sábado, 25 de outubro de 2008

A crise, pois então!

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Arredio me encontrei tempo demais.
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Regresso, com saudade e com disposição.
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Vamos ao assunto do momento: a crise dos mercados financeiros. Vou tentar apresentá-la, analisar a forma como está a ser enfrentada e dar-vos uma ou duas versões do que penso relativamente ao assunto.
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Os mercados financeiros que colapsaram (nunca uma palavra utilizada por mim se adaptou tão bem ao tema) são os que vivem, sobretudo, nas Bolsas mundiais. Funcionam de forma estranha, para um velhote como eu - usam o dinheiro que lhes não pertence (por exemplo, o que eu deposito no banco para não estar a ganhar mofo em casa, ou que entrego ao Estado para fazer face às despesas públicas, seja através de impostos, de taxas, de contribuições ou empréstimos), investem em negócios que desconhecem por completo, não exigem qualquer garantia e esperam lucrar alguma coisa (esperar é a palavra correcta, já que as probabilidades de conseguirem esse lucro decorrem directamente da esperança, da fé, da crença no resultado).
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Não estão muito preocupados (os que decidem investir o dinheiro que lhes não pertence), porque recebem sempre muito dinheiro, lucrem ou não. São muito bem pagos para investir o dinheiro, não interessando o resultado desse investimento.
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Isto chegou a esta fase (de investirem dinheiro em negócios que desconhecem) porque a fase anterior, que estava ligada aos negócios que conheciam bem, já não tinha mais por onde crescer - já estava tudo feito, tudo investido, tudo conhecido, e o lucro era curto, por ser certo. Agora, só se inventassem negócios conseguiam maximizar os lucros - isso mesmo, em coisas tão obscuras que nem sequer existem. É o mundo virtual do seu máximo esplendor!
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De repente, quando lhes perguntaram pelo dinheiro e o foram procurar, verificaram que já não havia. Simples e claro (de repente, deixou de ser obscuro). Nada. Zero. Nem um tusto, como se dizia quando eu era um rapaz novo.
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Meu Deus, a crise, o crash, a bancarrota (aprendi, em Florença, na Ponte Vechio, que a palavra bancarrota nasceu aí - os comerciantes usavam uma banca, para os seus negócios e, quando faliam, os guardas dos Medici dirigiam-se a essa banca e, com os seus machados, partiam a banca, ficando a banca rota ...). Não há dinheiro! Os bancos estão descapitalizados (isto é, sem tusto), sem dinheiro.
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Os governantes, no mundo inteiro, alarmaram-se com as notícias e resolveram agir (ah, eles também fizeram o mesmo com parte do dinheiro que devem gerir, usaram-no da mesma forma, investiram nos novos negócios "virtuais" e, naturalmente, perderam esse dinheiro. Mas só foi uma pequena parte ...). Qual a solução que encontraram? Simples, vão dar dinheiro a esses bancos, para continuarem a fazer o que sempre fizeram - e que é, agora, investir nas bolsas, ou seja, nos negócios que não existem. Os bancos estavam descapitalizados. Os governos dão-lhes dinheiro e capitalizam-nos de novo. E os bancos vão continuar a fazer o que sempre fizeram.
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Bom, agora, as conclusões:
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A solução encontrada (recapitalizar os bancos) vai resolver o problema? Pelo menos, para já, os bancos vão ter dinheiro para continuar a fazer o mesmo. Daqui a uns tempos, logo se vê! É que isto de se fazer o mesmo e esperar que os resultados mudem é muito humano! Eu pensava que era muito português, mas enganei-me. É um princípio internacional!
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Porque demónio os governantes recapitalizaram os bancos, se estes só fizeram asneiras com o dinheiro e vão continuar a fazê-las? Ah, esta é bem mais fácil de entender que a anterior - Basta verificar quem está nos bancos, a fazer as asneiras. São, sobretudo, os anteriores governantes, já que, sempre que alguém sai de um ministério, vai gerir um banco (e outras empresas, é claro).
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Os actuais ministros não são burros, sabem bem o que vão fazer daqui a uns tempos. É preciso garantir esse futuro, não é?
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Este processo de actuação já tem designação, nascida da excelsa criatividade do Presidente francês - é a refundação do capitalismo! Nós, os que pouco ou nada percebem disto, fazemos o que eles, os que desperdiçam dinheiro, querem: mantemos o dinheiro nos bancos, para não criar o pânico!
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