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E está contente porque, segundo afirmou, a violência nas escolas portuguesas, afinal, não existe.
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Ao que parece, andamos todos numa de paz e amor, lá fora é que as coisas tomam proporções assustadoras, os nossos brandos costumes continuam a vingar nos corredores de todas as EB, 2/3, ou como é que as escolas se chamam agora. Tenho muita pena de que os nossos governantes só entrem nas escolas quando previamente se fazem anunciar, com todas as televisões atrás, para que o momento fique na História. É claro que, assim, obrigada, também eu, anda ali tudo alinhado que dá gosto ver, porque o respeitinho pelo Poder é coisa que cai sempre bem no coração de quem nos governa, e que as pessoas gostam de ver em qualquer telejornal.
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Mas bastaria a senhora ministra entrar incógnita em qualquer escola deste país para ver como a realidade é bem diferente daquela que lhe pintaram ou que os estudos (adorava saber como se fazem alguns dos estudos com que diariamente se enchem as páginas dos jornais) proclamam. É claro que não falo daquela violência bruta e directa, estilo filme americano, com tiros, naifadas e o mais que houver.
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Falo de uma violência muito mais perigosa porque mais subtil, mais pela calada, mais insidiosa.
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Uma violência mais "normal". E não há nada pior do que a normalização, do que a banalização da violência.
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Violência é não saberem viver em comunidade, é o safanão, o pontapé e a bofetada como resposta habitual, o palavrão (dos pesados
) como linguagem única, a ameaça constante, o nenhum interesse pelo que se passa dentro da sala, a provocação gratuita ("bata-me, vá lá, não me diga que não é capaz de me bater? Ai que medinho que eu tenho de si
", isto ouvi eu de um aluno quando a pobre da professora apenas lhe perguntou por que tinha chegado tarde
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Violência é a demissão dos pais do seu papel de educadores - e depois queixam-se nas reuniões de que "os professores não ensinam nada". Porque, evidentemente, a culpa de tudo é sempre dos professores - que não ensinam, que não trabalham, que não sabem nada, que fazem greves, qualquer dia - querem lá ver? - até fumam
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Os seus filhos são todos uns anjos de asas brancas e uns génios incompreendidos.
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Cada vez os pais têm menos tempo para os filhos e, por isso, cada vez mais os filhos são educados pelos colegas e pela televisão (pelos jogos, pelos filmes, etc.). Não têm regras, não conhecem limites, simples palavras como "obrigada", "desculpe", "se faz favor" são-lhes mais estranhas do que um discurso em Chinês - e há quem chame a isto liberdade.
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Mas a isto chama-se violência. Aquela que não conta para os estudos "científicos", mas aquela da qual um dia, de repente, rompe a violência a sério.
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E então em estilo filme americano.Com tiros, naifadas e o mais que houver.
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Alice Vieira escreve no JN, quinzenalmente, aos domingos
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Atenção! Não creio que esta violência justifique a intervenção do Senhor Procurador da República - nisso estou ao lado da Ministra. Mas justificará a intervenção da responsável pela Educação no país. Não da forma como o tem feito, é claro. Não sei porquê, sinto arrepios ao pensar no conteúdo do novo Estatuto do Aluno. Espero não ficar com febre, quando o vir publicado. Porque decidi não me antecipar, nem sequer imagino como vai ser ... digo eu!
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